A direita brasileira fracassou

"A direita esgotou assim seu repertório de alternativas que tem a propor ao Brasil: ditadura militar, neoliberalismo de FHC e Bolsonaro", escreve o sociólogo Emir Sader

Emir Sader
Publicada em 19 de abril de 2021 às 15:57

A direita brasileira sempre controlou o poder no Brasil, desde que chegou para se impor às populações indígenas, oprimi-las e explorar nossas riquezas. Depois, valendo-se do mais monstruoso fenômeno da história mundial: a escravidão. Com o colonialismo, são os dois fenômenos fundadores da história brasileira.

Ao largo do tempo, essa dominação mudou de forma, assumiu caráter nacional, mas nunca de conteúdo. Mais de quatro séculos depois, foi derrotada pelo Getúlio, mediante uma revolução, que fez com que a direita brasileira se tornasse profundamente anti-getulista. Apoiada no liberalismo, atacava Getúlio por seu autoritarismo e pelas políticas de “comprar” a consciência dos trabalhadores com concessões demagógicas, de que a imagem do marmiteiro era um antecedente dos sanduíches de mortadela.

A direita brasileira foi sistematicamente derrotada pelo Getúlio e pelos getulistas. Levou-ao suicídio, com as acusações de corrupção, mas não o derrotou. Quando a direita, finalmente ganhou, não com um udenista tradicional – como Eduardo Gomes ou Juarez Távora -, mas com um aventureiro que herdava as bandeiras de acusações de corrupção e de moralismo, a vitória durou poucos meses e se transformou em uma nova derrota.

A maior vitória da direita não se deu em democracia, mas com a ditadura, que conseguiu destruir o que havia de democracia e grande parte da esquerda, mediante a mais sistemática repressão que o país conheceu. Vitória da direita por isso e porque projetou uma alternativa para o capitalismo latino-americano em crise: crescimento econômico com Estado ditatorial. Foi a maior proposta da direita brasileira para o continente.

Uma vitória que se assentava na super exploração dos trabalhadores e na destruição da democracia. Que se esgotou, conforme as greves do ABC arrebentaram com o arrocho salarial – o santo do “milagre econômico”- e o regime não aguentou mais. A direita triunfou na transição, impedindo eleição direta para presidente do Brasil e limitando a transição a um processo de restauração da democracia liberal, sem outras formas de democratização – do acesso à terra, dos meios de comunicação, das estruturas econômicas monopolistas, do sistema educacional, entre outras.

A direita voltou a um triunfo de Pirro com a vitória eleitoral do Collor – outro aventureiro, como o Jânio -sobre o Lula em 1989. Derrotado seu governo pela corrupção, seu modelo foi resgatado pelo FHC, com a última vitória em democracia da direita. Que teve vida curta, conforme o modelo neoliberal se revela concentrador de renda e incapaz de recuperar o crescimento da economia.

Desde então, a direita acumulou impressionante sequencia de derrotas, inédita até ali na história brasileira, pelas mãos do Lula e o PT. E só voltou a triunfar com a ruptura da democracia, cujo golpe fez desembocar na eleição do Bolsonaro.

A direita apresentou assim o que tinha a propor ao Brasil, diante do que considerava o risco do retorno do PT.

A direita esgotou assim seu repertório de alternativas que tem a propor ao Brasil: ditadura militar, neoliberalismo de FHC e Bolsonaro. A esquerda propôs e colocou em prática alternativas distintas: governos do PT com crescimento econômico e distribuição de renda, com aprofundamento social e politico da democracia.

Em 2022 a direita e a esquerda apresentarão as alternativas de que dispõe para que o povo brasileiro escolha a que lhe parece melhor entre os distintos futuros possíveis para o Brasil. Será uma eleição entre direita e esquerda, entre democracia e autoritarismo, entre crescimento econômico e especulação financeira, entre distribuição de renda ou concentração de renda. Entre Lula e Bolsonaro.

Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

Winz

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