O que Vera Magalhães escreveu sobre Bolsonaro

Vera nunca temeu Bolsonaro como uma ameaça concreta à democracia. No dia 21 de outubro de 2018, a colunista publicou o artigo que serve hoje como referência exemplar do que pensava na época

Moisés Mendes
Publicada em 01 de março de 2020 às 17:02
O que Vera Magalhães escreveu sobre Bolsonaro

"Vera somente virou desafeta da extrema direita no poder por ter divulgado que Bolsonaro se encarregou de passar adiante o vídeo com a convocação para as manifestações pelo fechamento do Congresso. Se não fosse isso, poderia ter continuado numa boa com a família", diz Moisés Mendes sobre o mal estar que Bolsonaro causou na jornalista Vera Magalhães

Jair Bolsonaro e Vera Magalhães (Foto: Marcos Corrêa/PR | Reprodução)

Vera Magalhães errou quase tudo o que escreveu sobre Bolsonaro no Estadão, a uma semana do segundo turno da eleição de 2018. Hoje, por finalmente ter acertado como jornalista, é considerada inimiga pelo pai e pelos filhos.

Vera somente virou desafeta da extrema direita no poder por ter divulgado que Bolsonaro se encarregou de passar adiante o vídeo com a convocação para as manifestações pelo fechamento do Congresso. Se não fosse isso, poderia ter continuado numa boa com a família.

Vera nunca temeu Bolsonaro como uma ameaça concreta à democracia. No dia 21 de outubro de 2018, a colunista publicou o artigo que serve hoje como referência exemplar do que pensava na época.

Vera comentava os receios em torno da figura de Bolsonaro e atribuía os medos com a possibilidade de eleição do candidato do PSL, a sete dias da eleição, a um "exagero proclamado em tom alarmista por eleitores do PT”.

Com uma análise genérica e precária do cenário naquele momento, a jornalista escreveu obviedades, como a possibilidade de ataques de Bolsonaro às instituições (até Alexandre Frota sabia que isso iria acontecer) e passou panos:

“Em relação ao Congresso, foi importante a declaração de Bolsonaro segundo a qual, se eleito, não procurará interferir na eleição dos presidentes da Câmara e do Senado, nem fará pressão para que o comando da primeira fique com seu partido”.

Mais adiante, escrevendo sobre o clima aguardado pelo jornalismo, ao invés de temer Bolsonaro, Vera disse temer Haddad:

“Por fim, se chega à relação com a imprensa. É louvável que ele tenha firmado por escrito no programa de governo o compromisso com a liberdade de imprensa – ao contrário de seu adversário, Fernando Haddad, cuja proposta fala textualmente em controle social da mídia”.

Vera Magalhães atacava Haddad porque torcia pelas iniciativas louváveis de Bolsonaro. Apesar de algumas restrições vagas, parecia acreditar em seus compromissos com as liberdades. Duvidava mesmo das intenções do candidato do PT. Hoje, o pai e os filhos atacam a comentarista do Estadão, enquanto a militância de extrema direita, incentivada pela família, invade sua vida pessoal.

O temor exagerado dos “eleitores do PT” era um alerta que a jornalista, sempre ao lado dos golpistas, não quis ver. Vera Magalhães e o Estadão são vítimas da criatura que ajudaram a inventar. A profissional não é heroína de nada, é apenas mais uma jornalista escolhida pelos Bolsonaros para levar pancadas.

Vera disse ter vomitado esta semana diante das declarações de Bolsonaro contra ela. Os ‘esquerdistas’ que a advertiam, lá na eleição, se também fossem tão sensíveis, poderiam ter vomitado muitas vezes lendo o que profissionais a serviço do golpe escreveram antes e depois da trama contra Dilma e Lula.

Um dos artigos que esses esquerdistas leram era aquele de 21 de outubro de 2018 que avisava no Estadão: não exagerem com o autoritarismo de Bolsonaro.

Hoje, temos o direito de implorar: não vomite em nossa memória, Vera Magalhães.

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