Sem apaziguamentos com os criminosos do 8 de janeiro

'A síntese do que vem a partir de agora foi oferecida por Alexandre de Moraes: a Justiça não fará concessões aos agressores da democracia', avalia Moisés Mendes

Moisés Mendes
Publicada em 09 de janeiro de 2024 às 15:18
Sem apaziguamentos com os criminosos do 8 de janeiro

Alexandre de Moraes (Foto: Waldemir Barreto / Agência Senado)

O ato em defesa da democracia no Congresso cumpriu o que prometeu, mas só estará completo se for inspirador de ações na área que ainda não completou o serviço para a reparação dos fatos do 8 de janeiro.

É a área que, pela definição do ministro Alexandre de Moraes, menos deve confundir paz com apaziguamento e esquecimento. É o espaço de atuação de Moraes, a arena do sistema de Justiça.

Todos os que estiveram no salão negro do Congresso são defensores da democracia. Todos estão certos de que houve uma tentativa de golpe. Todos tiveram participação em iniciativas de imposição das instituições para derrotar o fascismo.

E todos sabem que os líderes do golpe estão impunes. Chegamos ao momento em que é preciso mais do que compreender o que começou a acontecer muitos anos antes do 8 de janeiro. É preciso, para muito além da compreensão oferecida pela política, dar sentido à resistência e conter a extrema direita.

É a hora do sistema de Justiça apressar o passo. Para que o passado não se repita – como foi enfatizado na maioria dos discursos de Fátima Bezerra, Paulo Gonet, Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Rodrigo Pacheco e Lula –, chegou o momento de agarrar o presente.

E o presente é de inquietação com o que ainda não aconteceu. Gonet disse que os invasores de Brasília deixaram “imundícies esparramadas no centro simbólico da vida institucional”. Os líderes ainda inalcançados do golpe podem ser incluídos nesse monturo.

Alexandre de Moraes falou de passado, presente e futuro por saber que a urgência do presente hoje é o oferecimento de confiança e garantias aos brasileiros de que os chefes do golpe, da idealização ao planejamento (e que fugiram na hora da execução), não podem contar com atitudes apaziguadoras.

Moraes disse que a impunidade não representa paz nem união. E que todos os que compactuaram com a tentativa de quebra da democracia e de incitação a um estado de exceção serão responsabilizados. Porque apaziguar seria encorajar grupos extremistas à prática de novos atos.

Foi o que todos eles disseram. Que a impunidade não é o único objetivo perseguido pelos criminosos do 8 de janeiro e seus líderes. A impunidade é a escada para que eles voltem a agir com, na definição de Moraes, os mesmos métodos nazistas e fascistas de ódio e mentira consagrados pelas redes sociais golpistas. Para atacar o governo, a Justiça, a imprensa e as pessoas.

Barroso lembrou que milhares de pessoas comuns foram transformadas em criminosos e aprendizes de terroristas que associaram rezas e religiosidade a atos violentos.

Lula fez menção aos “militares legalistas”, para separá-los e se referir indiretamente aos outros, aos articuladores do golpe ainda impunes.

Falou do “ex-presidente golpista” sem citar seu nome. E disse que não há perdão para quem atenta contra a democracia e contra o próprio povo.

Não haverá apaziguamento, disse Moraes. É inimaginável que possa existir perdão, segundo Lula. E o passado não pode ressurgir recrudescido, afirmou Gonet.

O passado, contando-se daquele 8 de janeiro, já tem um ano. Contando-se desde 2018, quando as milícias do golpe começam a ser estruturadas, para que Bolsonaro tentasse se perpetuar no poder, o passado que pode recrudescer tem mais de cinco anos. Se for contado desde 2016, no golpe contra Dilma Rousseff, o passado está às vésperas de completar uma década.

Barroso disse que episódios dramáticos definem o caráter de uma nação. E a reação a esses fatos nos informam se avançaremos ou se retrocederemos.

A etapa ainda inconclusa, para que o passado não ressuscite e nos vença, é a do desfecho de investigações e processos contra os poderosos inalcançados, dos altos chefes aos endinheirados que subsidiaram o golpe.

A etapa incompleta é a que deve ao país um sinal de certeza na reparação, para que os líderes não continuem blefando e laranjas não sejam apresentados como únicos financiadores do fascismo.

O futuro ainda gasoso vai cobrar mais adiante o que se fez para que o passado não se repita. Não apaziguar com os chefes golpistas civis e militares é o primeiro passo, que precisa ser apressado.

Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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