Recarga de veículos elétricos precisa de normas razoáveis, dizem debatedores
Segundo o parlamentar, a falta de regras padronizadas para a atividade gera insegurança jurídica e a possibilidade de se adotar regras muito rígidas poderia inibir investimentos nesse tipo de instalação
Senador Rodrigo Cunha (na mesa, centro) conduziu a audiência
Especialistas que participaram da audiência pública na Comissão de Ciência e Tecnologia (CCT), nesta quarta-feira (12), lembraram que veículos elétricos apresentam baixo risco de incêndio, mas cobraram uma discussão mais ampla que leve a normas razoáveis para a instalação de estações de recarga em edifícios.
O requerimento (REQ 9/2024-CCT) foi do senador Rodrigo Cunha (Podemos-AL), presidente da Frente Parlamentar pela Eletromobilidade, motivado pela grande repercussão de um parecer técnico do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo (CBPMESP) que foi levado a consulta pública. Segundo o parlamentar, a falta de regras padronizadas para a atividade gera insegurança jurídica e a possibilidade de se adotar regras muito rígidas poderia inibir investimentos nesse tipo de instalação.
O senador Rodrigo abriu a audiência ressaltando a busca pelo diálogo sobre o assunto e opinou que o Brasil não pode ficar à margem da tendência mundial pela mudança da matriz energética, mas lembrou que “nada deve sobrepor-se à segurança”.
— Unificar e padronizar, acredito, só traz benefício para o desenvolvimento do país e para o bem-estar e a satisfação do consumidor — ressaltou Rodrigo.
O chefe do Departamento de Segurança e Prevenção contra Incêndio do CBPMESP, Max Alexander Schroeder, concordou. Para ele, trata-se de uma alternativa energética interessante para a sociedade e para o meio ambiente. Mas ele observou que incêndios ou outras ocorrências afetariam negativamente o mercado de veículos elétricos.
— A ideia, de forma alguma, é colocar obstáculo. Pelo contrário, é proteger e preservar para que as coisas deem certo e para que o mercado possa evoluir de forma segura, em consonância com a segurança contra incêndios — ressaltou.
Schroeder repercutiu questionamentos sobre as normas para pontos de recarga em subsolos de edifícios, onde o combate a eventuais incêndios torna-se mais difícil e também lembrou o impacto nas redes sociais de vídeos mostrando carros elétricos em chamas. Ele argumentou que os bombeiros estudaram profundamente o assunto e perceberam as características próprias dos incêndios em veículos elétricos — cujo combate requer “técnicas que ainda estão sendo desenvolvidas” — e disse esperar que as montadoras possam incorporar-se ao debate pelo aprimoramento da segurança.
— Toda tecnologia implica um grau de risco, mas a gente tem que mitigar a um mínimo possível — avaliou.
Incertezas
Membro do Conselho Diretor da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), Clemente Gauer saudou o trabalho dos bombeiros e citou o incêndio de um ônibus elétrico em Salvador, motivado por vandalismo, que foi controlado sem colocar pessoas em risco. Ele mostrou dados sobre as condições favoráveis do Brasil para a mobilidade elétrica, mas ressalvou que toda tecnologia traz “dúvidas, incertezas e medos”.
Segundo Gauer, o índice de incêndios em veículos elétricos nos Estados Unidos — que usam, em geral, tecnologias mais antigas que as de seus congêneres no Brasil — é baixíssimo em comparação com o de veículos a combustão interna. Na Europa, acrescentou, eventuais incêndios na recarga de veículos foram geralmente atribuídos ao uso de tomadas inadequadas.
— Se não fomentarmos o uso de estações de recarga profissionais e fizermos com que as pessoas improvisem tomadas, estaremos fragilizando a segurança de todos — alertou.
O diretor de Assuntos Técnicos da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Henry Joseph Júnior, citou a demanda crescente por veículos elétricos no Brasil e também cobrou a certificação dos pontos de recarga, a ser discutida com o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e outras entidades.
— É um estudo que ainda está em evolução. Nós, fabricantes de veículos automotores, estamos tentando dar todo o apoio a essa discussão — afirmou.
Viabilidade
O vice-presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Alagoas (Ademi-AL), Hugo Dâmaso, lembrou que os compradores de imóveis já apresentam a demanda de pontos de recarga em suas garagens, que deverão ser de uso individual e com cobrança de energia pelo medidor de cada apartamento. Porém, segundo ele, uma aplicação geral das normas técnicas propostas pelo CBPMESP tornaria inviáveis muitos novos empreendimentos. Além disso, acrescentou que a adaptação dos edifícios antigos à demanda por pontos de recarga está sendo feita “de qualquer forma”.
— Sem nenhum tipo de certificação (...), já começaram a acontecer alguns incidentes, não nos veículos, mas nas instalações — informou.
O representante da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Lauro Gomes Ladeia, disse que a entidade criou um grupo de trabalho para discutir “com um olhar abrangente” a segurança das estações de recarga e a consulta pública do CBPMESP. Ele também repercutiu a demanda de incorporadoras e consumidores por meios de recarga de veículos, ressaltando que as propostas não poderão inviabilizar investimentos.
— A parte técnica talvez não seja o que mais nos aflige, mas a questão financeira pode realmente impactar as edificações — advertiu.
Por fim, o diretor da Associação Brasileira dos Proprietários de Veículos Elétricos Inovadores (Abravei), Rodrigo de Almeida, manifestou preocupação com as estações de recarga instaladas fora de normas. Porém, ele condenou a “concepção equivocada” sobre incêndios de carros elétricos em processo de recarga e atribuiu a popularidade dos vídeos a uma estratégia de clickbait (conteúdo chamativo destinado a atrair audiência na internet).
— Se você colocar um carro a combustão pegando fogo, não gera audiência — afirmou.
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