Trump e a propaganda: o caso das deportações em massa!

"O tal sonho americano virou um pesadelo", diz Arnóbio Rocha

Fonte: Arnóbio Rocha - Publicada em 27 de janeiro de 2025 às 12:16

Trump e a propaganda: o caso das deportações em massa!

Brasileiros deportados dos Estados Unidos em Manaus (AM) (Foto: GOV AM/Divulgação )

As imagens terríveis e degradantes de brasileiros deportados dos EUA nesse último final de semana correram o mundo e viraram uma enorme propaganda “positiva” do presidente Trump, dos EUA, para seu público interno, cada dia mais doente e de uma realidade paralela, que muitos atribuem como sendo loucura. Infelizmente, nela há um método, um meio de fazer política que muitas vezes parece incompreensível, mas há uma lógica, ainda que nos escape. Para entender, temos que nos abstrair de valores civilizatórios, de dignidade humana ou mesmo sentimentos moralistas de caráter religioso. Essa arena política é diferente.

As imagens dos brasileiros algemados pelas mãos e pés, num voo em avião militar velho, que levou 50 horas para chegar a Manaus, o que no máximo levaria 8 horas, revela que o objetivo de mandar um duro recado de TERROR e MEDO ao mundo funcionou plenamente, inclusive, para o próprio país, que tem nos imigrantes uma fonte inesgotável de mão de obra barata, subalterna e com medo de serem denunciados, acusados de crimes. O tal sonho americano virou um pesadelo, muitas vezes suportado porque nos países de origem, a situação financeira, política e de oportunidades são iguais ou piores, uma espécie de roleta russa pela sobrevivência.

No entanto, tem-se que entender mais profundamente os vários significados dessas deportações. O primeiro deles é que não é uma decisão feita por Trump agora à esmo. Há um “estoque” de deportados potenciais, muitos inclusive presos, ou que não têm emprego/empregabilidade, como também pelo endurecimento de regras de imigração há mais de dez anos, muitas vezes essas deportações foram proteladas, inclusive pela escassez de mão de obra. O que permite dizer que não entrou em vigor, ainda, toda aquela ameaça de expulsão de qualquer forma, com regras mais rápidas e simplificadas prometidas por Trump.

Obviamente que serve como eficiente propaganda: criou o terror e o medo, impôs uma série de humilhações aos países latinos - mesmo que os brasileiros pensem que não são latinos, são. A tragédia se completa quando se sabe que essas imagens foram usadas para arrecadação de fundos para Trump e os Republicanos, conseguindo ainda encobrir alguns temas mais prejudiciais aos imigrantes, como a questão dos pedidos de asilo.

No domingo (26), houve uma reação do presidente colombiano, Gustavo Petro, de que não receberia os aviões dos EUA com os deportados colombianos, que enfrentaria Trump, que mandaria o avião presidencial para trazer de volta os cidadãos de seu país. A atitude viralizou como um feito extraordinário (e seria). No entanto, o governo dos EUA respondeu duramente, de que taxaria em 25% os produtos colombianos e que, se insistisse no intento, subiria para 50% a taxação. Um comunicado nesta segunda mostra o recuo do governo colombiano, concordando com a deportação feita por aviões militares dos EUA.

O episódio acabou por reforçar a posição de Trump e Rubio, impondo uma dura derrota à Colômbia e uma mensagem de que apenas ações conjuntas podem segurar os ímpetos de Trump. Ele e Rubio usaram no debate com Petro uma camada ideológica sem nenhum temor de críticas e deixando claro para o mundo que o embate é sim ideológico. Nesse campo, eles têm a hegemonia. Os jornais dos EUA deixam transparente o que defendem. Esse mundo livre não existe. Qualquer debate será respondido diretamente por Trump, sem nenhum freio interno, quase uma ditadura de uma nova plutocracia combinada pelas big techs e Wall Street.

A primeira etapa de imposição de uma nova política de intolerância à imigração parece vitoriosa, usando do “estoque”, mas a política de regras que Trump propôs na campanha será implantada?

Arnóbio Rocha

Advogado civilista, membro do Sindicato dos Advogados de SP, ex-vice-presidente da CDH da OAB-SP, autor do Blog arnobiorocha.com.br e do livro "Crise 2.0: A taxa de lucro reloaded".

