Apertem os cintos, o avião está desgovernado

Na semana que se foi, a palavra renúncia voltou a ocupar os principais espaços de setores da mídia eletrônica porto-velhense.

Valdemir Caldas
Publicada em 02 de abril de 2018 às 09:56

Jânio Quadros renunciou à presidência da República, alegando que fora compelido por forças ocultas. Na época, ninguém conseguiu entender direito a atitude do presidente, eleito por uma esmagadora maioria de brasileiros. Anos se passaram, até que a verdade apareceu. Jânio se revelou um despreparado para o cargo.

Na semana que se foi, a palavra renúncia voltou a ocupar os principais espaços de setores da mídia eletrônica porto-velhense. Dessa vez, o renunciante não estaria sentado na principal cadeira do Palácio do Planalto, tampouco encastelado no palácio Getúlio Vargas (nome oficial onde trabalha o governador de Rondônia), mas, sim, no palácio Tancredo Neves (prédio onde está localizado o gabinete do prefeito).

Uma crise administrativa sem precedentes, para a qual parece não haver saída, seria o pivô da renúncia, segundo alguns observadores. Nada parece funcionar na administração tucana. O prefeito Hildon Chaves teria fracassado na promessa de transformar a capital em um local melhor para se viver. Há uma apatia geral. É um desastre atrás do outro. Seu governo é a imagem do desalento, numa linguagem direta e sem eufemismo. Agora, pipocou a denúncia da cal. Já tem gente falando em abrir uma CPI para apurar o caso.

Outros, porém, atribuem à eventual saída do prefeito a uma possível candidatura ao governo de Rondônia, o que seria uma espécie de saída honrosa do cargo. Com isso, não seria preciso encontrar um bode expiatório para tentar suavizar o impacto do desastre, que, logo, acabaria chegando ao conhecimento da opinião pública, como aconteceu com Jânio. Na atual conjuntura, não há mais estratégia de governo. Eu diria que nunca houve, nem planos, nem projetos nem programa. Há muito tempo o município vem sendo conduzido à base da improvisação.

Reconhecidamente, o cidadão que chegou ao comando da capital, pilotando um avião de votos, perdeu o controle da aeronave em meio a uma atmosfera pesada, carregada de nuvens escurecidas, que o impede de enxergar um palmo a sua frente. Viajando a uma altitude de onze mil metros, com velocidade de novecentos e oitenta quilômetros, completamente desgovernado, resultado de erros grosseiros cometidos pelo piloto e sua equipe, não há a menor possibilidade de a aeronave aterrissar com segurança, cabendo aos passageiros somente orar para que um milagre aconteça. Comecemos, pois, a orar, desde já.

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