A picanha que Lula trouxe de volta, a Enel levou

"A dona de casa Eliete Alves, que mora na periferia de São Paulo, expressou com lágrimas a revolta pela perda dos alimentos na geladeira com o apagão"

Fonte: Florestan Fernandes Jr - Publicada em 19 de outubro de 2024 às 12:52

A picanha que Lula trouxe de volta, a Enel levou

Eliete Alves relatou desespero em meio ao apagão da Enel em São Paulo (Foto: Divulgação/G1)

Causa revolta saber que alguns brasileiros, que por tantos anos ficaram privados do consumo de carnes, nos últimos dias tenham sido obrigados a descartar no lixo esse alimento tão importante na nutrição das famílias.

Foi esse o pesadelo vivido por inúmeros paulistanos que, por falta de energia elétrica, perderam em cinco dias (13/10 a 18/10) tudo o que tinham armazenados nas geladeiras.

Em reportagem do G1, a dona de casa Eliete Alves, que mora na periferia da cidade, expressou com lágrimas a revolta pela perda dos alimentos na geladeira: “Eu chorei com tanta mistura jogada fora e gente passando fome...”

Ou seja, a picanha que o governo Lula trouxe de volta para a mesa dos mais pobres, foi apodrecida na geladeira pela incompetência da administração municipal, aliada à ganância da concessionária de energia, Enel, que deixou de fazer os investimentos necessários para a manutenção do serviço essencial à população.

As consequências do apagão de São Paulo e a proporção dos prejuízos causados nas classes mais vulnerabilizadas, expõem o quanto a questão da concentração da renda e a desigualdade social continuam sendo a principal mazela do capitalismo no Brasil e no mundo.

Não à toa, o presidente Lula e o ministro Haddad se lançaram numa cruzada para taxar as grandes fortunas, como um instrumento de justiça fiscal e de redução da desigualdade social. Enquanto isso não acontece, o caminho é reduzir os impactos da pobreza na alimentação de milhões de famílias.

Nos dias 18 e 19 de novembro no Rio de Janeiro, o presidente Lula vai apresentar as experiências brasileiras no combate à fome, à desnutrição e à miséria aos países membros do G20. O governo brasileiro quer o compromisso de todas as mais importantes nações à proposta de formação de uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. E o Brasil, que chegou a sair do Mapa da Fome da ONU em 2014, tem muito a contribuir nessa área.

Sabemos que o país se tornou referência mundial no combate à desnutrição com o programa Fome Zero, programa este que sofreu um verdadeiro desmonte sob os governos Temer e Bolsonaro - este último, como bem lembramos, chegou a declarar que sua função era desconstruir. Nisso, foi mestre.

Em apenas seis anos, de 2016 a 2022, chegamos a um quadro de terra arrasada. Várias políticas públicas de combate à fome e à miséria foram comprometidas e mesmo inviabilizadas, por falta de recursos.

Um dos piores momentos da fome naquele período ocorreu em 2021, quando dezenove milhões de brasileiros viviam em insegurança alimentar - acordavam todos os dias sem saber se iriam ter alguma coisa pra comer. Quase o dobro de famintos que existiam em 2019.

No último ano do governo Bolsonaro, mais da metade (58,7%) da população brasileira sofria com a insegurança alimentar em algum grau: leve, moderado ou grave. A falta de políticas na área alimentar da administração federal levou famílias brasileiras a cenas de desespero. Uma delas ocorreu em Cuiabá, Mato Grosso. Todos nós lembramos das imagens devastadoras, gravadas por uma emissora de televisão que mostraram uma fila com dezenas de pessoas esfomeadas em frente a um açougue que distribuía pedaços de ossos com pequenos nacos de carne.

Outra cena chocante ocorreu em 2021, na frente de um supermercado, numa área nobre de Fortaleza. Um internauta registrou o momento em que um grupo de pessoas disputava restos de alimentos dentro de um caminhão de lixo.

Naquele período, ficou claro que os governantes de direita e extrema-direita eram incapazes de demonstrar qualquer tipo de empatia ou solidariedade com os miseráveis e excluídos, que aumentavam numa escala alucinante. Para se ter uma ideia, 4,1% da população do país estava em situação de subnutrição.

Cenário bem diferente já no primeiro ano do terceiro mandato do governo Lula, quando 14,7 milhões de pessoas deixaram de passar fome no Brasil. Aquilo que todos percebemos no dia-a-dia é confirmado pelo Relatório das Nações Unidas de 2024, que registra que no ano passado a insegurança alimentar severa caiu 85% no país.

Infelizmente, dados que refletem a redução drástica da fome e da miséria, o crescimento do emprego e da renda dos mais desfavorecidos, pouco importam aos donos do capital. Ao contrário, servem de desculpa para a elevação da taxa de juros, essa sim, que nos sangra dia após dia e onera o Estado. A justificativa chega a ser imoral: juros altos, porque pessoas empregadas consomem e elevam a inflação – ou seja, a torcida dos rentistas é contra o povo brasileiro... quanto pior, melhor.

As lágrimas da D. Eliete, derramadas sob a perda de todo o alimento de casa, também não convencem essa turma. Para eles, mais vale uma Enel sem freios, em nome da “segurança jurídica dos contratos”, do que as mazelas do consumidor paulistano.

