Todo mundo odeia o Jair
No abismo de incivilidade que se tornou o Brasil, todo mundo odeia o Jair, o Silva

Pouca gente conhece o Jair. Morador de um município na região metropolitana de Fortaleza, todo santo dia Jair Silva cruza a cidade para trabalhar, como ajudante de serviços gerais, em um luxuoso prédio em um dos bairros mais caros da cidade. Jair costuma acordar por volta das quatro horas da manhã. Enquanto sua esposa e o seus três filhos ainda dormem na kitnet alugada de 22 metros, Jair toma meio copo de café preto e anseia por uma tapioca na esquina do trabalho.
Pulando de ônibus em ônibus, Jair se orgulha de jamais ter chegado atrasado ao trabalho. Lá, apenas meia dúzia de pessoas, todos funcionários, sabem que Jair se chama Jair. Para os moradores, Jair não existe. Jair é apenas mais um invisibilizado, um sujeito que nada fez para vencer na vida e que merece, sim, ser odiado com todas as forças da natureza. Essa gente, diriam eles sobre pessoas como o Jair, é o grande problema desse país. Que se danem!
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A caminho do trabalho, pela janela do ônibus, Jair vê meia dúzia de gatos pingados no calçadão da Avenida Beira-Mar, vestindo a camisa da seleção brasileira e acenando bandeiras do Brasil, Estados Unidos e, qual seria aquela bandeira com uma estrela azul sobre um fundo branco, entre duas faixas azuis horizontais, que Jair não reconhece? Sim, Jair também trabalha aos domingos. E Jair lembra que nunca correu no calçadão da Beira-Mar, mas acha legal ver gente rica e branca se exercitando ali. Parece outro país, pensa. Jair nunca leu Iracema, mas gosta de passar por aquela avenida e espichar os olhos para ver o Mara Hope e imaginar até quando ele ficará ali naquela sua eterna briga com o mar.
Jair, que tem sobrevivido graças aos projetos sociais dos governos do PT, sabe que em uma praia não muito distante dali um Jair que nunca trabalhou na vida vocifera impropérios, baba e destila ódio aos borbotões. A ouvi-lo, centenas de pobres remediados, bastardos, falsos profetas, golpistas e ressentidos em geral. Imersos em uma dissonância cognitiva coletiva, mas também na cretinice e no mau caratismo, aplaudem seu ídolo de pés de barro. Jair não sabe como as democracias morrem nem sabe que o ato do outro Jair só é possível de acontecer por estarmos em uma democracia, a mesma democracia que Jair tentou e continua tentando destruir. No abismo de incivilidade que se tornou o Brasil, todo mundo odeia o Jair, o Silva.
Carlos Carvalho
Doutor em Linguística Aplicada e professor na Universidade Estadual do Ceará - UECE.
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