Para motivar a tropa, Viagra e próteses penianas

"Não me espantarei se amanhã vir nas manchetes que os quartéis encomendaram 'bonecas infláveis' ou uma penca de 'brinquedinhos' de todo tipo", diz Denise Assis

Denise Assis
Publicada em 13 de abril de 2022 às 12:11

www.brasil247.com - (Foto: ABr)

Não andam bem as coisas pelos lados das Forças Armadas. Quem teve notícias de como era a vida nos quartéis nos idos dos anos 1960/1970, quando os militares eram carrancudos e metiam medo na população, não só pelo que aparentavam, como pelo que deles se ouvia falar à boca miúda – nada de estridência, porque o perigo morava na esquina –, não os reconhece na atual conjuntura. Em tempos de carregamento de Viagra, prótese peniana e, (quando alguém olha para o lado distraído), até de cocaína, em avião da frota presidencial. 

Naquela época, um dos espaços mais importantes das unidades militares chamava-se: “cassino dos oficiais”. Ali, na “área de lazer”, aconteciam todos os “ões”: confabulações, delações, traições e, promoções. Isto sim, interessava. As intrigas eram o “Viagra” daqueles tempos. Entre a mesa de sinuca, os tabuleiros de xadrez - para os mais dotados em raciocínio estratégico - e de jogo de damas para os menos aquinhoados (importante destacar: em inteligência e habilidade), era a hora de se praticar “network”, autopromoção, e o momento dos bajuladores, todos atrás de mais uma estrelinha, ou de empurrar para baixo os que se ombreavam na disputa.Era feroz a luta para escapar de descrições como as da historiadora e autora do livro: “A Política nos quartéis”, Maud Chirio: “A respeito dos anos 1950 e do início dos anos de 1960, uma leitura dicotômica prevalece sistematicamente: nacionalistas contra entreguistas, legalistas contra golpistas, esquerda contra direita militar.” Era este, exatamente o clima nas fileiras. Não faltava “tesão” por uma causa e a vaidade não era pela obtenção de mais cabelos na cabeça (houve também compra de tônico capilar), mas por galgar novos e importantes postos na carreira.

Agora, a “carreira” que se faz presente entre os militares pode não ser exatamente o futuro profissional. Tivemos notícia de avião da frota presidencial transportando 39 quilos de cocaína para a Espanha. 

Não bastasse isto, a imagem do Exército ficou inexoravelmente pregada, durante a pandemia, à de um mero laboratório de cloroquina, fartamente distribuída fora das orientações da bula, pelo general/ministro, Eduardo Pazuello, que preferia o remédio ineficaz à compra de vacinas salvadoras. 

Por fim – e a gente pensou que era o fim da linha em termos de escândalo -, o deputado federal Elias Vaz (PSB-GO) apresentou, nesta segunda-feira (11/4), requerimento pedindo explicações ao Ministério da Defesa, conforme noticiou o jornalista Guilherme Amado, em sua coluna no Jornal Metrópoles, sobre processos de compra de 35.320 comprimidos de Viagra para atender às Forças Armadas. O remédio costuma ser usado para tratar disfunção erétil. A desculpa da pasta foi a de que os comprimidos seriam empregados em insuficiência pulmonar, mas a substância destinada a esse tratamento é indicada em comprimidos de 20ml, e os adquiridos pelas FAs foram de 25, ou seja, para aquilo a que de fato se destinam: “disfunção erétil”. A denúncia foi feita pelo deputado Elias Vaz, do PSB de Goiás.Não contentes com o vexame – não pela disfunção, mas pelo mal uso do seu, do meu, do nosso dinheirinho para tal fim -, hoje (12/04), vem à tona a encomenda de nada mais que 60 próteses penianas infláveis no valor de R$ 3,5 milhões, encomendadas pelo nosso “brioso” Exército Brasileiro. Novamente a denúncia foi feita pelo deputado Elias Vaz, desta vez em conjunto com o senador Jorge Kajuru, do Podemos do mesmo estado.

Eles pedirão investigação ao Tribunal de Contas da União (TCU) e ao Ministério Público Federal (MPF) para determinar por que o Exército fez encomenda desse inusitado produto, em se tratando da caserna. 

O Portal da Transparência e o Painel de Preços do governo federal apontam que foram feitos três pregões eletrônicos no ano passado para adquirir as prótese, cujo comprimento varia entre 10 e 25 centímetros.

Não me espantarei se amanhã vir nas manchetes que os quartéis encomendaram “bonecas infláveis” do último modelo, para divertir as tropas. Ou uma penca de “brinquedinhos” de todo tipo, a uma empresa fornecedora para os sex shops.

Denise Assis

Jornalista. Passou pelos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" e "Imaculada". Membro do Jornalistas pela Democracia

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