Sobre as vitórias e, principalmente, as lutas
O consolo maior: nunca é tarde para aprender!
“DERROTA NÃO É UMA OPÇÃO”. A instigante e inspiradora frase do filme da Demi Moore (Até o Limite da Honra) não lhe saía da cabeça.
Desde cedo, muitos anos antes até do lançamento da película, ele já havia arraigado o princípio, verdadeira espinha dorsal (uma delas) em sua vida, que jamais iniciava qualquer empreendimento para perder.
Mesmo nos tempos de juventude, quando se submetia fosse a um jogo (de handebol), fosse, sobretudo, a concursos e provas, invariavelmente dava o seu melhor para ganhar.
Não vencia sempre. Mas, sempre lutava para ganhar.
Nas vezes que perdia (nos concursos públicos) encontrava o conforto da família, sobretudo do pai, que invariavelmente lhe estimulava: “Calma, Meu Filho, você ainda vai passar em algo melhor”, quase que profetizando o futuro promissor do esforçado rapaz.
Nessas ocasiões segurava o choro até chegar em casa. Então, desabava e era consolado pelo pai.
Engraçado que, depois de velho (maduro, na verdade), em algumas ocasiões gostaria tanto de ter chorado em público. Sobretudo em discursos e momentos solenes, algumas lágrimas podem dizer mais que centenas de palavras.
Como a vida vai moldando a personalidade das pessoas!
No entanto, nem mesmo quase meio século de existência bastou para lhe tirar o gosto (e o esforço, sobretudo) pela vitória.
Por mais absoluto que pudesse ser o princípio (DERROTA NÃO É UMA OPÇÃO!), o dogma era uma verdadeira bênção em sua vida.
Sempre se esforçava muito, dava o seu melhor em praticamente tudo que colocava a mão por fazer; mas, quando perdia (e perdeu muitas vezes) não se deixava sucumbir. Chorar fazia (faz) parte e até serve para irrigar a couraça e arrefecer a soberba.
Os insucessos também lhe refinavam, ainda mais, o esforço: à vista de um fracasso, ele ficava ansioso para ter nova chance e, então, alcançar o sucesso.
No entanto, naqueles dias tão desafiadores, a frase estava ardendo em sua cabeça e coração mais do que estava acostumado.
Ele havia enveredado, desde o início do ano, em um projeto que, se não era o mais desafiador em toda a sua vida até então, ficaria entre os três ou cinco mais.
Sonhava ajudar um grupo de pessoas que sofre muito por conta de uma doença e cujo sofrimento a sociedade e o poder público não raro ousa tratar da forma pior possível: com preconceito, quando deveria haver compaixão; com desdém, quando deveria haver amor e acolhimento.
Começou o assim denominado FAROL DE ESPERANÇA – Resgatando VIDAS! de forma espalhafatosa e avassaladora, como era bem de seu costume.
O início veio com a promessa, alardeada estridentemente, que ajudaria dezenas, centenas, quem sabe milhares de pessoas que sofriam tanto com o flagelo do álcool e das drogas. Não apenas os dependentes, mas, também, seus familiares – que sofrem tanto ou mais.
Não tardou para conseguir bem mais de uma centena de voluntários.
O começo não poderia ter sido mais esperançoso.
Todavia, bastaram alguns poucos meses para defrontar-se com inúmeras dificuldades. E, com os espinhos, vieram as dúvidas, os receios, o “quase pavor” do fracasso.
As pessoas começaram a debandar do movimento. Alguns ainda apresentavam algumas justificativas; outros, nem isso faziam.
A dificultar, de vez, o andamento do trabalho, ele mesmo estava a enfrentar, há dois anos, um momento muito peculiar em sua vida. Há muito vivia em uma incômoda e persistente instabilidade emocional.
A questão foi de tal envergadura que passou a denominá-la “a maior batalha emocional de sua vida”. Se não fosse espalhafatoso, não seria dele.
O grupo, então, embora composto de pessoas virtuosas, passou a flutuar ao sabor dos constantes vai-e-véns emocionais do seu idealizador.
