'Operação Tabajara' continua em marcha: denúncia de Marcos do Val saiu pelas mãos de ex-assessor

"Leonardo Caldas, jornalista que assina a matéria na Veja, ocupou cargo no gabinete do senador. Isso é eticamente questionável", diz Florestan Fernandes Jr.

Florestan Fernandes Jr
Publicada em 04 de fevereiro de 2023 às 11:30
'Operação Tabajara' continua em marcha: denúncia de Marcos do Val saiu pelas mãos de ex-assessor

Marcos do Val (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)

Não me parece casual que as revelações do senador Marcos do Val, publicadas nesta sexta-feira pela revista Veja, tenham sido vazadas pelo próprio Senador na madrugada seguinte à derrota de Bolsonaro, com a reeleição de Rodrigo Pacheco para a presidência do Senado. 

A vitória comemorada pela base do governo Lula não durou 24 horas. Foi imediatamente obscurecida por mais uma cortina de fumaça produzida pelo bolsonarismo. Desta vez, provocada pelo conhecido aliado de Bolsonaro, Marcos do Val. Se combinado ou não o vazamento, a trama golpista confirmada pelo senador em seu depoimento à Polícia Federal colocou Bolsonaro mais próximo da brasa. A articulação de um plano de arapongagem de baixíssima expertise, para grampear o Ministro Alexandre de Morais, visando reverter a derrota de Bolsonaro nas urnas, ainda que delirante, é algo muito grave. 

“É inadmissível em uma democracia" grampear um ministro do STF, como queria Bolsonaro, afirmou hoje o Ministro Ricardo Lewandowski. 

No momento, a batata do ex-presidente está assando por todos os lados: nas brasas da denúncia de Marcos do Val, da minuta do golpe encontrada na casa de Anderson Torres, que hoje se sabe, repleta de digitais... literalmente, e dos atos terroristas do 8 de janeiro. 

Mas qual o efeito prático disto, em se tratando de Jair Bolsonaro? Quem e quando surgirá para retirar as batatas da grelha e colocá-las na geladeira da Papuda, que é o seu devido lugar?

Bolsonaro, que nos últimos quatro anos se manteve em evidência abrindo porteiras e passando o gado, chamando os ministros do STF de surdos de capa preta, que agitou sua militância ao dizer que não obedeceria decisões judiciais. Bolsonaro, sobre quem se acumulam denúncias dos mais variados ilícitos. O próprio, que até pouco tempo não continha sua verborragia golpista, após passar um breve período em suposto silêncio (que agora parece ter sido mais que ruidoso), voltou a incitar seus fanáticos quando afirmou, em seu primeiro evento público nos EUA, que o governo Lula “não vai durar muito tempo” e que “em pouco tempo teremos notícias”.  O Jair, protagonista da pior quadra da História que miseravelmente vivemos nos últimos quatro anos, não se constrange em reincidir nos crimes. É useiro e vezeiro deles. 

Hoje o senador Marcos do Val afirmou que sua aliança com Bolsonaro continua intacta, e que vai pedir o afastamento de Alexandre de Morais da relatoria do inquérito dos atos antidemocráticos. A operação Tabajara continua em marcha. 

“Dou um Google” e constato que Leonardo Caldas, o jornalista que assina a matéria na revista Veja, até maio do ano passado ocupou o cargo de auxiliar parlamentar intermediário, no gabinete do senador Marcos do Val. Além disto, em 2020, o mesmo jornalista estava lotado como auxiliar parlamentar sênior no gabinete do senador Luís Carlos Heinze. 

É certo que trabalhar em gabinetes de parlamentares de extrema direita não configura crime. Mas me confesso incomodado com a publicação de reportagem envolvendo um Ministro do Supremo Tribunal Federal, atual Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, produzida e assinada por um ex-funcionário do Senador Marcos do Val, baseada em denúncia desse mesmo Senador. Isso é, no mínimo, eticamente questionável. 

Florestan Fernandes Jr

Florestan Fernandes Júnior é jornalista, escritor e Diretor de Redação do Brasil 247

Comentários

    Seja o primeiro a comentar

Envie seu Comentário

 
NetBet

Envie Comentários utilizando sua conta do Facebook

Resenha Política, por Robson Oliveira

Resenha Política, por Robson Oliveira

Após as postagens dele (William) próprio nas redes sociais durante a depredação ao patrimônio público, e com as repercussões negativas, ele voltou às redes para esclarecer que sua presença ao vandalismo era meramente profissiona