SE DOER, É SÓ GRITAR

“Se doer, é só gritar” — diz o médico à senhora indo pra ressonância (que ela disse várias vezes que não podia fazer)

Fonte: José Danilo Rangel - Publicada em 20 de dezembro de 2024 às 10:13

SE DOER, É SÓ GRITAR

Medo de bater de moto e me jogarem 
no João Paulo II. Quebrar uma perna, 
um braço, a cara, o quadril e me largarem 
no João Paulo II; desde 2011, o pior hospital 
do Brasil,

Desde 2011 acumulando horrores.

Quinze dias no corredor, precisando 
de um banho, de uma fralda nova,
de analgésicos, de um abraço, ouvindo 
gritos de cala a boca;

Desejo de ir morrer em casa.

Três meses com o joelho rejeitando 
os pinos, a perna toda troncha, 
interromperam o Tramal, ninguém 
sabe quem foi, nem o porquê;

Dignidade, onde é que tem?
Busca lá um pouco pra mim!

Infectado por uma bactéria doida, 
resistente a tudo que é antibiótico;

Vontade de fumar um cigarro, saudade 
de casa e de ser gente
(aqui ninguém é gente, não);

Quinhentos acidentados na fila 
da cirurgia, internado pela terceira 
vez:

Queriam me liberar, sabia? 
Pra esperar em casa... A morte… 
Só se fosse…

Um senhor voltou com AVC, tinha 
sido medicado, estabilizado e mandado 
pra casa. O corpo passou no corredor,
num saco preto. O filho atrás, chorando.

“Se doer, é só gritar” — diz o médico 
à senhora indo pra ressonância 
(que ela disse várias vezes que não 
podia fazer)

O médico é um jovem de bigode, 
passa e já nem olha, nem ouve
como um veterano.

O MP veio aí, sabia?, e um deputado,
parece, ou um vereador, por isso,
a correria: pessoal escondendo tudo, 
liberando pacientes, trancando portas.

Desde 2011.

SE DOER, É SÓ GRITAR

“Se doer, é só gritar” — diz o médico à senhora indo pra ressonância (que ela disse várias vezes que não podia fazer)

José Danilo Rangel
Publicada em 20 de dezembro de 2024 às 10:13
SE DOER, É SÓ GRITAR

Medo de bater de moto e me jogarem 
no João Paulo II. Quebrar uma perna, 
um braço, a cara, o quadril e me largarem 
no João Paulo II; desde 2011, o pior hospital 
do Brasil,

Desde 2011 acumulando horrores.

Quinze dias no corredor, precisando 
de um banho, de uma fralda nova,
de analgésicos, de um abraço, ouvindo 
gritos de cala a boca;

Desejo de ir morrer em casa.

Três meses com o joelho rejeitando 
os pinos, a perna toda troncha, 
interromperam o Tramal, ninguém 
sabe quem foi, nem o porquê;

Dignidade, onde é que tem?
Busca lá um pouco pra mim!

Infectado por uma bactéria doida, 
resistente a tudo que é antibiótico;

Vontade de fumar um cigarro, saudade 
de casa e de ser gente
(aqui ninguém é gente, não);

Quinhentos acidentados na fila 
da cirurgia, internado pela terceira 
vez:

Queriam me liberar, sabia? 
Pra esperar em casa... A morte… 
Só se fosse…

Um senhor voltou com AVC, tinha 
sido medicado, estabilizado e mandado 
pra casa. O corpo passou no corredor,
num saco preto. O filho atrás, chorando.

“Se doer, é só gritar” — diz o médico 
à senhora indo pra ressonância 
(que ela disse várias vezes que não 
podia fazer)

O médico é um jovem de bigode, 
passa e já nem olha, nem ouve
como um veterano.

O MP veio aí, sabia?, e um deputado,
parece, ou um vereador, por isso,
a correria: pessoal escondendo tudo, 
liberando pacientes, trancando portas.

Desde 2011.

Comentários

    Seja o primeiro a comentar

Envie seu Comentário

 
NetBet

Envie Comentários utilizando sua conta do Facebook