O momento sombrio enfrentado pela humanidade piorava, ainda mais, o já desolador quadro.
Não é fácil liderar e inspirar pessoas a ajudar o próximo. Mesmo depois do começo da pandemia, quando se sonhava que esse lado mais lindo do ser humano – a solidariedade – fosse ficar muito mais aflorado, era (e continua sendo) coisa não muito fácil fazer com que as pessoas saiam, efetivamente, de sua zona de conforto e se doem em prol de desconhecidos.
E o peso não saía de seus ombros.
Como na canção, “Até bem pouco tempo atrás poderíamos mudar o mundo; quem roubou nossa coragem?”.
Não suportava a ideia de perder! Ainda mais em uma questão como aquela e depois do tanto que sonhara ver o movimento ganhando a capital, o estado, o país e, quem sabe, até o exterior!
Até que, afrouxando um pouco a corda de autocobrança que quase estava a lhe enforcar, ele passou a conviver melhor com cenário tão tenebroso: como vai salvar o mundo se não está conseguindo sequer salvar-se a si mesmo?
Como ajudar terceiros, quando ele é quem estava precisando de socorro?
Primeiro, ajudaria a si mesmo; depois, quando estivesse bem, com sua paz e equilíbrio, completa e irrestritamente recompostos (para não haver mais recaída!), aí sim, conforme confidenciara para poucos, “o céu seria o limite”.
A saída, então, seria um “recuo estratégico”, como alguns políticos tanto gostam de dizer.
Um grande amigo, que tanto lhe ajudara no movimento (que ajudou a coordenar, com muita boa vontade e disposição, desde o nascedouro) e em tantas outras questões, um legítimo Amigo-Irmão, teve uma ideia genial.
Suspenderiam os trabalhos até que os tempos permitissem um contato mais direto com as pessoas, tipo olho no olho. A ferramenta – da videoconferência – é maravilhosa e melhora a cada dia; mas, tem suas limitações, sobretudo quando se trata de tocar o coração das pessoas.
Nessa ocasião, já, seguramente, com o tal idealizador do movimento em uma nova e superinteressante fase de sua vida, retomariam os trabalhos com força, empenho e fé totais. Conversariam com as pessoas, buscariam ajuda, mudariam o mundo!
DERROTA JAMAIS SERÁ UMA OPÇÃO!
A depressão está judiando do mundo. Cuida-se de genuína pandemia, embora invisível, a assolar, também, a humanidade.
Para ilustrar com alguns números europeus, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, um quarto da população do velho continente sofre todo ano de depressão. Dados também apontam que, em 2011, na França, o suicídio representava a primeira causa de mortalidade entre as pessoas de 25 a 34 anos.
A depressão é uma doença da alma.
Ninguém vê o corte; não se engessa o braço ou a perna. Nenhuma tomografia aponta.
No entanto, machuca uma barbaridade. Dói como se nos tivesse cortado a carne.
Apesar de sua gravidade e até letalidade, é vista, por muitos, como frescura ou algo que pode ser curado bastando que se queira. Bastando que se saia do sofá (ou da cama) e vá viver a vida (vá para a academia, vá trabalhar, vá curtir etc.).
Essa visão, embora preconceituosa, mesmo assim não esconde parte da verdade.
De fato, “a forma como enxergamos o mundo é o nosso mundo”. Se enxergarmos só trevas, dificilmente conseguiremos alcançar a luz. Como é um mal que afeta, principalmente, nossos pensamentos, se girarmos a chave e passarmos a cultivar bons pensamentos, o problema perderá, de certo, sua principal fonte de alimentação.
No entanto, a solução não é tão simples para quem está acometido da doença (sim, é uma doença!!!!). Não é tão fácil girar a chave de nossas mentes e corações. Fosse fácil e não teríamos milhões de doentes mundo afora.
E, tão ou mais difícil que recuperar-se, é pedir ajuda.
E a saída, não raro, acaba ficando restrita a afundar-se no sofá. Às vezes, por anos a fio!
Ele vivia uma vida absolutamente inspiradora, apaixonante. Extraordinária mesmo.
