A pergunta que dura cinco anos: quem contratou o vizinho do Bolsonaro para assassinar Marielle?
"A pistolagem e o banditismo político não podem vencer a democracia", escreve Jeferson Miola
Marielle: dias de luto e luta (Foto: Ninja)
Neste 14 de março se completam cinco anos do bárbaro assassinato da vereadora do PSOL Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes sem que se saiba a resposta sobre quem contratou o vizinho do Bolsonaro do condomínio Vivendas da Barra para executar o crime.
A expectativa de se chegar a esta resposta aumentou com a abertura de inquérito da Polícia Federal, determinada pelo ministro da Justiça Flávio Dino em fevereiro passado.
O crime foi preparado com sofisticação e profissionalismo. Os implicados têm tentáculos em instituições policiais, militares e judiciais.
Políticos, agentes do submundo e autoridades públicas com interesses escusos tumultuaram as investigações e provocaram mudanças nas equipes de apuração para embaralhar a elucidação do caso e impossibilitar a descoberta dos autores e mandantes.
Em uma das inúmeras reviravoltas do caso, chegou-se a dois envolvidos: o matador de aluguel e ex-PM Ronnie Lessa, vizinho de Jair e Carlos Bolsonaro no condomínio Vivendas da Barra, que vivia a cerca de 70 passos de distância; e o também ex-PM Élcio Queiroz, que dirigia o Cobalt Prata usado no atentado.
Ronnie Lessa diversificava seus negócios. Além de matador de aluguel e outros serviços da milícia, era envolvido com o tráfico internacional de armas. Em imóvel de responsabilidade dele no centro do Rio foram apreendidos 117 fuzis.
Desconhece-se quais vínculos sociais ou de amizade os vizinhos do Vivendas da Barra mantinham. A imprensa noticiou, contudo, que Renan Bolsonaro namorou a filha de Ronnie Lessa.
As imagens captadas por câmeras de vigilância mostram a existência de uma terceira pessoa no veículo no momento da emboscada, no início da noite de 14 de março.
A suspeita de que o terceiro ocupante do “Cobalt da morte” tenha saído junto com os dois criminosos desde o Condomínio Vivendas da Barra alimenta a dúvida sobre Carlos Bolsonaro. Ele teria se ausentado da sessão da Câmara de Vereadores do Rio e estava na residência do pai entre as 14 e 17 horas daquele trágico 14 de março de 2018, enquanto Ronnie e Élcio ultimavam os preparativos do crime.
A gravação da portaria do Condomínio, na qual o porteiro Alberto Jorge Ferreira Mateus interfonou para a casa do “Seu Jair” para autorizar o ingresso de Élcio no local, sumiu. Na época, suspeitou-se que Carlos teria atendido o interfone. Mas, assim como aconteceu com a gravação, o porteiro também sumiu, e a polícia e o MP não conseguiram esclarecer também este aspecto.
Meses depois, a imprensa descobriu que o sumido porteiro estava residindo no bairro Gardênia Azul, na zona oeste do Rio, área controlada pelo Escritório do Crime, a organização criminosa integrada por Ronnie Lessa e pelo miliciano Adriano da Nóbrega.
Adriano, que foi executado numa estranha e ainda não esclarecida operação das PM’s do RJ e da Bahia, era um bandido muito reverenciado pelo clã miliciano. A mãe e a ex-esposa dele eram funcionárias do gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembléia do RJ, e participavam do esquema de corrupção conhecido como “rachadinhas”.
Do dia em que o assassinato aconteceu, até os dez primeiros meses de investigação propositalmente tumultuada do caso, o general Braga Netto, vice de Bolsonaro na chapa militar na eleição de 2022, era o “xerife” do Rio – interventor federal nomeado pelo usurpador Michel Temer. Ele teve como seu secretário de Segurança Pública o general Richard Nunes, atual comandante do Comando Militar do Nordeste.
De acordo com um jornalista especializado em editoria policial, durante a intervenção federal “o Exército conseguiu usufruir dos bancos de dados das polícias Civil e Militar fluminenses e também montou um mapa das ações criminais no Rio. Isso vale tanto para facções criminais convencionais como para as milícias paramilitares formadas por ex-policiais”.
“Não [foi] à toa”, conclui o repórter, que “Braga Netto ganhou dos amigos a reputação de ter o CPF, nome e endereço de cada miliciano no Rio”.
O assassinato de Marielle e Anderson é repleto de indícios, pistas, coincidências, contradições e acontecimentos estranhos. E envolve nomes oriundos da escória que ocupou o centro da política nacional nos últimos quatro anos.
A elucidação deste crime, com a revelação de quem contratou o vizinho do Bolsonaro para assassinar Marielle e Anderson é uma exigência irrenunciável por memória, verdade e justiça. A pistolagem e o banditismo político não podem vencer a democracia.
Marielle vive! Viva Marielle!
Jeferson Miola
Articulista
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