Suicídios na Polícia Civil é três vezes maior do que as mortes em serviço

Desvalorização, baixos salários, jornadas extenuantes e acúmulo de trabalho, somados aos riscos inerentes da profissão, sobrecarregam saúde mental dos policiais

Assessoria
Publicada em 06 de outubro de 2021 às 15:00
Suicídios na Polícia Civil é três vezes maior do que as mortes em serviço

O suicídio entre policiais civis do estado de São Paulo registra índice epidêmico, sendo quase três vezes maior do que as mortes em serviço. Entre 2015-2021, 61 policiais civis tiraram a própria vida. No mesmo período, foram 21 policiais civis mortos enquanto trabalhavam.

Os dados foram obtidos com exclusividade pela Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (ADPESP), via Lei de Acesso à Informação (LAI). Somente em 2021, por exemplo, foram seis suicídios na Polícia Civil, contra um policial que faleceu durante o exercício da profissão.

“Diariamente, os policiais civis convivem com as mazelas e angústias do ser humano e encaram a morte, em defesa de todos os cidadãos. É sempre motivo de tristeza quando perdemos um irmão policial em serviço. Todavia, pouco se fala daqueles que tiram a própria vida. O número de suicídios na Polícia Civil paulista é assustador”, alerta Gustavo Mesquita Galvão Bueno, presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (ADPESP).

Para o delegado, há um somatório de fatores que levam ao suicídio, entre eles está a desvalorização do ser humano. “Há três décadas a Polícia Civil convive com o descaso dos governos. Os policiais civis trabalham por dois, às vezes por três, em jornadas extenuantes, para compensar o maior déficit da história da Instituição – são 14 mil cargos vagos”, esclarece Mesquita, que também preside a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Judiciária (ADPJ).

O delegado explica ainda que para além do acúmulo de trabalho, os baixos salários e a falta de infraestrutura levam os policiais a situações limite: “O policial, antes de mais nada, é um ser humano, tem suas necessidades, aspirações, compromissos financeiros pessoais e familiares”. Hoje, os policiais civis são obrigados a recorrer aos bicos para pagar suas contas, causando ainda mais sobrecarga física e mental. Anos sem reajustes, somados à perda de direitos trazidas por legislações estaduais e federais recentes, estrangulam o poder de compra dos servidores policiais, levando à míngua seu salário.

“Os policiais civis em São Paulo recebem os piores salários do país. O pífio reajuste concedido em 2019 foi rapidamente engolido pelo aumento da alíquota previdenciária e pela inflação do período. Todos esses fatores somados levam à um quadro de angústia e depressão que lamentavelmente podem resultar em uma tragédia como a decisão de tirar a própria vida”, complementa Mesquita.

O presidente da ADPESP/ADPJ explica ainda que não há aulas no curso de formação da Acadepol sobre saúde mental, e a oferta de acompanhamento psicológico pela Polícia Civil não têm sido suficiente. Para ele, sem cuidados e sem o suporte realmente efetivo de um serviço de saúde mental, o estresse inerente à profissão só aumenta.

“É cada vez mais necessário olhar para o policial como um ser humano. Salário digno, jornada de trabalho justa, infraestrutura adequada e a recomposição do efetivo são medidas fundamentais e urgentes para impedir o índice epidêmico de suicídios na Polícia Civil bandeirante, e garantir o bom serviço prestado à população”, defende Gustavo Mesquita.

MAIS INFORMAÇÕES

Com 72 anos de história, a Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (ADPESP) é a maior e mais antiga entidade representativa de Delegados estaduais em todo o Brasil, com mais de três mil associados. O presidente da ADPESP Gustavo Mesquita Galvão Bueno também preside a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Judiciária (ADPJ).

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