‘Olavo de Carvalho é um vigarista profissional’, diz Santos Cruz

Em maio passado, Olavo de Carvalho chamou Santos Cruz de “politiqueiro e fofoqueiro de merda”

Fonte: Agência Senado
Publicada em 28 de novembro de 2019 às 10:42
‘Olavo de Carvalho é um vigarista profissional’, diz Santos Cruz

Santos Cruz disse que cabe à CPI rastrear a origem de notícias falsas a partir da detecção de perfis falsos - Geraldo Magela/Agência Senado

O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, classificou nesta terça-feira (26) o escritor Olavo de Carvalho como “um vigarista profissional”. Em depoimento à CPI das Fake News, o militar repudiou comentários publicados por ele em redes sociais sobre a atuação de oficiais do Exército no governo do presidente da República, Jair Bolsonaro. Em uma das publicações, em maio passado, Olavo de Carvalho chamou Santos Cruz de “politiqueiro e fofoqueiro de merda”.

— A pessoa fala que é escritor e filósofo, dá sugestões na área de educação e parte para um palavreado que não dá para repetir aqui. Quando eu era criança, se você falasse palavrão, passava pimenta na boca. Nunca li e não pretendo ler a obra dele. Acho que ele não tem padrão nem para se expressar. Pode ser que tenha até algumas ideias boas para o público dele em termos políticos. Mas o comportamento é um comportamento de vigarista. É um vigarista profissional que conseguiu influência em cima de algumas personalidades — afirmou.

O general Santos Cruz esteve à frente da Secretaria de Governo até o dia 13 de junho. Durante a audiência pública na CPI das Fake News, o deputado Alexandre Frota (PSDB-SP) lembrou que, dias antes de deixar o governo, o militar sofreu mais de três mil ataques nas redes sociais. Segundo o parlamentar, os comentários foram orientados por Olavo de Carvalho.

— O general foi tratado como traidor da pátria, vagabundo, covarde. Foi colocado como defensor de negociatas escusas e acusado de não possuir preparo intelectual para o cargo de ministro. Olavo de Carvalho planejou o ataque [ao general Santos Cruz] como representante simbólico do poder militar próximo ao presidente. Aquele charlatão místico procurou destruir os símbolos do Exército Brasileiro, ao qual o general serviu por tantos anos e com tanta honra — disse Frota.

Olavo de Carvalho mora nos Estados Unidos desde 2005. Em março deste ano, integrou a comitiva de Jair Bolsonaro durante um jantar oferecido pela embaixada do Brasil em Washington. Questionado por senadores e deputados, o ex-ministro evitou críticas diretas ao presidente da República ou aos filhos dele — o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ).

— Eu não vou falar de filho do presidente da República, nem como ministro e nem como cidadão. Eu tenho meu conceito sobre cada um deles. Tenho meu conceito sobre o próprio presidente. Mas acho completamente deselegante e, falta de educação, o ataque pessoal. Então, não vou fazer isso.

A defesa de Olavo de Carvalho durante a audiência pública coube ao deputado Marco Feliciano (Podemos-SP).

— Às pessoas que falam em tom pejorativo sobre o professor Olavo de Carvalho, que estudem um pouquinho suas obras. Vocês vão ver que ele é de fato uma pessoa extremamente preparada, habilidosa e não pode sofrer aqui depreciação — disse Feliciano. 

“Gangues de rua”

O general Santos Cruz lembrou que as disputas eleitorais no Brasil sempre foram marcadas por acusações de parte a parte. Mas, segundo ele, o advento das redes sociais criou condições para que “grupos pequenos” perpetuem um “ambiente extremamente complicado e nocivo”.

— O presidente Bolsonaro foi eleito por pessoas que simpatizam com ele, por pessoas que queriam mudança e por pequenos grupos que pensam que o Brasil é um país ideológico. Às vezes, esse pequeno grupo ideológico quer manter um clima de conflito permanente, o que não é bom. Infelizmente, vejo radicalismo dos dois lados. Dos dois lados, grupos radicais não conseguem ter um comportamento democrático. Os extremos são negativos em qualquer ambiente.

Para o ex-ministro, a atuação de grupos extremistas nas redes sociais se assemelha a “gangues de rua”, que agem contra os adversários com “estardalhaço e ataques”. De acordo com Santos Cruz, as condutas ilegais devem ser reprimidas pela Justiça.

