Se os médicos são contra, talvez a terceirização da saúde em Rondônia mereça uma nova análise

O que motivou esta reavaliação foi a resistência ferrenha do Sindicato dos Médicos de Rondônia (Simero), que disparou críticas e mobilizou protestos contra a medida

Fonte: Por Rubens Coutinho/Foto: Frank Néry Secom - Publicada em 22 de abril de 2025 às 10:41

Se os médicos são contra, talvez a terceirização da saúde em Rondônia mereça uma nova análise

Em artigo anterior publicado neste mesmo espaço — “Privatização suspeita e a sucessão amarga: um desgaste atrás do outro ameaça pretensões de Marcos Rocha ao Senado” — manifestei preocupação com o projeto de terceirização da saúde pública estadual, promovido pelo governo Marcos Rocha (União Brasil). À época, destaquei a falta de transparência no processo, o vultoso montante envolvido — mais de R$ 600 milhões —, o histórico de fracassos na área da saúde e o risco de favorecimento à empresa Mediall Brasil Gestão em Saúde, de Goiânia. Essas preocupações continuam válidas. No entanto, como quem pensa pode — e deve — mudar de ideia diante de novos elementos, retorno ao tema sob outro ponto de vista.

O que motivou esta reavaliação foi a resistência ferrenha do Sindicato dos Médicos de Rondônia (Simero), que disparou críticas e mobilizou protestos contra a medida. Se os médicos são contra, talvez haja, justamente aí, um indicativo de que o modelo proposto não seja tão ruim quanto aparenta.

Não se trata de generalização, mas é preciso reconhecer que a atual gestão do Hospital João Paulo II — que deveria ser referência em atendimento de urgência e emergência — está em colapso. O hospital virou símbolo do descaso. Instalações precárias, equipamentos sucateados e servidores estatutários que, em muitos casos, tratam a população com indiferença. Médicos que acumulam cargos na rede privada, onde são cobrados por metas e resultados, parecem não demonstrar o mesmo comprometimento no serviço público, onde a cobrança é frouxa e a impunidade é regra.

Não é novidade. No governo Cassol, o então secretário de Saúde, Miguel Sena, tentou impor cumprimento de jornada aos médicos. Resultado: foi execrado. O corporativismo falou mais alto.

É nesse contexto de repetidos fracassos que a terceirização da gestão volta ao debate. Sim, os riscos existem. A possibilidade de desperdício de dinheiro público, favorecimento indevido e contratações sem critério técnico estão no radar — e precisam continuar no centro da vigilância. Mas fazer mais do mesmo, insistindo em uma estrutura falida, é apostar na estagnação. Talvez uma gestão terceirizada, com metas, fiscalização e cobrança de resultados, consiga romper com essa cultura de desorganização institucionalizada.

A proposta, contudo, não pode prescindir de acompanhamento rigoroso. Cabe ao próprio Simero, ao Conselho Regional de Medicina, ao Coren, ao Conselho Estadual de Saúde, ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas fiscalizar cada etapa, da licitação à execução dos contratos, passando por critérios técnicos e financeiros.

Não se espere, no entanto, envolvimento firme da Assembleia Legislativa, historicamente omissa e alinhada ao Executivo, salvo raras exceções.

Portanto, ao revisitar este tema, reforço: minhas críticas ao modelo permanecem no que diz respeito à transparência, aos valores envolvidos e à lisura do processo. Mas a reação contrária dos médicos, preocupados em manter privilégios e zonas de conforto, acende uma luz de alerta positiva. Talvez, justamente por incomodar quem sempre operou sem cobranças reais, a proposta mereça ser testada.

É hora de tentar o novo — e garantir, com firmeza, que funcione.

