Vacina da Covid-19 não pode ser instrumento da desigualdade
Cabe ao governo federal traçar uma política de imunização contra o coronavírus, decidindo quem será vacinado primeiro, quando e onde
A humanidade reza para que os testes que estão sendo feitos em várias partes do mundo, inclusive no Brasil, sejam bem sucedidos e que se chegue à vacina contra a Covid-19 o mais rapidamente possível. Mas é óbvio que não haverá, num primeiro momento, vacina para todo mundo, ainda que ela comece a ser produzida por aqui. Quem vai receber primeiro? Um país com grande população, enorme território e abissais diferenças sociais e econômicas como o Brasil tem que ter um protocolo transparente e racional de vacinação, sob o risco de termos mais um drama relacionado à pandemia nos próximos meses.
Lamentavelmente, é grande o risco de que a desorganização que vem marcando todas as ações do governo federal em relação ao combate à Covid-19 se repita na etapa da vacinação. Cabe ao governo federal traçar uma política de imunização contra o coronavírus, decidindo quem será vacinado primeiro, quando e onde. Mas, de onde menos se espera é que não sai nada mesmo, e até agora o Ministério da Saúde não deu sinais de estar discutindo o assunto. Pela lógica, deveria centralizar o processo e definir os grupos de risco que serão vacinados primeiro: profissionais de saúde, idosos, pessoas com comorbidades, crianças, etc.
O fundamental é que a imunização seja gratuita, e que nenhum cidadão brasileiro tenha acesso a ela antes dos outros por ser mais rico. É difícil esperar do governo Bolsonaro uma política igualitária, pois ele nem sabe o que é isso.já estamos vendo o que pode acontecer quando chegarem as primeiras doses: uma pega-pra-capar em que cada um vai querer a sua, a cotoveladas, pagando o quanto for preciso. Cabe ao poder público interferir em favor dos mais frágeis e desprotegidos, mas o governo, provavelmente, vai achar muito normal. Esse comportamento se encaixa em seus valores, no culto ao indvidualismo e na complacência diante do privilégio de alguns.
É importante, portanto, que outras instituições, como o Legislativo e o Judiciário – e a própria sociedade – comecem a discutir normas e trabalhar para que a vacina da Covid-19 não se transforme em mais um instrumento de reforço à iniquidade.
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