Que o susto “Milei” acorde o governo Lula
Milei vai ser um desastre para a Argentina como Bolsonaro foi para o Brasil. Contudo, se no Brasil não mudarmos o “rumo da prosa” Milei será a nossa Cassandra.
O presidente eleito da Argentina, Javier Milei 20/11/2023. (Foto: Julián Álvarez/Telam)
Não é culpa do “identitarismo”. Não é culpa das “redes sociais”. Não dá para dizer nem que é culpa dos “evangélicos” que são muito poucos na Argentina. A vitória de Javier Milei na Argentina era a mais antecipada da história Argentina. E falo isso porque antes do primeiro turno, em todos os meus canais, mencionei que Milei ganharia. A diferença de mais de 10% é o susto.
As “redes sociais” na Argentina têm muito menor força do que no Brasil. As redes de pastores, no país do Maradona, também são muito mais frágeis e, em alguns lugares, inexistentes. Essas constatações servem para desarmar uma esquerda da década de 70 que gosta de arrotar superioridade teórica sobre o pensamento do final do século XX e, ainda, trabalha com os conceitos como “correlação de forças” mais como camisas de força da ação política do que como base de análise.
Milei venceu porque a esquerda argentina foi engolida pelo discurso da conciliação de classe. Massa é de um peronismo de centro-direita. Massa ofendeu e ameaçou a Cristina Kirchner, por exemplo. A velha esquerda, que se empodera a partir do desconhecimento do mundo contemporâneo, barra a renovação não apenas dos espaços, mas também das políticas, das estratégias de negociação. A dolarização de fato da economia Argentina, a oposição das elites e o controle da mídia aberta lá podem ser percebidas como parte da explicação da derrota. Mas é inegável que ela também passa pelo fracasso das políticas que tentam agradar “à gregos e troianos”.
Uma parte significativa de um governo é a pedagógica. É preciso que nos mostremos diferentes do centrão, diferentes do bolsonarismo e diferentes do neoliberalismo. Quando o eleitor perde essa “bússola” política, porque passa ver as bandeiras de lá serem agitadas cá, nós pavimentamos a vitória dos que prometem mudança. O controle da informação faz com que não importe se a promessa de mudança vai se concretizar. A atenção das vontades presentes do eleitor garante a ruptura da racionalidade na decisão eleitoral.
É preciso vacinar o brasileiro contra esses discursos. É preciso fazer política de forma pedagógica. Disputar os sentidos de explicação do mundo e não acomodar explicações diferentes sobre as coisas. É preciso não apenas mudar a vida material das pessoas, mas é preciso brigar pelas explicações da mudança.
O “déficit zero” vai eleger um Milei em 2026. O controle do centrão nos faz iguais a eles na visão de que nos vota. A submissão aos números da vontade autoritária de um parlamento venal nos qualifica como incapazes de negociar transformações por fora dos tapetes azuis do Congresso.
Que não se diga que o Brasil não foi avisado. Milei vai ser um desastre para a Argentina como Bolsonaro foi para o Brasil. Contudo, se no Brasil não mudarmos o “rumo da prosa” Milei será a nossa Cassandra.
Fernando Horta
Fernando Horta é historiador
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