Presidente bom ganha, presidente ruim perde

"Pouco importa se estiver mancomunado com militares oportunistas, bispos bilionários, ricaços indiferentes à destruição que promoveu, empresários ultraconservadores da imprensa. Bolsonaro vai pagar nas urnas por sua estupidez e seus crimes", escreve o sociólogo Marcos Coimbra

Marcos Coimbra
Publicada em 23 de abril de 2021 às 15:56

Nas primeiras aulas do curso de introdução à politica contemporânea, os alunos aprendem uma lição elementar: sempre que, em uma democracia, há a possibilidade de reeleição (ou recondução), bons governantes tendem permanecer no cargo e maus costumam ser enxotados. Pode-se dizer que é natural que isso aconteça. 

Talvez seja, mas muita gente se esquece dessa verdade singela. Como hoje, no Brasil, em que se discute o cenário da próxima eleição ignorando algo evidente: Bolsonaro é um péssimo presidente e será, provavelmente, derrotado (se for candidato).  

Quando o governante – presidente, governador ou prefeito -. não pode ou não quer concorrer, os eleitores e eleitoras têm que procurar, entre os nomes oferecidos, aquele ou aquela mais capaz de realizar as coisas (atitudes, iniciativas, programas, ações, etc.) que acham boas para o país, estado ou a cidade em que moram.  

Quando, ao contrário, o governante está na cédula, a escolha fica mais fácil. A interrogação passa a ser: “Fulana ou fulano está fazendo um bom trabalho e merece continuar no cargo ou não, mostra-se incapaz e precisa ser substituída ou substituído?” No primeiro caso, a dúvida é a respeito de um difícil quem, no segundo, de um simples sim ou não.  

Se o capitão Bolsonaro não for despejado antes, será candidato à reeleição em 2022, pois tem todo o interesse do mundo em continuar onde está. Não vai largar o osso, depois de uma vida inteira na obscuridade. É caro sustentar os luxos da família e a turma de parasitas que com ele se aboletou no poder.  

A pergunta mais importante que o eleitorado terá que responder em 2022 é: “Valeu a pena ter Bolsonaro como presidente, foi bom para mim, minha família, as pessoas como eu, minha cidade, o Brasil? As coisas melhoraram, em geral e nas que me preocupam mais (saúde, emprego, renda, educação, segurança ou outras)?”. 

Quem estiver feliz com isso que o Brasil vem sendo desde 2019, vota no responsável-mor. Quem não, vai querer mudança.   

Nos Estados Unidos, os dados do Instituto Gallup, disponíveis desde os anos 1940, mostram que todos os presidentes que buscaram a reeleição com 50% ou mais de aprovação, nas pesquisas anteriores à eleição, foram bem sucedidos. Mostram, também, que todos aqueles que tiveram aprovação menor perderam e não foram reeleitos: Gerald Ford não se reelegeu, em 1976, com 45% de avaliação positiva, Jimmy Carter perdeu a reeleição em 1980, com 32%, e George Bush foi derrotado em 1992, com a aprovação de 37%.   

O capitão tem, hoje, níveis menores que qualquer um desses perdedores. Joga dinheiro fora quem apostar que, nos próximos doze meses, chegará ao patamar dos vencedores nas reeleições norte-americanas.   

O padrão de lá se repete aqui: nos tempos modernos, os presidentes brasileiros bem avaliados se reelegeram ou fizeram sucessores, enquanto os ruins sequer chegaram a ter candidatos que os representassem. Em 1989, houve 22 concorrentes e todos fizeram questão de se dizer anti-Sarney. Em 2002, Serra perdeu porque Lula era melhor e porque era visto como continuidade de Fernando Henrique, odiado, àquela altura, pela maioria do povo. Em 2018, o capitão ganhou escondendo os vínculos com Temer, evitado até por ex-ministros. 

Ano que vem, Bolsonaro não será mais uma opção de risco, em quem uma parcela de eleitores e eleitoras de baixa informação topou votar, pagando para ver. Hoje, é uma realidade, que só não decepciona quem nasceu bronco ou foi embrutecido pela vida. Não há sequer uma área de governo em que tenha sido bem sucedido. É um genocida, culpado por 400 mil mortes e milhões de pessoas com sequelas incuráveis.   

Quem, em outubro de 2022, digitar seu número (que ninguém sabe qual será), estará dizendo que gostou de suas cafajestadas e da sua obra e que, por isso, quer que continue no cargo. Para a vasta maioria da comunidade internacional, é quase inacreditável que receba o apoio de uma parcela relevante do povo brasileiro.   

Pouco importa se estiver mancomunado com militares oportunistas, bispos bilionários, ricaços indiferentes à destruição que promoveu, empresários ultraconservadores da imprensa. Bolsonaro vai pagar nas urnas por sua estupidez e seus crimes. Não tem coelhos para tirar da cartola e as espertezinhas que fará de agora à eleição não servirão de nada. 

Marcos Coimbra

Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

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