Painel que homenageia Ari Uru-Eu-Wau-Wau no centro de São Paulo ficará iluminado por um ano

Público terá oportunidade de fazer visita guiada no Pateo do Colégio, com olhar direcionado à atuação indígena

Assessoria
Publicada em 07 de dezembro de 2022 às 10:42
Painel que homenageia Ari Uru-Eu-Wau-Wau no centro de São Paulo ficará iluminado por um ano

Imagem do painel em homenagem aos indígenas assassinados

No dia 8 de dezembro, o painel que homenageia o indígena Ari Uru-Eu-Wau-Wau, assassinado em abril de 2020, será iluminado para chamar a atenção para os direitos dos indígenas e ambientalistas perseguidos e assassinados no Brasil. A ação ocorre por ocasião do Dia Internacional dos Direitos Humanos, celebrado tradicionalmente em 10 de dezembro. Durante um ano, a obra criada pelo artivista Mundano será iluminada todas as noites.

Além disso, na inauguração da iluminação, ocorrerá uma visita guiada, passando pelo Pateo do Colégio até a Catedral da Sé, chegando por fim, ao painel. O objetivo é engajar os guias turísticos, para que passem a contar histórias dos territórios indígenas em São Paulo. A iniciativa pretende inserira obra no roteiro turístico da capital, em especial no percurso do Marco Zero, que historicamente limita a atuação indígena ao cacique Tibiriçá que teria sido um colaborador fiel aos interesses dos jesuítas, silenciando vestígios históricos anteriores à chegada dos europeus. Profissionais de turismo e educadores que tiverem interesse em fazer a visita guiada, poderão a partir do dia 9/12 , e agendar neste email.

O artivista Mundano ressalta a importância de rever a história e os personagens invisibilizados. “O Marco Zero tem uma história de disputa por território que aconteceu há quinhentos anos. Sangue indígena derramado aqui. E que continuou sendo derramado por todo o Brasil durante 5 séculos. Já passou do tempo dos direitos humanos serem respeitados no Brasil para todas as etnias. É necessário direcionar o olhar para as presenças invisibilizadas e recontar a história dessa cidade e do país”, afirma.

Mundano retratou Ari Uru-Eu-Wau-Wau, indígena assassinado em abril de 2020, em Rondônia, e escreveu os nomes de dezenas de defensores da floresta que também foram assassinados. A obra de de 618m² está localizada na lateral de um prédio na rua Quintino Bocaiúva, a poucos metros da Catedral da Sé. O local escolhido tem relação com o tema e os materiais usados para a pintura. A obra foi executada com tinta produzida com terra coletada no Marco Zero de São Paulo, na praça da Sé, que foi misturada a cinzas de queimadas da Amazônia coletadas por Mundano há dois anos.

O artivista já havia usado a técnica de produzir tintas com materiais resultantes de tragédias ambientais em 2020, quando usou lama tóxica resultante da tragédia de Brumadinho, e em 2021, com cinzas de queimadas na Amazônia, Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica. Desta vez, Mundano agrega materiais que remetem a uma das maiores chagas sociais do país. “Onde hoje temos o marco zero da maior cidade da América Latina era território indígena, que foi ocupado em um processo de expulsão e morte dos povos originários que persiste até hoje. É o que estamos vendo na Amazônia, mas também em todas as regiões onde os indígenas ainda mantêm parte de suas terras. Por isso Ari foi retratado com terra do marco zero e cinzas da Amazônia - ambos territórios indígenas”, explica Mundano.

A obra encerra um ciclo que o artivista chama de #releiturasmundanas, feitas no escopo do centenário da Semana de Arte Moderna e lançando as bases de uma nova modernidade, pautada pelo artivismo e pela arte pública. Ela teve início em 2020, quando Mundano usou lama tóxica de Brumadinho para fazer um painel inspirado no quadro “Operários”, de Tarsila do Amaral. Em 2021, ele combinou cinzas de queimadas na Amazônia, Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica para homenagear os brigadistas que combatem as queimadas em todo o Brasil com uma releitura de “O Lavrador de Café”, de Cândido Portinari. Desta vez, Mundano inspirou-se em "Bananal", obra de 1927) do pintor lituano-brasileiro Lasar Segall - uma das principais obras do movimento modernista brasileiro.

Enquanto em Bananal só é mostrado o rosto e o pescoço do personagem, no mural de Mundano é possível ver o corpo e também a mão de Ari, segurando a ponta de uma lança, como na imagem que ficou nacionalmente conhecida pela foto de Gabriel Uchida que ilustrou as matérias sobre sua morte. A diferença é sutil, mas reveladora de seu papel em sua comunidade. Ari Uru-Eu-Wau-Wau fazia parte da equipe de vigilantes Guardiões, que protege o território indígena, combatendo as invasões de madeireiros e grileiros. Ari era também professor na aldeia 621. Foi encontrado morto na manhã de 18 de abril de 2020, assassinado com aproximadamente quatro golpes na cabeça. Tinha apenas 33 anos. A luta dos guardiões Uru-eu-wau-wau é mostrada no documentário "O Território, que teve sessão especial na COP27 e que estará disponível para sessões comunitárias até 15 de dezembro (mais informações no final do texto).

O desmatamento na Amazônia respondeu por 77% das emissões por mudança e uso da terra em 2021 - categoria responsável por metade dos gases de efeito estufa que o Brasil emitiu no ano passado. Os mais recentes dados do MapBiomas mostram que a perda de vegetação nativa em territórios indígenas foi de apenas 0,8% entre 1985 e 2021, contra 21,5% fora de áreas protegidas na Amazônia - o que comprova a importância dos territórios indígenas para o combate à crise climática.

A produção do mural levou dez dias, foi realizada pela Parede Viva e contou com a assistência de mais quatro artistas: Everaldo Costa, Carolina Afolego, André Hulk e André Firmiano. O prédio fica localizado na rua Quintino Bocaiúva e a imagem pode ser vista da praça Dr. João Mendes, no centro de São Paulo.

Sessões comunitárias do documentário O Território - até 15 de dezembro

Desde 10 de outubro, o documentário O Território está disponível para exibições comunitárias independentes. Aclamado por público e crítica com 16 prêmios internacionais, participação em mais de 100 festivais pelo mundo e exibições em cinemas de 19 cidades no Brasil, o filme é uma coprodução com o povo Uru-eu-wau-wau, que tem o audiovisual como ferramenta de proteção da floresta em pé e das terras e culturas indígenas.

As sessões comunitárias são iniciativas independentes, gratuitas, e acontecem de forma privada em locais como escolas, cineclubes e outras comunidades. Após o filme, estimulamos que haja uma conversa sobre as questões trazidas por ele. Para organizar uma exibição, basta preencher este formulário  e aguardar o e-mail com as instruções sobre como transmitir o filme e dicas para estimular uma discussão engajadora.

Winz

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