Se eleições não levam a aumento de casos, não deve haver novo lockdown, afirma ministro
Para ele, caso a campanha eleitoral, com dois meses de duração, durante a qual houve grande contato entre as pessoas, não tenha como resultado um aumento expressivo nas contaminações e mortes por covid-19, não haverá motivo para estabelecer novas medidas de distanciamento social
Para o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, será importante observar os dados epidemiológicos sobre a covid-19 no momento atual, passadas as eleições municipais de novembro. Para ele, caso a campanha eleitoral, com dois meses de duração, durante a qual houve grande contato entre as pessoas, não tenha como resultado um aumento expressivo nas contaminações e mortes por covid-19, não haverá motivo para estabelecer novas medidas de distanciamento social.
Esse raciocínio foi oferecido por Pazuello na reunião desta quarta-feira (2) da comissão mista que acompanha as ações do governo federal no enfrentamento à pandemia de covid-19, em resposta a questionamento do deputado Felício Laterça (PSL-RJ), que quis saber do ministro qual a política atual do governo com relação à pandemia.
— Há, por exemplo, países que advogam contra o isolamento e a favor da imunidade de rebanho; outros já defendem quarentenas rigorosas; e há também nações que entendem que uma testagem constante, em conjunto com medidas sanitárias equilibradas, pode funcionar como alternativa — exemplificou o parlamentar.
Foi então que Pazuello sugeriu que seja analisado o comportamento da pandemia a partir do fim das campanhas nas cidades.
— Se todo o processo eleitoral dos municípios, com todas as campanhas, aglomerações e eventos, se isso não causa nenhum tipo de aumento de contaminação no nosso país, então, não se fala mais em afastamento social, nós podemos falar em outra coisa. Mas algum reflexo tem que ter tido. Se esse vírus se propaga por aglomeração, por contato pessoal, por aerossóis, e nós tivemos a maior campanha democrática que poderia haver no nosso país, que é a municipal, nos últimos dois meses, se isso não trouxe nenhum tipo de incremento ou aumento em contaminação, nós não podemos falar mais em lockdown nem nada. É claro que há uma mudança de fluxo, de linha, de senoide: ela sobe. Coisas acontecem, e ela sobe. Coisas acontecem, e ela cai. Isso é observação e conhecimento — afirmou o ministro.
Testes estocados
Pazuello ainda informou que os quase 7 milhões de testes para detectar a covid-19, estocados em galpões do Ministério da Saúde (MS) em Guarulhos (SP), devem ter seus prazos de validade estendidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nos próximos dias. A liberação da Anvisa é necessária, pois os testes, comprados pelo governo federal para uso emergencial, vencem no dia 21 de dezembro. Ainda assim, Pazuello afirmou que o Ministério nunca entendeu que essa seria a data-limite para uso dos testes, pois os seus componentes têm prazos de validade superiores.
— Nunca partimos da premissa de que os testes vencem em dezembro. As validades dos testes estão para 2021, 2022 e até 2023; do que compõem os testes. Foi feito um registro inicial na Anvisa e a empresa [Seegene] deu uma validade emergencial para iniciar o uso, que é bem pequena, de oito meses. Essa validade inicial será renovada, porque todos os componentes dos testes tem a validade muito mais estendida. Nós sempre soubemos disso. As discussões técnicas com a Anvisa são anteriores, não são de agora. Essa é uma coisa importante de ser colocada, isso já vem sendo tratado tanto com a empresa quanto com a Anvisa — explicou.
Ao questionar o ministro sobre o processo de revalidação dos testes, o senador Esperidião Amin (PP-SC) lamentou que, enquanto milhões de testes comprados pelo governo federal ainda não foram distribuídos, prefeituras de Santa Catarina tenham adquirido kits de testagem "por preços quatro, cinco vezes superiores ao preço médio desses testes do ministério".
Vacina opcional
Perguntado pelos senadores, Pazuello ainda deixou claro que o governo defenderá, em julgamento a ser realizado este mês no Supremo Tribunal Federal (STF), a não-obrigatoriedade da vacinação contra a covid-19. O ministro explicou que o governo vai promover uma campanha de conscientização, que já deverá gerar "uma grande procura" pela vacina.
— Nossa estratégia é a não-obrigatoriedade da vacina. Com uma grande campanha de conscientização, vamos ter uma procura muito grande. Mas aguardamos a posição do STF, que vai fazer o julgamento da obrigatoriedade. Vamos nos defender e apresentar nossas ideias, e os juízes vão definir — explicitou.
Prioridade na vacinação
Durante a reunião da comissão, o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério, Arnaldo Medeiros, listou os grupos prioritários da futura campanha de vacinação contra a covid-19, assim que os imunizantes sejam liberados pela Anvisa e a logística para a vacinação esteja pronta. Segundo ele, os grupos prioritários estarão, preliminarmente, separados em quatro fases de vacinação maciça.
— O primeiro grande grupo a ser vacinado serão os trabalhadores da saúde, pessoas com 80 anos ou mais, pessoas com 75 a 79 anos que vivam em abrigos de longa permanência, e a população indígena. Na fase 2, pessoas com 70 a 74 anos, 65 a 69 anos, e 60 a 64 anos. Na fase 3, as pessoas com comorbidades. E na fase 4, professores, trabalhadores de forças de segurança e salvamento, funcionários do sistema prisional e a população privada de liberdade — informou.
Os senadores Eliziane Gama (Cidadania-MA) e Izalci Lucas (PSDB-DF) pediram que, em suas campanhas publicitárias, o Ministério da Saúde seja mais incisivo na necessidade de as pessoas se vacinarem, não só contra a covid-19, mas também em outras campanhas imunizantes. Ambos se preocupam com o discurso anti-vacinação que se disseminou pela internet e redes sociais, que têm feito a adesão popular às campanhas de vacinação cair nos últimos anos, permitindo que doenças que haviam sido erradicadas do Brasil ressurjam nos últimos anos.
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