Uma eleição feita para dar em nada
"Os prováveis vencedores desta eleição são conhecidos: os que venceram a eleição passada", avalia o sociólogo Marcos Coimbra sobre as eleições municipais no Brasil. "O grande perdedor também: o capitão. De preferência, abraçado aos raros candidatos que, por falta de opção, resolveram se associar a ele"
Jair Bolsonaro (Foto: Alan Santos - PR)
Olhando as pesquisas realizadas nas 26 capitais estaduais, são nítidas algumas particularidades da eleição deste ano. Nem todas vão se repetir na próxima, muito mais importante, outras vão permanecer.
Elas mostram quão pouco mobilizadoras as de agora estão sendo, o que fica visível na predominância de taxas muito baixas de “voto espontâneo”. Um mês depois de iniciadas as campanhas e faltando apenas dez dias para o pleito, na maioria das cidades, não chega à metade a proporção de pessoas que sabe espontaneamente (ou diz que sabe) em quem irá votar.
Na pesquisa mais recente do Ibope em São Paulo, 54% dos entrevistados disseram “não sei” ou responderam “ninguém”, “branco” ou “nulo” à pergunta a respeito de em quem votariam, sem exibir os nomes dos candidatos ou candidatas. No Rio de Janeiro, foram 50%; em Vitória, 54%; em Fortaleza, 48%, no Recife, 54% (pesquisa CNN); em Porto Alegre, 58% (pesquisa Correio do Povo).
Isso, obviamente, é um problema, cujas causas vão além das imediatas: “eleição municipal é assim mesmo”, “esta começou tarde“ e “a pandemia”. Todas são verdadeiras, mas os números revelam mais que isso.
Neles, se expressa o descrédito da política e o ataque à sua legitimidade, promovidos pela avalanche autoritária dos últimos anos. Indicam, também, que o regramento das disputas eleitorais que construímos desde o fim da ditadura se tornou obsoleto e incapaz de encorajar a participação das pessoas, sem a qual a democracia de esvazia e vira mera formalidade.
Para que serve o Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral? Por que as longas e caras campanhas publicitárias da Justiça Eleitoral? Para que a alocação de blocos inteiros do jornalismo televisivo à “agenda dos candidatos”, acompanhando, na maior parte das vezes, o dia-a-dia de nulidades? Para que inundar a mídia com dados de pesquisa em dezenas de cidades, que só interessam a seus moradores (e que deseducam, ao sugerir que pesquisa de opinião é pesquisa eleitoral, como faz o Sistema Globo, incapaz de mandar realizar uma só pesquisa a respeito de assuntos nacionais)?
Um dos motivos do desinteresse e da desmotivação das pessoas é o despropositado número de candidatos, que torna quase impossível uma escolha criteriosa. Sem falar nos milhares de postulantes às Câmaras Municipais e pensando apenas nos candidatos a prefeito, algo que já era preocupante tornou-se um problema maior. Em São Paulo, temos 14 candidatos (foram 11 em 2012 e 2016). Em Curitiba, este ano, 16 pessoas concorrem (eram sete em 2012 e nove em 2016). Também em Goiânia, Natal e Teresina dobrou o número de candidatos, da última eleição para esta.
Essa proliferação de candidaturas é sintoma da desorganização do sistema político, com a perda da autoridade das lideranças que deveriam mantê-lo em funcionamento. Direções partidárias, governadores, prefeitos em exercício, apenas raramente conseguem coordenar o jogo politico e apresentá-lo de maneira compreensível ao cidadão. A lastimável turma que chegou ao poder em 2018 quer disfarçar sua incapacidade de contribuir para a organização politica dizendo que é virtude, mas é apenas um defeito.
Está evidente que uma eleição pouco motivadora e desorganizada beneficia, por inércia, quem está no poder. Se os eleitores estão desinteressados e o cenário é quase ininteligível, a escolha mais fácil é a mais provável.
Em metade das 26 capitais, os atuais prefeitos disputam novo mandato. Salvo em Porto Alegre e no Rio, todos são candidatos fortes ou muito fortes, alguns com possibilidade de vencer no primeiro turno. Em 2012, em uma eleição “normal”, apenas quatro prefeitos de capital foram reeleitos, todos no primeiro turno. Em 2016, dias depois da deposição de Dilma, 15 venceram.
Porque foi feita de molde a evitar surpresas, o mais provável é que a eleição de 2020 tenha poucas a oferecer quando as urnas forem computadas. O que não quer dizer que não sejam possíveis e que não se deva lutar por elas.
Relevante para 2022 é o pífia presença do capitão Bolsonaro na eleição. Finge que não quer entrar na disputa, apenas porque sabe que será derrotado. Brasil afora, candidatos próximos ou parecidos com ele não decolam ou afundam.
Os prováveis vencedores desta eleição são conhecidos: os que venceram a eleição passada. O grande perdedor também: o capitão. De preferência, abraçado aos raros candidatos que, por falta de opção, resolveram se associar a ele.
Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
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