Quem é Michelle na fila da farofa na encruzilhada?

Peça-chave na campanha para reverter a rejeição, Michelle passou a usar o sectarismo, a intransigência e a intolerância religiosa para combater o mal, no caso, a esquerda representada por Lula

Ricardo Mezavila
Publicada em 15 de agosto de 2022 às 11:57

www.brasil247.com - Michelle Bolsonaro

Michelle Bolsonaro (Foto: Reprodução)

O núcleo de campanha de Bolsonaro à reeleição exigiu que a primeira-dama, Michelle, entrasse de ‘cabeça’ para minimizar a rejeição do presidente entre o eleitorado feminino, mas tudo indicava que Michelle não queria participar da campanha de maneira incisiva. 

A partir da convenção do PL que homologou a chapa Bolsonaro/Braga Netto, em evento realizado no Maracanãzinho, Michelle não resistiu e teve participação destacada na comunicação com o público. 

Em tom messiânico, fez discurso com menções a Deus: “Eu creio que Deus é por nós, é pelo nosso Brasil, eu creio na libertação, eu creio na salvação, eu creio na cura, no resgate e eu creio que o Brasil será celeiro de benção para outras nações. As palavras do senhor vão cumprir sobre essa terra”. 

Sua pregação foi bastante elogiada no QG de campanha, mas Michelle foi mais uma do mesmo, seu fundamentalismo não furou a bolha bolsonarista. 

Peça-chave na campanha para reverter a rejeição, Michelle passou a usar o sectarismo, a intransigência e a intolerância religiosa para combater o mal, no caso, a esquerda representada por Lula. 

No início de agosto, a primeira-dama, conduziu uma vigília evangélica dentro do Palácio do Planalto. Em uma madrugada, acompanhada de cantores e pastores de igrejas neopentecostais, disse que adentrava a sede do poder Executivo na companhia de ‘intercessores’.  

Em discurso recente em Lagoinhas, BH, ao lado de seu marido e do candidato do partido ao governo de MG, Michelle aumentou o tom dizendo: "Vou continuar orando e intercedendo em todos os lugares, e sabe por que, irmãos? Porque por muitos anos, por muito tempo, aquele lugar foi um lugar consagrado a demônios. Planalto consagrado a demônios, e hoje consagrado ao senhor Jesus. Ali, eu sempre falo e falo para ele, quando eu entro na sala dele e olho para ele: essa cadeira é do presidente maior, é do rei que governa essa nação". 

Empoderada, Michelle compartilhou um vídeo produzido e postado pela vereadora Sonaira Fernandes (PL-SP), em que Lula está em um Terreiro de Umbanda, com a legenda: "Lula entregou a sua alma para vencer essa eleição".  

Esse vídeo já foi alvo de uma representação feita pela Coalizão Negra de Direitos, que aponta promoção do discurso de ódio. Em uma versão manipulada do vídeo, dá a entender que Lula tem uma relação com o demônio.  

Michelle estimula o maniqueísmo fundamentalista pregando a guerra entre o ‘bem e o mal’, na tentativa de alavancar a candidatura de Bolsonaro, porque essa é a linguagem de quem o apoia.  

O fascismo não debate ideias, não dialoga com quem considera adversário, trata-o como o inimigo que precisa ser destruído, usando a religião para torna-lo algo sobrenatural e desumanizado, como o demônio. 

Ao ‘chutar’ o despacho, Michelle legitima a intolerância religiosa e a incitação ao ódio que descamba para a perseguição e invasão a Terreiros de Umbanda e Candomblé pelos fanáticos da ‘esquina’, legalmente armados pelo governo. 

A primeira-dama precisa sentar em uma encruzilhada, fazer um Ebó de limpeza do facciosismo, racismo, preconceito, dualismo, estudar sobre as religiões de Matriz Africana, respeitar seus Orixás, aprender com Exu, o Orixá da comunicação e da linguagem, mensageiro entre os seres humanos e as divindades, antes de sair por aí satanizando e pregando contra o amor e a união, razões da existência de Deus. 

Ricardo Mezavila

Escritor, Pós-graduado em Ciência Política, com atuação nos movimentos sociais no Rio de Janeiro.

Comentários

  • 1
    image
    miltom 31/08/2022

    Concordo que tem que haver respeito e liberdade religiosa.

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