Pacientes que chegaram ao estágio mais grave da Covid-19 relatam os desafios de lidar com as sequelas

Um grande número de pacientes no pós-Covid-19 tem apresentado problemas de pressão baixa (hipotensão), dores lombares e torácicas

Marina Espíndola Fotos: Jhonathan Von Rondon Andrade e Frank Néry Secom - Governo de Rondônia
Publicada em 31 de março de 2021 às 15:12
Pacientes que chegaram ao estágio mais grave da Covid-19 relatam os desafios de lidar com as sequelas

Michelle conta que a doença evoluiu rapidamente para um estágio grave

O aumento do número de jovens em busca de tratamento para o fortalecimento muscular e movimentos ligados à coordenação motora tem chamado a atenção dos profissionais de fisioterapia em clínicas de referência em Rondônia. A justificativa são as  sequelas do pós acometimento da Covid-19.

Embora o vírus da Covid-19, o Sars-CoV-2, não afete única e exclusivamente o sistema respiratório, um dos sinais de maior gravidade continua sendo o comprometimento do pulmão. O cansaço em pequenas atividades diárias e complicações da retina é comum entre as principais sequelas ligadas à doença, segundo explica a fisioterapeuta, Isabela Moura.

Além disso, um grande número de pacientes do pós-Covid-19 tem apresentado problemas de pressão baixa, dores lombares e torácicas. “Essas sequelas são persistentes e a fisioterapia é  essencial no processo de reabilitação, não somente pulmonar como a metabólica. Ela melhora a resistência e a fadiga com a imposição de exercícios que sobrecarregam o sistema respiratório, sempre com cuidado necessário e monitorando a pressão e frequência cardíaca do paciente”, argumenta.

DEPOIMENTO

A funcionária pública, Michelle Batista, de 36 anos, conta que foi diagnosticada com o vírus por duas vezes. Na primeira contaminação, diz que sentiu apenas sintomas leves, como um resfriado. Após três meses, foi novamente acometida pela Covid-19, mas a segunda contaminação teve um maior agravamento, que proporcionou um relato forte e impactante de uma jovem que sobreviveu à luta contra à doença e encontrou em Deus a força de vontade para vencer a batalha.

Michelle descuidou das recomendações preconizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelos decretos do Governo do Estado que recomenda que a população mantenha o distanciamento social, utilize máscara e álcool em gel. Para Michelle, parecia ser apenas discursos repetitivos e acreditava ter adquirido resistência no organismo, por já ter sido contaminada uma vez. “Eu não tenho nenhuma doença prévia, não faço parte do grupo de risco, sou uma pessoa saudável, me alimento bem, pratico atividades físicas, jamais imaginei que poderia acontecer comigo”.

Michelle sofreu diversas complicações e chegou a ser desenganada devido ao quadro gravíssimo

O que parecia uma inofensiva crise de tosse durante à noite, tornou-se um dos maiores pesadelos da vida de Michelle. Ao investigar, descobriu tratar-se de uma nova contaminação, mas que desta vez a atingiria em um quadro severo. “Chegando ao hospital, com a saturação baixa, os médicos me encaminharam imediatamente para internação na UTI. Fui entubada, onde permaneci durante 42 dias em coma induzido, foram cerca de 60 dias de UTI e 70 de internação, eu quase morri”.

A jovem que hoje está recuperada e fazendo tratamentos, garante ainda que sofreu diversas complicações como parada respiratória, falência dos rins e recebeu a terrível notícia de que a probabilidade de ter que conviver com sequelas eram altíssimas. “Disseram que eu teria sequelas neurológicas devido ao tempo de sedação. A medicina diz que a partir do 20º dia começam as consequências cerebrais. Graças a Deus eu não tive e fiz a fisioterapia respiratória e muscular na UTI mesmo. Acredito que isso foi fundamental para a eficácia do tratamento”, enfatiza.

Outra sequela que poderia virar rotina na vida de Michelle seriam as sessões de hemodiálises, o que também não se concretizou. Além disso, os médicos acreditavam que Michelle não conseguiria apresentar uma boa coordenação motora, a ponto de comprometer o movimento das mãos e pernas devido a neuropatia e miopatia generalizada, o que levou ao enfraquecimento dos nervos e musculatura. “Eu não conseguia mover e nem sentir as minhas pernas. A minha mão tremia e não conseguia fazer o movimento de pinça. Foi muito difícil, eu fiquei em uma cadeira de rodas durante um tempo”.

Durante a internação no leito de UTI, ela conseguiu mudar a própria realidade. “Foram horas e horas de esforço. Claro que a equipe foi maravilhosa na questão de me direcionar, mas o esforço pessoal foi muito intenso também, praticamente por um milagre da medicina voltei a andar normalmente em duas semanas de tratamento pós-Covid-19”, contou a jovem.

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