Ações públicas que enfraquecem o combate à corrupção e à lavagem de dinheiro
Portanto, é imprescindível que todos nós, brasileiros, atuemos como protagonistas nessa batalha. Não é hora de retroceder, precisamos pôr em prática o nosso lema, afinal, andar para trás não se encaixa em "Ordem e Progresso"
Os brasileiros testemunham cada vez mais movimentos no setor público e privado buscando o aprimoramento ou a implantação de programas de compliance, que está em alta no Brasil. Embora os números ainda não sejam ideais, é inegável o aumento da aderência ao tema pelo universo empresarial brasileiro. No entanto, algumas ações externas, por parte do governo e dos órgãos regulamentadores, merecem atenção, pois acabam dificultando o combate à corrupção e à lavagem de dinheiro no País. Recentemente, tivemos o episódio da adoção de uma nova cédula no sistema financeiro nacional no valor de 200 reais, anunciada recentemente pelo Banco Central. A novidade gerou muitas críticas por caminhar na contramão do restante do mundo, sob o prisma de que as notas maiores favorecem o armazenamento, o transporte e a realização de operações envolvendo dinheiro em espécie - um forte indicador de lavagem. Na ocasião, o Banco Central apresentou suas justificativas para a adoção, mas aparentemente não deu importância para os cartões vermelhos que a acompanham. Enquanto caminhamos para inserir no mercado uma cédula com o dobro do valor da maior nota que possuímos atualmente, a União Europeia retira de seu sistema financeiro a maior cédula de Euro que possuía. Há também o exemplo da Índia, que na mesma linha da UE, passou a adotar medidas de limitação do uso de dinheiro em espécie como forma de combater sonegações, lavagem e outros crimes financeiros. Apesar dos exemplos que podemos extrair do velho mundo, no Brasil, infelizmente, optamos por seguir o caminho oposto. Outra ação recente que dificulta o combate à lavagem de dinheiro no País é protagonizada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que decidiu ampliar o valor mínimo de transações financeiras fora do Brasil que deve ser declarado ao Banco Central, passando de R$ 10 mil para R$ 100 mil. Dessa forma, assim que a nova regra passar a vigorar, em setembro de 2020, menos comunicações serão realizadas, ou seja, maior será o número de transações realizadas sem a devida ciência do Banco. Além disso, o CMN também optou por mexer na declaração anual de Capitais Brasileiros no Exterior (CBE). Com a atualização da regra, brasileiros ou estrangeiros residentes no País que possuem investimentos no exterior devem comunicar ao Banco Central somente valores que totalizem US$ 1 milhão ou mais, levando em consideração sua somatória. Até então, o gatilho da comunicação partia de US$ 100 mil, apenas 10% do novo valor. O CBE auxilia na medição do quão internacionalizada está a nossa economia, além de servir como ferramenta importante para análises de evasão de divisas, ofensas tributárias e indicadores de lavagem de dinheiro com esquemas multinacionais. No campo da corrupção, também temos ações que a facilitam e enfraquecem seu combate. Diante da pandemia do Coronavírus, o governo editou a medida provisória 961/20, que flexibiliza as regras para a administração pública contratar particulares. Com esse abrandamento das normas e sem o devido reforço nos mecanismos de detecção de fraude, ampliaram-se as oportunidades para os criminosos. A Polícia Federal já informou que calcula que os desvios financeiros decorrentes de contratações emergenciais que dispensam licitação estejam na casa dos R$ 120 milhões, sem mencionar os desvios de recursos doados por particulares para o combate à pandemia, que também se alojam na casa dos milhões de reais. Cabe também destacar a nova proposta de cooperação entre órgãos governamentais e fiscalizadores que atuam em acordos de leniência, alegando o intuito de facilitar a comunicação e a troca de informações entre eles. A principal crítica que paira sobre o tema é a exclusão de instituições de extrema importância para o instituto da leniência e combate à corrupção no país, como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) e, o que mais chama atenção, o Ministério Público Federal (MPF). Deixar o MPF de fora do novo balcão único dos acordos de leniência pode significar um retrocesso no combate à corrupção e outros ilícitos, uma vez que o órgão detém uma independência organizacional no sistema, um dos principais fatores para que a identificação e a investigação desses atos ocorram com sucesso. Tal autonomia não se verifica em instituições que assinaram o termo, como a Advocacia-Geral da União (AGU) e a Controladoria-Geral da União (CGU), pois estes integram a escala hierárquica do governo, o que pode dificultar o aprofundamento das análises. Os acordos de leniência desempenham um papel fundamental para o combate à corrupção e é um instituto presente em diversos países ao redor do mundo. No Brasil, viabilizou a recuperação de R$ 26 bilhões em recursos desviados nessa prática e demais ações de improbidade administrativa, que não beneficiam somente o governo. Isso porque, a Petrobrás, uma das principais entidades lesadas pela corrupção no País, já reintegrou montantes na casa dos R$ 265 milhões que haviam sido desviados de seus cofres com essa prática criminosa. Embora o Compliance e os temas voltados à ética e à integridade sejam preocupações cada vez maiores pela população do Brasil e algumas instituições privadas, ainda temos um longo caminho pela frente. Portanto, é imprescindível que todos nós, brasileiros, atuemos como protagonistas nessa batalha. Não é hora de retroceder, precisamos pôr em prática o nosso lema, afinal, andar para trás não se encaixa em "Ordem e Progresso". *Sabrina Trevisan é advogada e consultora de compliance da ICTS Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, auditoria interna, investigação, proteção e privacidade de dados. Sobre a ICTS Protiviti A união de deep expertise, com capacidade de transformação e excelência operacional, proporciona aos seus clientes um portfólio abrangente de soluções que endereçam os principais riscos, problemas e desafios de negócio, protegendo e maximizando o valor das organizações, e ajudando seus líderes a encararem o futuro com confiança e alcançarem resultados extraordinários num mundo dinâmico. Reconhecida como Empresa Pró-Ética por 3 anos consecutivos, conta no Brasil com mais de 300 profissionais em 4 escritórios - São Paulo, Barueri, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, que atendem cerca de 600 empresas de diferentes portes e segmentos. No mundo, são mais de 4.500 profissionais atuando por meio de uma rede de subsidiárias e firmas-membro independentes. Empresa reconhecida como Great Place To Work e com faturamento anual superior a USD 1 bilhão, opera 85 escritórios em 27 países, que atendem a 60% das empresas da FORTUNE 1000®.
|
Termina hoje prazo para partidos definirem candidatos às eleições
TSE espera receber mais de 700 mil registros de candidaturas
Caixa paga auxílio emergencial para 3,9 milhões de nascidos em junho
Pagamento faz parte do ciclo 2 que vai até 27 de outubro
Revisão extraordinária da Energisa Acre entra em consulta pública
A consulta pública seguirá até 30/10/2020, com envio de contribuição por escrito. Haverá oportunidade de manifestação oral durante a Audiência Pública nº 008/2020, em formato virtual, a ser promovida em 15/10/2020
Comentários
Seja o primeiro a comentar
Envie Comentários utilizando sua conta do Facebook