Florestan Fernandes Jr

Florestan Fernandes Júnior é jornalista, escritor e Diretor de Redação do Brasil 247

194 artigos

A picanha que Lula trouxe de volta, a Enel levou

"A dona de casa Eliete Alves, que mora na periferia de São Paulo, expressou com lágrimas a revolta pela perda dos alimentos na geladeira com o apagão"

Florestan Fernandes Jr
Publicada em 19 de outubro de 2024 às 12:52
A picanha que Lula trouxe de volta, a Enel levou

Eliete Alves relatou desespero em meio ao apagão da Enel em São Paulo (Foto: Divulgação/G1)

Causa revolta saber que alguns brasileiros, que por tantos anos ficaram privados do consumo de carnes, nos últimos dias tenham sido obrigados a descartar no lixo esse alimento tão importante na nutrição das famílias.

Foi esse o pesadelo vivido por inúmeros paulistanos que, por falta de energia elétrica, perderam em cinco dias (13/10 a 18/10) tudo o que tinham armazenados nas geladeiras.

Em reportagem do G1, a dona de casa Eliete Alves, que mora na periferia da cidade, expressou com lágrimas a revolta pela perda dos alimentos na geladeira: “Eu chorei com tanta mistura jogada fora e gente passando fome...”

Ou seja, a picanha que o governo Lula trouxe de volta para a mesa dos mais pobres, foi apodrecida na geladeira pela incompetência da administração municipal, aliada à ganância da concessionária de energia, Enel, que deixou de fazer os investimentos necessários para a manutenção do serviço essencial à população.

As consequências do apagão de São Paulo e a proporção dos prejuízos causados nas classes mais vulnerabilizadas, expõem o quanto a questão da concentração da renda e a desigualdade social continuam sendo a principal mazela do capitalismo no Brasil e no mundo.

Não à toa, o presidente Lula e o ministro Haddad se lançaram numa cruzada para taxar as grandes fortunas, como um instrumento de justiça fiscal e de redução da desigualdade social. Enquanto isso não acontece, o caminho é reduzir os impactos da pobreza na alimentação de milhões de famílias.

Nos dias 18 e 19 de novembro no Rio de Janeiro, o presidente Lula vai apresentar as experiências brasileiras no combate à fome, à desnutrição e à miséria aos países membros do G20. O governo brasileiro quer o compromisso de todas as mais importantes nações à proposta de formação de uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. E o Brasil, que chegou a sair do Mapa da Fome da ONU em 2014, tem muito a contribuir nessa área.

Sabemos que o país se tornou referência mundial no combate à desnutrição com o programa Fome Zero, programa este que sofreu um verdadeiro desmonte sob os governos Temer e Bolsonaro - este último, como bem lembramos, chegou a declarar que sua função era desconstruir. Nisso, foi mestre.

Em apenas seis anos, de 2016 a 2022, chegamos a um quadro de terra arrasada. Várias políticas públicas de combate à fome e à miséria foram comprometidas e mesmo inviabilizadas, por falta de recursos.

Um dos piores momentos da fome naquele período ocorreu em 2021, quando dezenove milhões de brasileiros viviam em insegurança alimentar - acordavam todos os dias sem saber se iriam ter alguma coisa pra comer. Quase o dobro de famintos que existiam em 2019.

No último ano do governo Bolsonaro, mais da metade (58,7%) da população brasileira sofria com a insegurança alimentar em algum grau: leve, moderado ou grave. A falta de políticas na área alimentar da administração federal levou famílias brasileiras a cenas de desespero. Uma delas ocorreu em Cuiabá, Mato Grosso. Todos nós lembramos das imagens devastadoras, gravadas por uma emissora de televisão que mostraram uma fila com dezenas de pessoas esfomeadas em frente a um açougue que distribuía pedaços de ossos com pequenos nacos de carne.

Outra cena chocante ocorreu em 2021, na frente de um supermercado, numa área nobre de Fortaleza. Um internauta registrou o momento em que um grupo de pessoas disputava restos de alimentos dentro de um caminhão de lixo.

Naquele período, ficou claro que os governantes de direita e extrema-direita eram incapazes de demonstrar qualquer tipo de empatia ou solidariedade com os miseráveis e excluídos, que aumentavam numa escala alucinante. Para se ter uma ideia, 4,1% da população do país estava em situação de subnutrição.

Cenário bem diferente já no primeiro ano do terceiro mandato do governo Lula, quando 14,7 milhões de pessoas deixaram de passar fome no Brasil. Aquilo que todos percebemos no dia-a-dia é confirmado pelo Relatório das Nações Unidas de 2024, que registra que no ano passado a insegurança alimentar severa caiu 85% no país.

Infelizmente, dados que refletem a redução drástica da fome e da miséria, o crescimento do emprego e da renda dos mais desfavorecidos, pouco importam aos donos do capital. Ao contrário, servem de desculpa para a elevação da taxa de juros, essa sim, que nos sangra dia após dia e onera o Estado. A justificativa chega a ser imoral: juros altos, porque pessoas empregadas consomem e elevam a inflação – ou seja, a torcida dos rentistas é contra o povo brasileiro... quanto pior, melhor.

As lágrimas da D. Eliete, derramadas sob a perda de todo o alimento de casa, também não convencem essa turma. Para eles, mais vale uma Enel sem freios, em nome da “segurança jurídica dos contratos”, do que as mazelas do consumidor paulistano.

Florestan Fernandes Jr

Florestan Fernandes Júnior é jornalista, escritor e Diretor de Redação do Brasil 247

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Comentários

  • 1
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    Socorro 20/10/2024

    que texto patético e tendencioso, "mistura" agora é o nome da picanha?! aff! a picanha está indo para china, com o acordo fechado. E o pobre, não está conseguindo comprar carne, em nenhum lugar do Brasil!

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