Relatoria de Derrite no PL Antifacção e o governo Tarcísio
Os quadros da extrema direita brotaram do pântano da ignorância e da malícia, em que Bolsonaro havia surgido como avesso da flor de lótus, e deixado sementes
Capitão Derrite e Tarcísio de Freitas (Foto: Reprodução/Facebook/Capitão Derrite)
O trabalho do deputado federal Capitão Derrite (PL-SP) na relatoria do PL Antifacção revela muito mais do que uma posição legislativa: expõe o padrão de atuação e o nível político do governo de Tarcísio de Freitas em São Paulo. A proposta, apresentada sob o pretexto de reforçar o combate ao crime organizado, vem sendo criticada por conter vícios de formulação e por atender mais a interesses políticos e corporativos do que ao interesse público. Um exemplo é subordinar a Polícia Federal à autoridade dos governadores.
Derrite, que foi secretário da Segurança Pública do Estado antes de retornar ao Congresso, carrega consigo a marca de uma gestão que priorizou o discurso de enfrentamento, mas entregou pouco em termos de resultados concretos. Sua atuação na relatoria da lei repete o mesmo padrão: retórica agressiva, pouca profundidade técnica e uma clara instrumentalização da pauta da segurança para fins eleitorais.
A escolha de Tarcísio de Freitas em colocá-lo à frente de uma das pastas mais sensíveis do governo paulista não foi casual. Derrite simboliza a convergência entre a extrema direita política e o populismo punitivista — um tipo de atuação que fala diretamente à base mais radical do bolsonarismo, mas que ignora nuances fundamentais da segurança pública, como prevenção, inteligência e política social.
Embora o discurso oficial seja o de enfrentamento às facções criminosas, a prática mostra contradições. O próprio substitutivo ao PL Antifacção enviado pelo Governo Federal parece atender, em sentido amplo, a grupos de poder e interesses específicos — políticos, corporativos e econômicos — que se beneficiam do caos e da polarização. Quando o debate público é capturado por esse tipo de discurso, perde-se o foco no cidadão comum e no fortalecimento das instituições.
Não é coincidência que essa “guerra simbólica” encontre eco em certas avenidas de São Paulo, onde poder, negócios e política se misturam. Tampouco é coincidência que figuras enroladas com investigações ou escândalos encontrem abrigo em torno dessa narrativa moralista e beligerante.
A ascensão dessa ala da extrema direita brasileira — que Derrite e Tarcísio representam — tem raízes profundas no pântano da ignorância e do ódio. É um fenômeno que não se sustenta na técnica, na competência ou na gestão pública, mas na exploração de ressentimentos e simplificações.
Quando expostos, esses políticos revelam não apenas sua falta de preparo, mas também a fragilidade de suas convicções. O próprio governador Tarcísio de Freitas, que busca projetar uma imagem de gestor técnico, demonstrou desorientação em momentos de crise, como quando reagiu de maneira hesitante ao ataque do governo de Donald Trump ao Brasil.
Já no dia da posse de Donald Trump, em janeiro deste ano, ele colocou o boné da campanha do presidente dos EUA e disse: “Grande dia”
A semelhança entre Tarcísio e Jair Bolsonaro vai muito além da afinidade ideológica. Ambos compartilham a mesma limitação técnica, o mesmo desprezo pelo diálogo e a mesma crença na imposição como método de governo. A diferença é que Tarcísio tenta se apresentar com verniz de competência — um verniz que se dissolve facilmente diante de qualquer teste de responsabilidade administrativa.
O resultado é uma gestão marcada por improviso, autoritarismo e subserviência a grupos políticos radicais. A promessa de modernização e eficiência se converteu em uma administração de slogans e embates simbólicos.
No fim das contas, o governo de Tarcísio e seus aliados — como Derrite — se inserem perfeitamente no que o filósofo britânico James Mill denominou de caquistocracia: o governo dos piores. São representantes de uma elite política incapaz, movida por ressentimento e sustentada por uma base desinformada.
E é justamente essa combinação que ameaça a qualidade da democracia e o futuro da gestão pública em São Paulo. E que, pousando em Brasília, como no caso de Derrite no PL Antifacção, se transforma numa monumental lambança.
Afinal, do pântano da ignorância e malícia poderia vir algo diferente?
Joaquim de Carvalho
Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: [email protected]
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