A desigualdade dos Iguais

Nessa inversão de valores não há preocupação com o próximo evidentemente. Busca-se,  a relação social somente entre os iguais, ofertando-se a ignomínia e o opróbrio, no que tange a inclusão dos desiguais

Rosildo Barcellos
Publicada em 27 de setembro de 2020 às 13:18
A desigualdade dos Iguais

Quando se trata dos direitos das Pessoas com Deficiência  um  detalhe me chama a atenção. A percepção de que  os valores morais e éticos estão em decadência na nossa sociedade. Precipuamente vislumbra-se  como valor intrínseco, a aparência física e intelectual, mesmo sabendo que os dotes físicos são efêmeros, preocupa-se com o exterior e o belo, sem se importar com a efervescência do imanente, ou com a exuberância da essência. Nessa inversão de valores não há preocupação com o próximo evidentemente. Busca-se,  a relação social somente entre os iguais, ofertando-se a ignomínia e o opróbrio, no que tange a inclusão dos desiguais. 

Muitos esquecem que ante a uma pintura crescente e aterrorizadora de violências causadas pela marginalidade e pelo destempero no trânsito, além de algumas doenças incapacitantes, qualquer pessoa, por mera fatalidade, está sujeita  a ter algum tipo  de incapacidade física ou motora. Ou seja,  além da própria deficiência, terá que superar a deficiência cultural da sociedade. Históricamente, por muito tempo  se mascarava a inabilidade dos grupos sociais majoritários em lidar com o diferente, tanto que a principal deliberação do II Congresso Internacional de Instrução de Surdos, ocorrido em 1880, em Milão, Itália, foi o banimento da língua de sinais. Vejam como por vezes os problemas são criados por nós mesmos. Imaginem como é comum assistir  pais praticando  ações desrespeitosas diante de seus filhos, ou seja, ofertando um péssimo exemplo e de um caráter desvirtuoso a eles,o que fatalmente replicará nessas crianças e na sociedade em formação ações inesperadas e inconsequentes. Agora junte-se problemas em casa de formação e distanciamento do poder público para os interesses reais da população. Aliás não vejo necessidades da edição de novas leis, basta que haja o cumprimento das atuais.

Existem hoje, no Brasil, aproximadamente 6 milhões de pessoas com algum nível de perda auditiva, dos quais 1 milhão têm grande dificuldade ou são incapazes de ouvir e cerca de 1250 pessoas surdocegas. Embora o número de pessoas que apresentam perda auditiva por exposição constante a ruído esteja aumentando, por motivos diversos, alguns deles até pelo uso indevido de  antibióticos, aminoglicosídeos e salicilatos; entendo que as principais causas da surdez ainda são relacionadas a infecções, como rubéola, sarampo ou meningite e com algumas causas acontecidas no período de gravidez, diabetes por exemplo. Ainda temos efeitos da Kerniktures e da eritroblastose fetal. Percebam como tudo se entrelaça: saúde pública, educação infantil, políticas sociais de inclusão; controle de ruídos, no trânsito, na construção civil, controle de infecções virais, lesões e toxicidade farmacológica. Não adianta tentar separar as coisas, pois tudo volta a ser fundamentado no tripé: saúde, cultura e educação. Luta árdua, perene e sempre constante!

*Articulista

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