154 artigos

Trump e a propaganda: o caso das deportações em massa!

"O tal sonho americano virou um pesadelo", diz Arnóbio Rocha

Arnóbio Rocha
Publicada em 27 de janeiro de 2025 às 12:16
Trump e a propaganda: o caso das deportações em massa!

Brasileiros deportados dos Estados Unidos em Manaus (AM) (Foto: GOV AM/Divulgação )

As imagens terríveis e degradantes de brasileiros deportados dos EUA nesse último final de semana correram o mundo e viraram uma enorme propaganda “positiva” do presidente Trump, dos EUA, para seu público interno, cada dia mais doente e de uma realidade paralela, que muitos atribuem como sendo loucura. Infelizmente, nela há um método, um meio de fazer política que muitas vezes parece incompreensível, mas há uma lógica, ainda que nos escape. Para entender, temos que nos abstrair de valores civilizatórios, de dignidade humana ou mesmo sentimentos moralistas de caráter religioso. Essa arena política é diferente.

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As imagens dos brasileiros algemados pelas mãos e pés, num voo em avião militar velho, que levou 50 horas para chegar a Manaus, o que no máximo levaria 8 horas, revela que o objetivo de mandar um duro recado de TERROR e MEDO ao mundo funcionou plenamente, inclusive, para o próprio país, que tem nos imigrantes uma fonte inesgotável de mão de obra barata, subalterna e com medo de serem denunciados, acusados de crimes. O tal sonho americano virou um pesadelo, muitas vezes suportado porque nos países de origem, a situação financeira, política e de oportunidades são iguais ou piores, uma espécie de roleta russa pela sobrevivência.

No entanto, tem-se que entender mais profundamente os vários significados dessas deportações. O primeiro deles é que não é uma decisão feita por Trump agora à esmo. Há um “estoque” de deportados potenciais, muitos inclusive presos, ou que não têm emprego/empregabilidade, como também pelo endurecimento de regras de imigração há mais de dez anos, muitas vezes essas deportações foram proteladas, inclusive pela escassez de mão de obra. O que permite dizer que não entrou em vigor, ainda, toda aquela ameaça de expulsão de qualquer forma, com regras mais rápidas e simplificadas prometidas por Trump.

Obviamente que serve como eficiente propaganda: criou o terror e o medo, impôs uma série de humilhações aos países latinos - mesmo que os brasileiros pensem que não são latinos, são. A tragédia se completa quando se sabe que essas imagens foram usadas para arrecadação de fundos para Trump e os Republicanos, conseguindo ainda encobrir alguns temas mais prejudiciais aos imigrantes, como a questão dos pedidos de asilo.

No domingo (26), houve uma reação do presidente colombiano, Gustavo Petro, de que não receberia os aviões dos EUA com os deportados colombianos, que enfrentaria Trump, que mandaria o avião presidencial para trazer de volta os cidadãos de seu país. A atitude viralizou como um feito extraordinário (e seria). No entanto, o governo dos EUA respondeu duramente, de que taxaria em 25% os produtos colombianos e que, se insistisse no intento, subiria para 50% a taxação. Um comunicado nesta segunda mostra o recuo do governo colombiano, concordando com a deportação feita por aviões militares dos EUA.

O episódio acabou por reforçar a posição de Trump e Rubio, impondo uma dura derrota à Colômbia e uma mensagem de que apenas ações conjuntas podem segurar os ímpetos de Trump. Ele e Rubio usaram no debate com Petro uma camada ideológica sem nenhum temor de críticas e deixando claro para o mundo que o embate é sim ideológico. Nesse campo, eles têm a hegemonia. Os jornais dos EUA deixam transparente o que defendem. Esse mundo livre não existe. Qualquer debate será respondido diretamente por Trump, sem nenhum freio interno, quase uma ditadura de uma nova plutocracia combinada pelas big techs e Wall Street.

A primeira etapa de imposição de uma nova política de intolerância à imigração parece vitoriosa, usando do “estoque”, mas a política de regras que Trump propôs na campanha será implantada?

Arnóbio Rocha

Advogado civilista, membro do Sindicato dos Advogados de SP, ex-vice-presidente da CDH da OAB-SP, autor do Blog arnobiorocha.com.br e do livro "Crise 2.0: A taxa de lucro reloaded".

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