Almirante Olsen dá o troco: Tudo pela Pátria e pela marinha!

O comandante da Marinha gravou uma mensagem de final de ano em que manda recados

Fonte: Denise Assis - Publicada em 26 de dezembro de 2024 às 17:45

Almirante Olsen dá o troco: Tudo pela Pátria e pela marinha!

Marcos Sampaio Olsen (Foto: Pedro França/Agência Senado)

O comandante da Marinha do Brasil, o Almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen, obrigado que foi de retirar do ar um vídeo em que chamava a sociedade civil de “boa-vida” – para não usar o termo vulgar -, e inflava os “bravos marinheiros” como modelos dos que trabalham para o desenvolvimento do país, ignorando o esforço de todos os demais setores produtivos, numa verdadeira afronta à sociedade, deu o troco. 

Gravou uma mensagem de final de ano em que não mais estabelece comparações entre os segmentos civil e militar, mas manda recados, destacando os feitos da Marinha sem, contudo, mencionar que as atividades foram feitas ou em conjunto com o governo federal, ou sob o seu comando, como os resgates durante a crise climática no Rio Grande do Sul, por exemplo. “Tudo pela pátria e pela Marinha”, arremata. E quem ligou uma coisa à outra, sim, parece uma alusão àquele. Marcos Olsen tem lado. E fez questão de deixar nas entrelinhas, qual é. Desta vez, o recado foi gravado com a sua voz. Sem intermediários.

Para não fugir ao costume, Olsen cobra mais dinheiro para o setor, a fim de assegurar a “vigilância” e a “pronta resposta”, a possíveis ameaças, embora cite “os investimentos contínuos em ciência e tecnologia” (de onde será que vêm esses recursos?). E prossegue: “Sob a égide das ações do Estado, a Marinha se destacou em atuações diligentes em ações humanitárias no Norte, no Centro Oeste, com especial relevo para o Sul do país, no socorro prestado à população assolada por intempéries climáticas severas”. Para por aí, a citação que faz ao governo federal de forma imperceptível, indireta e sutilmente. “Sob a égide”, convenhamos, não define o papel fundamental de coordenação exercido pelo governo federal, naquela situação. 

Todos nós vimos e sabemos – ou deveríamos saber -, que foi o conjunto dos ministérios transferidos para o Rio Grande Do Sul, pelo presidente Lula, que coordenou as ações, usando as Forças e suas especificidades naquele socorro às vítimas. O almirante concede apenas uma citação “à brava gente brasileira”, ao falar en passant dos voluntários. 

Destaca feitos da Marinha do Brasil (não nos esqueçamos desse detalhe) e, por fim, e só mesmo no fecho, menciona a festa religiosa, desejando um feliz Natal, limitando a saudação ao seu público. “À família naval”.

Entre o início e o fim da fala do almirante Olsen, uma voz feminina recita um texto destacando as atividades desenvolvidas.

O comandante da Marinha misturou em seu discurso cobranças políticas e relatórios de atuação da força no âmbito da segurança nacional e falou da utilidade da força naval (coisa que ninguém duvida).

“Dirijo-me à tripulação da Marinha do Brasil com o propósito de enaltecer os feitos perpetrados em 2024, no decurso alicerçada nos princípios que regem suas tradições e indelegáveis preceitos constitucionais. A instituição sobrepujou adversidades impostas com destreza e inflexível rigor. O ânimo dos marinheiros e fuzileiros, de ofício ou afeição, souberam otimizar os recursos disponíveis, mitigando prejuízos à manutenção da condição de eficiência e emprego dos meios navais”.

De novo, chorou pitangas: “É imperativo, contudo, a alocação de investimentos que robusteçam a capacidade de atuação da força naval, uma vez que a garantia da soberania exige vigilância ininterrupta e pronta resposta ante as ameaças que se erguem na atual conjuntura geopolítica. Diante de um panorama complexo e desafiador, a Marinha do Brasil persevera no compromisso de bem servir à nação, concretizando realizações de inestimável envergadura”, pontuou.

“Foram inúmeras as contribuições protagonizadas pela força no campo da defesa naval. No âmbito da segurança marítima a força reafirmou presença no combate a ilícitos transnacionais e na garantia da liberdade de navegação, fatores cruciais para a estabilidade das rotas comerciais e proteção de infraestruturas críticas do Estado. A prontidão e eficácia dos meios navais asseguram a salvaguarda do patrimônio marítimo e o fortalecimento da soberania no Atlântico Sul”, destacou.

E encerrou a sua fala no tom ufanista que costuma caracterizar os discursos da área: “Por derradeiro, apresento votos de um feliz Natal e próspero Ano Novo à família naval. Que o Senhor dos Navegantes ilumine a derrota a percorrer, com ventos de afeição e mares tranquilos. Marinheiros, rumo ao mar! Tudo pela Pátria e pela Marinha.” 

A saudação, embora seja tradicional da Arma, não deixa de nos remeter àquele. O que para nós, soa indigesto.

Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Almirante Olsen dá o troco: Tudo pela Pátria e pela marinha!

O comandante da Marinha gravou uma mensagem de final de ano em que manda recados

Denise Assis
Publicada em 26 de dezembro de 2024 às 17:45
Almirante Olsen dá o troco: Tudo pela Pátria e pela marinha!

Marcos Sampaio Olsen (Foto: Pedro França/Agência Senado)

O comandante da Marinha do Brasil, o Almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen, obrigado que foi de retirar do ar um vídeo em que chamava a sociedade civil de “boa-vida” – para não usar o termo vulgar -, e inflava os “bravos marinheiros” como modelos dos que trabalham para o desenvolvimento do país, ignorando o esforço de todos os demais setores produtivos, numa verdadeira afronta à sociedade, deu o troco. 

Gravou uma mensagem de final de ano em que não mais estabelece comparações entre os segmentos civil e militar, mas manda recados, destacando os feitos da Marinha sem, contudo, mencionar que as atividades foram feitas ou em conjunto com o governo federal, ou sob o seu comando, como os resgates durante a crise climática no Rio Grande do Sul, por exemplo. “Tudo pela pátria e pela Marinha”, arremata. E quem ligou uma coisa à outra, sim, parece uma alusão àquele. Marcos Olsen tem lado. E fez questão de deixar nas entrelinhas, qual é. Desta vez, o recado foi gravado com a sua voz. Sem intermediários.

Para não fugir ao costume, Olsen cobra mais dinheiro para o setor, a fim de assegurar a “vigilância” e a “pronta resposta”, a possíveis ameaças, embora cite “os investimentos contínuos em ciência e tecnologia” (de onde será que vêm esses recursos?). E prossegue: “Sob a égide das ações do Estado, a Marinha se destacou em atuações diligentes em ações humanitárias no Norte, no Centro Oeste, com especial relevo para o Sul do país, no socorro prestado à população assolada por intempéries climáticas severas”. Para por aí, a citação que faz ao governo federal de forma imperceptível, indireta e sutilmente. “Sob a égide”, convenhamos, não define o papel fundamental de coordenação exercido pelo governo federal, naquela situação. 

Todos nós vimos e sabemos – ou deveríamos saber -, que foi o conjunto dos ministérios transferidos para o Rio Grande Do Sul, pelo presidente Lula, que coordenou as ações, usando as Forças e suas especificidades naquele socorro às vítimas. O almirante concede apenas uma citação “à brava gente brasileira”, ao falar en passant dos voluntários. 

Destaca feitos da Marinha do Brasil (não nos esqueçamos desse detalhe) e, por fim, e só mesmo no fecho, menciona a festa religiosa, desejando um feliz Natal, limitando a saudação ao seu público. “À família naval”.

Entre o início e o fim da fala do almirante Olsen, uma voz feminina recita um texto destacando as atividades desenvolvidas.

O comandante da Marinha misturou em seu discurso cobranças políticas e relatórios de atuação da força no âmbito da segurança nacional e falou da utilidade da força naval (coisa que ninguém duvida).

“Dirijo-me à tripulação da Marinha do Brasil com o propósito de enaltecer os feitos perpetrados em 2024, no decurso alicerçada nos princípios que regem suas tradições e indelegáveis preceitos constitucionais. A instituição sobrepujou adversidades impostas com destreza e inflexível rigor. O ânimo dos marinheiros e fuzileiros, de ofício ou afeição, souberam otimizar os recursos disponíveis, mitigando prejuízos à manutenção da condição de eficiência e emprego dos meios navais”.

De novo, chorou pitangas: “É imperativo, contudo, a alocação de investimentos que robusteçam a capacidade de atuação da força naval, uma vez que a garantia da soberania exige vigilância ininterrupta e pronta resposta ante as ameaças que se erguem na atual conjuntura geopolítica. Diante de um panorama complexo e desafiador, a Marinha do Brasil persevera no compromisso de bem servir à nação, concretizando realizações de inestimável envergadura”, pontuou.

“Foram inúmeras as contribuições protagonizadas pela força no campo da defesa naval. No âmbito da segurança marítima a força reafirmou presença no combate a ilícitos transnacionais e na garantia da liberdade de navegação, fatores cruciais para a estabilidade das rotas comerciais e proteção de infraestruturas críticas do Estado. A prontidão e eficácia dos meios navais asseguram a salvaguarda do patrimônio marítimo e o fortalecimento da soberania no Atlântico Sul”, destacou.

E encerrou a sua fala no tom ufanista que costuma caracterizar os discursos da área: “Por derradeiro, apresento votos de um feliz Natal e próspero Ano Novo à família naval. Que o Senhor dos Navegantes ilumine a derrota a percorrer, com ventos de afeição e mares tranquilos. Marinheiros, rumo ao mar! Tudo pela Pátria e pela Marinha.” 

A saudação, embora seja tradicional da Arma, não deixa de nos remeter àquele. O que para nós, soa indigesto.

Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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