Por que crianças seriam menos propensas à Covid-19?

A ciência investiga como o organismo dos pequenos se defende do novo coronavírus

Brasil 247
Publicada em 09 de janeiro de 2021 às 13:51
Por que crianças seriam menos propensas à Covid-19?

(Foto: Tchélo Figueiredo-Secom/MT)

Nathália Ronfini, da Agência Einstein - Durante a pandemia de Covid-19, uma questão que intriga a comunidade científica é o fato de as crianças serem menos infectadas pelo SARS-Cov-2 e, mesmo quando contaminadas, manifestarem a doença de forma leve ou assintomática. Embora a resposta para a maior resistência dos pequenos ao vírus não seja algo conclusivo entre os pesquisadores – e o assunto mereça análises mais profundas –, alguns estudos trazem indícios de que uma combinação de fatores no sistema imunológico infantil pode ser uma das explicações. 

Dados apontam uma diferença de respostas do sistema imunológico das crianças, considerando que algumas, embora desenvolvam sintomas e anticorpos específicos para SARS-CoV-2, não apresentam resultado positivo no exame RT-PCR. Um estudo recém-publicado na revista Nature, uma das mais renomadas publicações científicas do mundo, realizado com uma família com dois adultos e três crianças em Melbourne, na Austrália, exemplifica essa questão. Em março de 2020, pai e mãe foram comprovadamente contaminados num casamento e, poucos dias depois, dois de seus filhos apresentaram sintomas leves enquanto um deles ficou assintomático. Mesmo assim, todos os três apresentaram 11 vezes resultado negativo no RT-PCR em testes realizados ao longo de 28 dias.

Melanie Neeland, imunologista responsável pelo trabalho, realizado no Instituto de Pesquisa Infantil Murdoch em Melbourne, tem uma explicação para esse fenômeno. “Quando o sistema imunológico infantil se depara com o vírus, simplesmente monta uma resposta imunológica realmente rápida e eficaz que o inativa antes que tenha a chance de se replicar a ponto de dar positivo no teste de diagnóstico de esfregaço.”

Até mesmo crianças que sofrem com síndrome inflamatória multissistêmica, uma complicação infantil grave, mas rara, quando infectadas, apresentam taxa de resultados positivos na RT-PCR varia de 29% a 50%, de acordo com estudos internacionais recentes.

Em entrevista à Nature, Donna Farber, imunologista da Universidade de Columbia, em Nova York, acredita que os tipos de anticorpos que as crianças produzem podem ser a resposta. Em parceria com outros pesquisadores, ela conduziu um estudo com 32 adultos e 47 crianças (com até 18 anos) contaminados e detectou que os pequenos produziam mais anticorpos direcionados à proteína spike usada para entrar nas células. Além disso, as crianças não apresentavam anticorpos específicos para a proteína do nucleocapsídeo, essencial para a replicação viral e liberada em quantidades significativas apenas quando o vírus está disseminado pelo corpo. Ou seja, as respostas imunológicas infantis parecem ser capazes de eliminar o vírus antes que se replique consideravelmente. 

Alasdair Munro, pesquisador de doenças infecciosas pediátricas no University Hospital Southampton, no Reino Unido, por sua vez, complementa que crianças, por serem o principal reservatório de coronavírus sazonais, que causam o resfriado comum, podem ter maior proteção contra o SARS-CoV-2, mas as evidências para isso ainda não são conclusivas. Pesquisas apontam ainda que as crianças são menos expostas ao Covid-19 porque seus narizes contêm um menor número de receptores ACE2 11, utilizado pelo vírus para ter acesso às células do indivíduo contaminado, em comparação aos adultos.

 

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