Teve a graça de conseguir, bem antes dos 30 anos, à custa de muito empenho pessoal, coisas que a maioria das pessoas não consegue a vida inteira.
E não parava de buscar. Sempre com muita entrega, fé e determinação.
O sucesso, porém, contrastava com seu sofrimento – e servia para impor-lhe ainda mais opressão e autocobrança nos ombros.
O fato é que ele simplesmente não suportava a ideia de viver uma vida tão abundante, bem sucedida e generosa e, mesmo assim, conviver com tamanha melancolia – ainda mais por tanto tempo.
Mas, a depressão é assim mesmo.
Não raro, sofremos sem nenhuma razão aparente. Tínhamos tudo para estarmos transbordando de alegria e, mesmo assim, estamos tristes, melancólicos, deprimidos.
Os deprimidos ainda têm que conviver com enorme preconceito da sociedade. Rotulados ora como preguiçosos, ora como insanos, não raro a saída é o anonimato; é colocar uma máscara e fingir, aos olhos de todos (às vezes até de familiares e pessoas mais íntimas), que está tudo bem.
Não! Não está tudo bem, não!!!!
“As cicatrizes que não se vê são as que doem mais...”
Não precisamos do julgamento e menos ainda da condenação de ninguém! Precisamos de respeito, compaixão e até ajuda – ainda que não a busquemos; como as pessoas esperam, às vezes até comodamente.
O filme da Demi Moore vale a pena ser visto. E revisto!
Não querendo dar os tão indesejáveis “spoilers”, mas, buscando, sinceramente, despertar a curiosidade do leitor, ele conta a estória de uma mulher que se inscreve num grupo de elite da Marinha dos Estados Unidos e tem que sobreviver em meio a um ambiente extremamente machista e preconceituoso.
A película trata de determinação e empenho para superar as barreiras da vida, por maiores que sejam.
Exatamente assim que devemos encarar os reveses, desafios e as lutas de nossa trajetória; encará-los como verdadeiramente são: OPORTUNIDADES DE CRESCIMENTO. E sempre nos empenharmos à altura!
Os desertos, invernos e até abismos fazem parte dessa extraordinária caminhada chamada vida. Viver é precisamente isso.
Quem não quiser conviver com perdas, frustrações, decepções, rejeições, melhor nem sair do ventre materno. Sim, porque quando a luz nos é dada já inicia nosso caminhar e, mesmo ali, ainda no lugar em que mais protegidos estamos e nos sentimos, podemos ser vítima de algum daqueles sentimentos.
Mas, talvez também por essa razão, seja tão divertido viver.
Viver é, disparado, a maior aventura que nos é dada enquanto mortais. É possível acordar a cada novo alvorecer e recomeçar tudo de novo. “Renascer com as manhãs”, como dizia o poeta da Jovem Guarda, e nos tornarmos seres humanos melhores. Quem sabe, até curados!
O percurso pode demorar semanas, meses e até anos. Nosso tempo é muito diferente do tempo de Nosso Senhor. Até lá, viver é a melhor receita. Melhor curtir o caminho, apesar dos espinhos, que ficar ansiando pela chegada.
Cumpre ter paciência e resignação. Às vezes, o sofrimento faz parte de um aprendizado que a vida ainda nos reserva. Logo, humildade completa o tripé de virtudes mais recomendado.
Engraçado como Paulo nos ensinou, há dois mil anos, a fórmula para qualquer doença – da alma ou não – e até hoje não aprendemos: Alegres na esperança; pacientes na tribulação; perseverantes em oração.
O consolo maior: nunca é tarde para aprender!
REGINALDO TRINDADE
Procurador da República. Pós-Graduado em Direito Constitucional. Membro da Academia Rondoniense de Letras. Idealizador da Caravana da Esperança, do Bazar da Solidariedade e do Movimento FAROL DE ESPERANÇA – Resgatando VIDAS! Doador do Médico sem Fronteiras e do Greenpeace. Colaborador da Associação Pestalozzi, da Casa Família Rosetta e da Associação Acolhedora Vencendo Gigantes (outrora Confrontando Gigantes). Ser humano abençoado.
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