Relator recomenda ao Conselho de Ética a cassação do mandato do deputado Boca Aberta

Votação no Conselho de Ética foi adiada por dois dias úteis

Agência Câmara de Notícias
Publicada em 25 de agosto de 2021 às 10:25

O deputado Alexandre Leite (DEM-SP), relator de processo contra o deputado Boca Aberta (Pros-PR) no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados, recomendou a perda do mandato do parlamentar paranaense por conduta incompatível com o decoro.

O parecer, lido ontem (24), ainda precisa ser aprovado pelo conselho, mas um pedido de vista coletivo adiou a votação da recomendação por dois dias úteis.

Boca Aberta responde a processo (REP 2/19 e REP 3/19) movido pelo Partido Progressista (PP). Ele é acusado de fazer acusações infundadas contra o deputado Hiran Gonçalves (PP-RR) e de invadir uma unidade de pronto-atendimento (UPA) no Paraná.

Em seu relatório de 51 páginas, Alexandre Leite concluiu que Boca Aberta agiu de má-fé, ao buscar provocar a nulidade do processo, manipular a verdade dos fatos, apresentar documentos adulterados e abusar de suas prerrogativas para atingir a honra de colegas, de cidadãos e de servidores públicos.

“O representado deve perder seu mandato, o convívio parlamentar e, por certo, no que depender da Justiça, também o convívio em sociedade, seja para uma correção mais apurada da sua conduta ou para uma reabilitação da plenitude de suas faculdades mentais e saúde psíquica”, afirmou Alexandre Leite.

Segundo o relator, Boca Aberta se apresenta como uma figura folclórica e humilde, mas “a agressividade, o abuso, a humilhação, o populismo degenerativo e a autopromoção em detrimento da imagem alheia sem medir quaisquer consequências são as verdadeiras marcas de sua atuação parlamentar”.

A manifestação de Boca Aberta, que deveria se dar após a leitura do voto por Alexandre Leite, foi transferida para a próxima reunião sobre o caso, por decisão do presidente do Conselho de Ética, deputado Paulo Azi (DEM-BA).

Cleia Viana/Câmara dos Deputados

Breves Comunicados. Dep. Boca AbertaPROS - PR

Manifestação de Boca Aberta foi transferida para a próxima reunião

Hospital
No que diz respeito à UPA, a representação faz referência a uma gravação em vídeo, feita por Boca Aberta no Hospital São Camilo, em Jataizinho (PR), na qual o deputado mostra um médico dormindo na sala de descanso dos funcionários, no turno da madrugada. O vídeo foi feito e divulgado sem autorização em março de 2019.

O PP acusa Boca Aberta de constranger médicos e profissionais da saúde e ainda de expor suas imagens na internet. O partido acrescentou à representação o fato de o deputado, na edição do vídeo, ter exposto uma criança que, em outra data, passava mal no hospital enquanto aguardava atendimento.

Em depoimento ao Conselho de Ética em 3 de agosto, Boca Aberta disse que não houve invasão, uma vez que a UPA é pública e que “plantão é plantão” e o médico não poderia dormir, ainda que não houvesse pacientes.

Alexandre Leite, no entanto, concluiu que Boca Aberta abusou de suas prerrogativas parlamentares neste caso. “O representado não agiu com o fito de promover legítima fiscalização do serviço público prestado, mas de performar cena para se autopromover às custas da perturbação do trabalho e do sossego alheios, pois ostensivamente ingressou, de forma intimidatória, acompanhado de assessores, cinegrafista e segurança, em área de atendimento hospitalar cuja circulação é restrita, promoveu gritaria e ainda ofendeu funcionários que exerciam suas funções públicas”, listou o relator.

Ele acrescentou que o médico e o enfermeiro que estavam de plantão foram ofendidos em sua honra, tendo perdido o respeito da população, com prejuízos sociais e profissionais.

Leite apontou ainda o uso indevido de imagem de menor de idade “em circunstâncias atentatórias a sua dignidade, servindo sua inclusão no vídeo meramente para reforçar o caráter sensacionalista da ação”.

Hiran Gonçalves
Com relação às acusações contra o deputado Hiran Gonçalves, Alexandre Leite concluiu pela inveracidade das afirmações feitas por Boca Aberta, com danos à imagem e à honra de Gonçalves.

Boca Aberta acusou o deputado de Roraima de ter sido condenado a devolver dinheiro aos cofres públicos e de ter recebido doação de empresa investigada na operação Lava Jato, entre outros fatos. Instado a apresentar provas, segundo Leite, Boca Aberta enviou documentos adulterados para o Conselho de Ética.

Ainda conforme o relator, Boca Aberta agiu para obstaculizar o andamento do processo contra si no Conselho de Ética. “O representado, em inúmeras oportunidades, diretamente ou por meio de seus assessores, recusou o recebimento das intimações ou se esquivou de recebê-las. A recusa em receber as intimações não condiz com a postura esperada de um parlamentar”, afirmou Alexandre Leite.

O relator também apontou fatos anteriores ao mandato na Câmara dos Deputados, como a cassação do mandato de vereador em Londrina em 2017, por infração ético-parlamentar, e a existência de diversos processos criminais contra Boca Aberta, por crime de calúnia, injúria, difamação e falsificação de documento público, entre outros.

O caso de Boca Aberta já havia sido analisado em 2019. Em dezembro daquele ano, o Conselho de Ética aprovou a pena de suspensão do mandato por seis meses, por dez votos a um, mas Boca Aberta recorreu, alegando que testemunhas não tinham sido ouvidas pelo relator. O recurso foi aceito em março pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ).

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