— Há comportamentos semelhantes a gangues de rua: xingamentos, condutas marginais. É a tentativa de humilhação, de intimidação. Temos que separar o que é liberdade de expressão. A liberdade de expressão não significa que você pode xingar indiscriminadamente, humilhar, intimidar, destruir reputações. A liberdade de expressão com toda essa tecnologia disponível não eliminou o Código Penal. Tem condutas que podem ser criminosas? Tem, sem dúvida nenhuma. A calúnia, a difamação e a injúria continuam no Código Penal.

Durante a audiência pública, o militar tentou caracterizar a atuação das milícias digitais. Segundo ele, são grupos que adotam “comportamento de seita”, não questionam as orientações do líder e manipulam o debate de temas púbicos para manter “um estado de conflito permanente”.

— 'Eu sigo um líder', e o líder é incontestável. Quando o líder fala, aquilo é uma coisa divina e todo mundo vai atrás e defende. Se você falar alguma coisa contra, você é expulso do grupo e é inimigo. Por quê? Porque o raciocínio é binário. Ele é amigo ou inimigo. Não preciso ser totalmente contra você para ser seu inimigo. Se eu fizer qualquer coisa contra, já sou inimigo. Qualquer coisa, é traidor. Quando a coisa é binária, é muito fácil organizar grupos extremistas de qualquer natureza — disse Santos Cruz. 

“Gabinete do ódio”

Parlamentares de oposição questionaram o ex-ministro sobre a atuação do chamado “gabinete do ódio”. De acordo com senadores e deputados, três servidores lotados no Palácio do Planalto teriam sido contratados para criar e divulgar conteúdos falsos na internet e estimular a radicalização política nas redes sociais. A CPI das Fake News aprovou um requerimento para ouvir os servidores Tercio Arnaud Tomaz, José Matheus Salles Gomes e Mateus Matos Diniz, assessores da Presidência da República. Ainda não há data marcada.

— Eles vieram das redes sociais, das ruas, trabalharam na campanha do presidente Jair Bolsonaro, que trouxe esses três elementos para dentro do Palácio do Planalto. Eles atuam atacando, humilhando as pessoas, promovendo uma série de ataques covardes. Não é uma turminha de colégio. É uma turma muito séria que sabe o que está fazendo, está coordenada nos ataques, é covarde e se esconde atrás de pseudônimos — disse o deputado Alexandre Frota.

Santos Cruz confirmou que os três servidores trabalham no gabinete de Jair Bolsonaro. Mas disse não saber se eles integram ou se de fato existe a suposta central de boatos.

— Seria leviandade falar uma coisa sem nenhum amparo comprobatório. Seria leviandade dar o nome de uma pessoa. Esse é o trabalho da comissão: chegar lá. O que posso é mostrar o que aconteceu comigo. Existem convergências: uma pessoa puxa e outras vão atrás. Tem alguém que é o estimulador, que monta a hashtag e dá a ideia inicial. Aí, o restante segue.

Central de boatos

Para Santos Cruz, a existência de uma central de boatos seria “perfeitamente identificável” pela CPI das Fake News. Ele sugeriu que a comissão de inquérito busque o apoio de empresas especializadas em rastrear a origem e a disseminação das notícias falsas.

— Mas tem que ver a independência dessa empresa quando é paga por um órgão governamental qualquer. Tem que ser absolutamente independente. A comissão tem que saber o que encomendar. Pegar os dez perfis mais envolvidos em fake news em cada tema e solicitar que seja feita uma análise daquilo. Existem programas que fazem esse tipo de análise e vão pegar todas as conexões, inclusive perfis falsos. Não existe perfil falso que não seja detectável. Vai montando as conexões e as redes e vai aparecer direitinho onde começa e onde prossegue. Por isso que não falo o nome de ninguém. Tem que ser utilizada a tecnologia e, a partir da detecção, tem a ação policial. O final do trabalho técnico dá origem às ações legais.

O general Santos Cruz disse que a demissão da Secretaria de Governo não deixou “ferida nenhuma”. Ele reconheceu que a substituição de ministros é uma prerrogativa do presidente da República. Mas afirmou que, às vezes, é possível criticar “a maneira” como uma demissão é conduzida.

— Troca de ministro ocorre em qualquer governo. É a coisa mais simples do mundo trocar um ministro. É só ter coragem moral. Chama o ministro e fala: 'Não dá para eu segurar por causa da pressão que tenho aqui'. Não tem problema nenhum. Não tem trauma nenhum. Agora, quando falta ética e começa uma coisa de baixíssimo padrão que se chama 'fritura', isso é coisa de gente covarde, desqualificada e que não sabe administrar a política e o relacionamento humano. Esse é que é o xis da questão. A 'fritura' é escória do comportamento político.

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