Zanin e os evangélicos
Tudo o que o Brasil não precisa é de uma teocracia
Cristiano Zanin Martins (Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil)
Foi uma grande surpresa, para não dizer choque e decepção, saber que Cristiano Zanin, futuro ministro do STF, teve que pedir a bênção do pastor Silas Malafaia para pavimentar sua indicação. “Ele é conservador como nós”, disse Malafaia que, até onde se sabe, não é senador, e portanto não vota.
Ao reforçar a influência, já enorme, dos evangélicos na política brasileira, o novo ministro (será aprovado, sem dúvida), que teoricamente deveria defender a constituição, arvora-se contra ela, que preconiza o estado laico.
É um mau começo.
Não me surpreende tanto Malafaia taxá-lo conservador, ainda que indicado por um governo progressista. Até aí, tudo bem. O que não entendo é um jovem e talentoso advogado render-se ao setor mais retrógrado da política brasileira, que sempre se levanta contra as causas sociais mais relevantes, como a legalização do aborto, para citar apenas a mais evidente.
Política e religião são excludentes. Religião - qualquer religião - é baseada em dogmas e tabus, que são irremovíveis, enquanto a política é dinâmica. Na política, discute-se; na religião, obedece-se. A religião é antidemocrática. É uma ditadura. O pastor manda e o fiel cumpre, sem discutir. Ou você acredita ou cai fora. Não há liberdade de expressão. Você não pode discutir se Deus existe.
Já houve períodos na história do Brasil em que a Igreja Católica foi muito influente na política. Durante o Estado Novo, por exemplo. Mas nem naquela época os católicos cogitaram fundar um partido nem disputar o poder.
A mudança ocorreu em 1989. O candidato Fernando Collor pediu apoio ao pastor Edir Macedo, que já manipulava um grande curral eleitoral, na corrida à presidência. Ele pediu, em contrapartida, que a missa da posse, em caso de vitória, fosse evangélica, comandada por ele.
Collor concordou, mas não cumpriu. Abriu, porém, as portas do palácio para seu aliado.
Na festa da posse, segundo o testemunho de um conhecido meu, o chefe da Igreja Universal, a certa altura, tirou os sapatos. Ficou só de meias. Esse meu conhecido o interpelou: por que isso? “Temos que pisar com os pés o solo que queremos conquistar” respondeu Macedo.
Hoje ele é o dono oculto do Republicanos, que tem 41 deputados e dois senadores.
Tudo o que o Brasil não precisa é de uma teocracia.
Espero que Zanin contribua para que isso não aconteça.
Alex Solnik
Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"
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Comentários
Jornalecos militantes estão saindo da hibernação. Na agressão contra a tal reporter da tal Globo, ninguém ou quase ninguém se manifestou. Na tal parada LGBT onde usaram crianças ao ridículo, todos calados. Agora para falar mal do governo passado e credenciar um governo atual sem noção do tempo, aí todos são bons.
Ao longo dos 4 anos de desgoverno miliciano/boso/m..., certas denominações evangélicas se encheram de cargos, influência e grana. Apesar de o ocupante da cadeira do Planalto (que nunca mandou nada que se aproveitasse) se dizer católico, daqueles que foram batizados quando criança, mas nunca participaram de atividades na igreja, foram os evangélicos que comandavam. Um presidente da República não deve misturar seu trabalho presidencial com as atividades das religiões. Deve governar segundo a Constituição, e não de acordo com a ganância de pastores insanos.
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