Há dois anos no poder, o PT atribui derrotas eleitorais à manipulação da direita
"Mas não esclarece a sua contradição fundamental", critica Alex Solnik
(Foto: Alessandro Dantas)
Quando a extrema-direita, comandada por Jair Bolsonaro, tentou mudar o regime do Brasil de democracia para ditadura, derrubando o presidente eleito, Lula da Silva, a posição unânime da direção nacional do PT foi repudiar o golpe de Estado que levaria ao regime autoritário.
A mensagem para o público foi: o PT é um convicto defensor da democracia.
De lá para cá, a mesma direção nacional do PT declarou apoio e fez acordos com o Partido Comunista chinês, com o Partido Comunista Cubano, e com o regime autoritário da Venezuela.
E nenhum acordo, nem apoio a algum partido de outros países genuinamente democráticos.
Na hora das primeiras eleições nacionais depois de superado o golpe de Estado no Brasil, essas de agora, o eleitor não sabe se ao votar em candidatos petistas está votando no PT que defendeu a democracia em 2023 ou no PT que no plano internacional apoia regimes incompatíveis com a democracia.
O eleitor não sabe se o PT quer um Brasil democrático ou autoritário.
E o PT não deixa claro se o seu projeto é de um país como é Cuba, China, Nicarágua, Venezuela, ou como são os países social-democratas europeus, com cujos partidos não faz acordos.
Ao ver os resultados das urnas, como os dessa eleição, petistas derrotados costumam culpar a “mídia antipetista” ou o “eleitor manipulado pela direita”, sem tentar entender por que a mídia é antipetista ou por que o eleitor, apesar de ser governado por um presidente petista há dois anos, é tão vulnerável a ponto de ser manipulado pela direita que está há dois anos fora do poder.
Democracias, como está em todos os manuais de política, não são de direita, nem de esquerda; são regimes que permitem a alternância no poder entre a esquerda e a direita, por meio de eleições livres e diretas.
Talvez o PT tenha mais sucesso nas próximas eleições se esclarecer a sua contradição fundamental.
Alex Solnik
Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"
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