A ORIGEM DO NOME DAS TRÊS MARIAS – as estrelas cintilantes da nossa identidade cultural
A primeira "Maria" foi erguida em 1910, sendo que as outra duas “Marias” foram instaladas em 1912, ano em que é o projeto de construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré foi concluído
Em Porto Velho, todo mundo sabe que as caixas d’água instaladas numa praça do bairro Caiari são popularmente chamadas de Três Marias! Porém, ninguém explicou até hoje a origem dessa denominação!
Em seus apontamentos, os historiadores ensinam que esses grandes depósitos de água potável foram projetados, circunstancialmente, pela empresa norte-americana Chicago Bridge & Iron Works de Chicago, muito provavelmente a pedido da Madeira-Mamoré Railway Company, de propriedade do empresário, também norte-americano, Percival Farquhar, que por sua vez comprou a concessão de construção da Ferrovia do Diabo do engenheiro Joaquim Catrambi.
Sem dá um prego numa barra de sabão nos sertões da Amazônia, Catrambi faturou uma boa grana com a transação e Percival Farquhar, o Rei do Brasil, dono da Rio Light, da Companhia Telefônica Brasileira e de um grande número de ferrovias no Brasil, de estradas de ferro na Rússia e minas de carvão na Europa Central, além de engenhos de açúcar em Cuba, também faturou uma fortuna; só para vocês terem uma ideia, o custo estimado, quando de sua conclusão, teria sido de cerca de dois bilhões de reais, em valores de hoje. Foi escritor Fernando de Morais que o chamou de Rei do Brasil.
A primeira "Maria" foi erguida em 1910, sendo que as outra duas “Marias” foram instaladas em 1912, ano em que é o projeto de construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré foi concluído. Os reservatórios foram tombados como patrimônio histórico em 1988.
Mas a pergunta é: qual a origem do nome Três Marias para as caixas d’água?? Quem criou essa denominação? Por que são chamadas de Três Marias??
Na versão de José Berlange Andrade, juiz de direito aposentado nascido em Porto Velho, no fim da década de 70, mais precisamente em 1979, quando Jorge Teixeira era governador nomeado pelo último presidente da Ditadura Militar, João Batista de Figueiredo, o governo desse militar baixou uma ordem mandando derrubar as caixas d’agua, o que teria a princípio a conivência da chefe do Departamento de Cultura do então Território Federal de Rondônia, a professora e escritora Yêdda Bozarcov, filha do médico e intelectual Ary Tupinambá Pena Pinheiro.
Ao tomar conhecimento da ordem de destruição das caixas d’água, a porto-velhense Adnaloy Andrade, indignada com o tratamento que seria dispensado aos reservatórios, reportou o caso ao seu irmão, Berlange Andrade, que, lá de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, onde estudava Direito, escreveu um manifesto denunciando o atentado ao patrimônio histórico da cidade, encaminhando-o ao então vereador do MDB Cloter Saldanha da Mota, que por sua vez denunciou a pretensão do governo Jorge Teixeira numa sessão pública da Câmara Municipal, levantando a bandeira preservacionista daquele bem público e denunciando à sociedade e à imprensa em geral o risco iminente da destruição das caixas d’água. Ao receber cópia do manifesto, o jornal O Alto Madeira, dirigido à época pelo jornalista Euro Tourinho, se negou a publicar a matéria por entender que o texto deixava o governo do Teixeirão em maus lençóis. A professora Yêdda Borzacov chegou a afirmar, anos mais tarde, que teria sido ela quem convenceu o governo militar do Território Federal a mudar de ideia.
De fato, a gestão Jorge Teixeira mudou sua posição administrativa e preservou as três caixas d’água – muito provavelmente influenciada pelo retumbar do grito preservacionista que ecoou lá do plenário da Câmara Municipal na voz combativa e progressista do vereador Cloter Saldanha da Mota, de convicção política socialista. Ressalte-se que Cloter Mota, na sua ação política em prol da preservação das três caixas d’água, não só mobilizou os servidores da Câmara Municipal como também instigou os integrantes da Associação dos Amigos da Madeira-Mamoré a participarem da luta democrática e cultural. Enquanto o decreto governamental significou a morte simbólica da edificação hidráulica, a mobilização popular por sua integridade física representou o renascimento e o seu soerguimento ao status de bem cultural do povo de Porto Velho!
Já no título do manifesto escrito por Berlange Andrade constava a expressão Três Marias, denominação que aos poucos foi se tornando popular no meio social de Porto Velho.
Apaixonado por sua terra natal e cidadanicamente tomado pelo espírito de resistência cultural, Berlange Andrade, hoje em visita à cidade de Porto Velho, se inspirou nas três estrelas pertencentes à constelação ocidental de Órion, uma constelação que fica completa quando o nosso céu se faz moldura para engalanar a natureza, durante toda a noite, somente no transcorrer do verão.
No ano de 1983, o poeta Antônio Cândido venceu um concurso do qual participavam outros 60 concorrentes e cunhou a silhueta simbólica das Três Marias na bandeira do nosso município!
Conclusão: o governo militar baixou a bola frente à voz crítica da cidadania e as Três Marias, feito estrelas cintilantes da nossa identidade cultural, reinam soberanas para o bem e felicidade geral da nação Karipuna!
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