A lama do propinoduto desceu do planalto e chegou à planície

Agora, chega à notícia de que a lama da JBS, que invadiu as dependências do Palácio do Planalto, teria inundado o gabinete do vice-prefeito de Porto Velho. Um executivo da empresa acusa-o de ter embolsado uma propina dois milhões de reais.

Valdemir Caldas
Publicada em 22 de maio de 2017 às 08:27

Aos que me perguntam (principalmente os que me conhecem mais de perto) como vejo o ambiente poluído no qual o Brasil está engolfado, respondo-lhes com enorme desconforto e profunda vergonha, para resumir uma sensação difícil de expressar.

Sempre imaginei o exercício da política como a mais nobre das atividades humanas, exatamente por ser diferente de todas as outras, não se constituindo, portanto, em profissão. Apesar de tudo isso que vem acontecendo, continuo acreditando que ainda é possível ética e política caminharem juntas, de mãos dadas.

Embora a perversidade humana tenha transformada ética e política em duas categorias distintas, dissociadas e antagônicas, creio que ainda há esperança para o Brasil superar essa crise, à semelhança de tantas que se antepuseram em seu caminho. O brasileiro é um povo que não desiste fácil, que se não entregue e não se rende às adversidades.

O mais gratificante, entretanto, é verificar que os episódios de hoje, ao contrário do que ocorria em passado recente, não contam com o silêncio cumplice da maioria da sociedade, que tem saindo às ruas para exigir o retorno da moralidade na condução dos negócios públicos.

Agora, chega à notícia de que a lama da JBS, que invadiu as dependências do Palácio do Planalto, teria inundado o gabinete do vice-prefeito de Porto Velho. Um executivo da empresa acusa-o de ter embolsado uma propina dois milhões de reais.

A denúncia levou o vice a pedir afastamento de suas funções, mas o prefeito ainda não se manifestou sobre o caso. E a Câmara Municipal, vai fazer o quê? Abrir uma CPI para investigar a denúncia ou ficar de braços cruzados vendo a banda passar?

Isso mostra, com as devidas exceções, que o homem público de hoje não passa de uma caricatura grotesca, uma deformação repulsiva daquilo que deveria realmente ser, isto é, uma pessoa dedicada a promover o bem comum.

Por causa dessa degenerescência, assistimos apreensivos e indignados a um festival de corrupção, impostura, velhacaria e cinismo, no qual o país naufraga, enquanto o povo padece.

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