Se os médicos são contra, talvez a terceirização da saúde em Rondônia mereça uma nova análise

O que motivou esta reavaliação foi a resistência ferrenha do Sindicato dos Médicos de Rondônia (Simero), que disparou críticas e mobilizou protestos contra a medida

Por Rubens Coutinho/Foto: Frank Néry Secom
Publicada em 22 de abril de 2025 às 10:41
Se os médicos são contra, talvez a terceirização da saúde em Rondônia mereça uma nova análise

Em artigo anterior publicado neste mesmo espaço — “Privatização suspeita e a sucessão amarga: um desgaste atrás do outro ameaça pretensões de Marcos Rocha ao Senado” — manifestei preocupação com o projeto de terceirização da saúde pública estadual, promovido pelo governo Marcos Rocha (União Brasil). À época, destaquei a falta de transparência no processo, o vultoso montante envolvido — mais de R$ 600 milhões —, o histórico de fracassos na área da saúde e o risco de favorecimento à empresa Mediall Brasil Gestão em Saúde, de Goiânia. Essas preocupações continuam válidas. No entanto, como quem pensa pode — e deve — mudar de ideia diante de novos elementos, retorno ao tema sob outro ponto de vista.

O que motivou esta reavaliação foi a resistência ferrenha do Sindicato dos Médicos de Rondônia (Simero), que disparou críticas e mobilizou protestos contra a medida. Se os médicos são contra, talvez haja, justamente aí, um indicativo de que o modelo proposto não seja tão ruim quanto aparenta.

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Não se trata de generalização, mas é preciso reconhecer que a atual gestão do Hospital João Paulo II — que deveria ser referência em atendimento de urgência e emergência — está em colapso. O hospital virou símbolo do descaso. Instalações precárias, equipamentos sucateados e servidores estatutários que, em muitos casos, tratam a população com indiferença. Médicos que acumulam cargos na rede privada, onde são cobrados por metas e resultados, parecem não demonstrar o mesmo comprometimento no serviço público, onde a cobrança é frouxa e a impunidade é regra.

Não é novidade. No governo Cassol, o então secretário de Saúde, Miguel Sena, tentou impor cumprimento de jornada aos médicos. Resultado: foi execrado. O corporativismo falou mais alto.

É nesse contexto de repetidos fracassos que a terceirização da gestão volta ao debate. Sim, os riscos existem. A possibilidade de desperdício de dinheiro público, favorecimento indevido e contratações sem critério técnico estão no radar — e precisam continuar no centro da vigilância. Mas fazer mais do mesmo, insistindo em uma estrutura falida, é apostar na estagnação. Talvez uma gestão terceirizada, com metas, fiscalização e cobrança de resultados, consiga romper com essa cultura de desorganização institucionalizada.

A proposta, contudo, não pode prescindir de acompanhamento rigoroso. Cabe ao próprio Simero, ao Conselho Regional de Medicina, ao Coren, ao Conselho Estadual de Saúde, ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas fiscalizar cada etapa, da licitação à execução dos contratos, passando por critérios técnicos e financeiros.

Não se espere, no entanto, envolvimento firme da Assembleia Legislativa, historicamente omissa e alinhada ao Executivo, salvo raras exceções.

Portanto, ao revisitar este tema, reforço: minhas críticas ao modelo permanecem no que diz respeito à transparência, aos valores envolvidos e à lisura do processo. Mas a reação contrária dos médicos, preocupados em manter privilégios e zonas de conforto, acende uma luz de alerta positiva. Talvez, justamente por incomodar quem sempre operou sem cobranças reais, a proposta mereça ser testada.

É hora de tentar o novo — e garantir, com firmeza, que funcione.

Comentários

  • 1
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    Alexander 24/04/2025

    Matéria mal feita, conteúdo sem conhecimento de causa. Com certeza e mais um pau mandado do governo.

  • 2
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    johnsilva 23/04/2025

    Conversa de privatizar a saude no estado já vem de outros carnavais, na epoca do hj senador também se tentou a privatização, inclusive por coincidencia empresas de Goiás, sempre com denuncias de superfaturamento, má prestação de serviços, falta de profissionais, péssimo atendimento, etc, mas o então Sr Raimundo Nonato, na época presidente do Conselho Estadual de Saúde lutou ferrenhamente contra a privatização, nunca tivemos boas noticias depois de privatizar qualquer área da saúde, será que dessa vez alguma coisa vai mudar?

  • 3
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    Jonas Nascimento da conceição 22/04/2025

    Não foi a iNao que quis sair , foi secretário q não quis pagar o q eles pediram, esse governo e uma vergonha, e um descaso com a população

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