Relatório da Apex-Brasil atesta uso do celular e do escritório, pelo General Cid, para transação de joias
"Antes de devolver, muito a contragosto o celular, Lourena Cid permitiu que seus dados fossem apagados, de forma irregular", escreve a colunista Denise Assis
Bolsonaro tinha como ajudante de ordens Mauro Cid, filho do general Mauro César Lourena Cid, que negociava as joias ganhas pelo ex-chefe de governo, segundo a PF (Foto: Alan Santos/PR | Roberto Oliveira/Alesp)
A APEX – Agência Brasileira para Promoção de Exportações e Investimento –, entrega hoje (12/07), ao Supremo Tribunal Federal (STF), à Polícia Federal (PF) e ao Tribunal de Contas da União (TCU), o relatório das apurações feitas sobre o uso da estrutura do escritório (EA), da APEX Miami, pelo seu ex-dirigente, o general Mauro Lourena Cid, para negociação de joias e presentes de Estado.
Ex-integrante do Alto Comando do Exército Brasileiro, companheiro do ex-presidente Bolsonaro na Academia Militar de Agulhas Negras (AMAN) passou da condição de um dos mais respeitados quadros da Força, para a de investigado pela PF, por ações escusas, o roubo de joias, integrando uma verdadeira quadrilha, uma “ORCRIM”, como definição da própria Polícia.
O general, que segundo as investigações da PF atuou como suporte do filho, coronel Mauro Barbosa Cid, e do ex-presidente Jair Bolsonaro na negociação desses bens, utilizou a estrutura do EA para atividades não relacionadas à função de General Manager (GM).
Isso ocorreu antes e depois de sua demissão do cargo, em 3 de janeiro de 2023. A partir de trecho de relatório da PF com imagens de mensagens de WhatsApp enviadas por Lourena Cid com identificação de data, foi possível concluir que, às 10:39 da manhã de 4 de janeiro de 2023, já demitido, mas ainda nas dependências do escritório da Apex, ele usou o celular funcional para compartilhar fotos das joias e objetos de arte do acervo atribuído ao ex-presidente.
As investigações da PF, a partir de depoimentos de testemunhas, apuraram que, nesse momento, ele se encontrava no gabinete que ocupara como GM. As fotos, em cujo reflexo o general se deixa aparecer (com a sua imagem refletida no estojo do brinde), foram produzidas também pelo mesmo celular corporativo. Os relatos dessas testemunhas dão conta da vergonhosa relutância e resistência do general em devolver à ApexBrasil o aparelho celular, que continuou usando até o dia 7 de fevereiro, inclusive para conversas com o filho, coronel Mauro Barbosa Cid, principal acusado da negociação das joias – conforme fartamente documentado em relatório da PF.
Antes de devolver, muito a contragosto o celular, Lourena Cid permitiu que seus dados fossem apagados, de forma irregular, por um servidor do EA Miami na presença de outros. Lourena Cid também não queria devolver o notebook funcional. E, o mais grave, seu passaporte oficial com visto de trabalho nunca foi devolvido.
Sua participação em toda a “jogada” é inapelavelmente calcada em provas robustas e documentais. Um diálogo travado com o filho sobre a entrega do dinheiro “apurado” na venda das joias, ele propõe que tudo seja feito fora do sistema bancário, para não deixar rastros. Não. Não estamos falando de um integrante da milícia carioca. Estamos tratando aqui de um alto oficial do Exército Brasileiro, com quatro dragonas no ombro. Um general, portanto, formado nos rigores da AMAN. E, pasmem, ele chegou a ocupar o posto de chefe do Departamento de Educação do Exército. Confiram o trecho do relatório oficial da PF:
“Já no dia 18 de janeiro de 2023, MAURO CID envia uma mensagem de áudio para MARCELO CAMARA, assessor de JAIR BOLSONARO, que no referido período, estava acompanhando o ex-Presidente na cidade de Orlando/FL. Na mensagem MAURO CID aborda três assuntos, que estariam relacionados. O conteúdo do áudio revelou inicialmente que o general MAURO LORENA CID estaria com 25 mil dólares, possivelmente pertencentes a JAIR BOLSONARO. Na mensagem, MAURO CID deixa evidenciado o receio de utilizar o sistema bancário formal para repassar o dinheiro ao ex-Presidente e então sugere entregar os recursos em espécie, por meio de seu pai, diz: “Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que, que era melhor fazer com esse dinheiro levar em ‘cash’ aí. Meu pai estava querendo inclusive ir ai falar com o presidente (...) E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (...). Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor ne? (...)”.
Observem, a seguir, o registro do celular na Apex, no alto – canto esquerdo – do print feito pela PF:
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
Quem é o general Mauro Cesar Lourena Cid?
Oficial do Exército Brasileiro, o general Lourena Cid é amigo de longa data de Jair Bolsonaro, tendo se formado junto com o ex-presidente na Academia Militar dos Agulhas Negras (AMAN). O general está na reserva, mas graças à sua relação de camaradagem com o ex-presidente, entre 2019 e o início de 2023, esteve à frente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), nos Estados Unidos, nomeado pelo amigo no poder.
Em 2015, assumiu o posto de Comandante Militar do Sudeste, comando enquadrante da 2ª Região Militar e da 2ª Divisão de Exército, até 2017. Em seguida, o general fez parte do Departamento de Educação do Exército. O pai de Lourena Cid, Antônio Carlos Cid, chegou a trabalhar na Casa Militar, onde está a ajudância de ordens, no governo de José Sarney.
Inconformado com a prisão do filho, pai de Mauro Cid manifestou, no início deste ano, inconformidade com a inação do Exército e os setores mais bolsonaristas da política que isolaram o tenente-coronel Mauro Cid, de acordo com informações do jornal O Globo.
Cid filho é investigado por corrupção por conta das joias sauditas, além de estar detido por falsificar e invadir dados de vacinação de si mesmo e do ex-presidente Bolsonaro, além de também ser investigado por um sistema de rachadinha que teria beneficiado Michelle Bolsonaro. No momento, a sua condição é a de indiciado, após a conclusão das investigações, pela Polícia Federal.
Denise Assis
Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".
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Comentários
FICO IMAGINANDO ESTA SENHORA COM TODO ESSE TRABALHO DETALHADO, SOBRE O BOLSONARO, IMAGINO SE ESTIVESSE COMO OS PROMOTORES FEDERAIS AJUDANDO A DESCOBRIR OS ROUBOS DO FAMOSO LULA CONDENADÃO. SERIAM NO MINIMO 300 ANOS DE PRISÃO. OU O LULA NÃO ROBOU?
FICO IMAGINANDO ESTA SENHORA COM TODO ESSE TRABALHO DETALHADO, SOBRE O BOLSONARO, IMAGINO SE ESTIVESSE COMO OS PROMOTORES FEDERAIS AJUDANDO A DESCOBRIR OS ROUBOS DO FAMOSO LULA CONDENADÃO. SERIAM NO MINIMO 300 ANOS DE PRISÃO. OU O LULA NÃO ROBOU?
Essa turma de militares da qual Bolsonaro se cercou ao longo dos 4 anos do seu mandato, são a vergonha do Exército Brasileiro. Tantos bons militares tiveram o nome da corporação maculado por essa meia-dúzia de "pseudopatriotas", escalados pelo boso para roubar joias e cometer outros crimes.
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