Só a cabeça de Weintraub resolve
"A demissão de Weintraub é vista com bons olhos pelo entorno militar do presidente há tempos, e cresce, no Planalto, o movimento para convencer Bolsonaro a fazer esse gesto", escreve Helena Chagas
Abraham Weintraub (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
O melhor presente que o Supremo Tribunal Federal (e o país) poderia receber de Jair Bolsonaro hoje seria a cabeça de Abraham Weintraub, o ministro da Educação que, mesmo investigado pelo Supremo no inquérito das fake news, foi à Esplanada dos Ministérios se solidarizar com os manifestantes que atacaram a Corte com fogos de artifício no sábado à noite. A demissão de Weintraub é vista com bons olhos pelo entorno militar do presidente há tempos, e cresce, no Planalto, o movimento para convencer Bolsonaro a fazer esse gesto.
Mais uma vez, porém, as previsões de quem conhece a dinâmica político-familiar de Bolsonaro são de que a ala ideológica, puxada pelos filhos, vai segurar o ministro no cargo. Weintraub virou um ativista da linha de frente do bolsonarismo, e, afinal, o filho Eduardo esteve também na Esplanada com os mesmo objetivos neste fim de semana — e também sem máscara.
Tanto Weintraub quanto Eduardo foram se solidarizar com Sara Winter e demais integrantes do movimento dos 300 pelo Brasil, que teve seu acampamento no local dispersado pela PM do DF. Na prática, aliás, ambos se solidarizaram com os vândalos que, horas depois, fariam um ataque de rojões ao prédio do STF e com a militante que também está sendo investigada no inquérito das fake news e que foi presa nesta manhã pela Polícia Federal.
As prisões relacionadas aos eventos do fim de semana, incluindo a de Renan Sena, solto sob fiança na Polícia Civil depois de participar do ataque ao Supremo, fazem a crise subir de patamar. Até agora, apesar do inquérito e dos depoimentos, o confronto estava situado mais ou menos no plano da retórica, ainda que bem inflamada. Agora, parecemos estar diante da disposição concreta das autoridades judiciais e do governo do DF à ação concreta, que é prender os responsáveis pelas manifestações antidemocráticas.
Pelo roteiro normal das crises que vem sendo seguido nas últimas semanas, hoje seria dia de Bolsonaro pegar leve e recuar, quem sabe condenando duramente o ataque ao Supremo e demitindo o ministro que o defende. Qualquer coisa abaixo disso vai jogar lenha na fogueira institucional.
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