As negociações para fusão do DEM e do PSL

A tão comentada fusão do DEM com o PSL seria, por assim dizer, uma conjugação de um partido com bons quadros com o outro com muito dinheiro

Deysi Cioccari Rodrigo Augusto Prando
Publicada em 27 de setembro de 2021 às 09:42
As negociações para fusão do DEM e do PSL

As placas tectônicas do mundo político estão a se movimentar e os tremores já podem ser sentidos. Noticia-se as negociações para a fusão de dois partidos: o DEM (Democratas) e o PSL (Partido Social Liberal). Consumando-se a fusão, haverá um partido político com força considerável no país e, por isso, poderá mudar as correlações de forças no cenário eleitoral de 2022.

O DEM, antes PFL (Partido da Frente Liberal), mudou seu nome objetivando livrar-se da imagem de fisiologista e discussões sobre uma possível fusão com outro partido sempre rondou seus filiados. Desde 1985, o PFL tinha força política, especialmente, regional com conhecidos caciques como Antônio Carlos Magalhães (ACM) e Jorge Bornhausen e, ideologicamente, colocavam-se num campo da direta, ora mais conservador, ora mais liberal na economia.

Foi, contudo, durante o Governo FHC que o partido gozou de prestígio no núcleo do poder, com uma bancada forte tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado. Foi da base de sustentação do governo e uma presença garantida na região Nordeste, na qual o PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) de FHC não tinha força eleitoral. Contudo, com o Governo Lula, perderam protagonismo e especulações de unirem-se a outro partido eram constantes.

O PFL foi fruto de um período da política brasileira em que as elites partidárias tinham força. Em 1998, foi o maior partido do país. Mas como Maquiavel afirma, no poder, não há garantias. As antigas lideranças então deixam suas posições para que a "oxigenação" na imagem aconteça: Rodrigo Maia (então com 37 anos), ACM Neto, Paulo Bornhausen são os responsáveis pela tentativa de mudar de imagem e deixar o passado da Arena, no passado. O que se verifica é um declínio vertiginoso. Em 2011, Gilberto Kassab funda o PSD (Partido Social Democrático) e leva 20 deputados consigo. Em 2014, elege 22 deputados e torna-se um partido satélite do PSDB. O atual ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, declarou que faltavam bandeiras claras ao novo PFL. Bornhausen, por sua vez, criticou abertamente a falta de pulso das novas lideranças.

Já o PSL tem uma história e trajetória política mais simples até, pelo menos, 2018. Fundado em 1994, por Luciano Bivar, era considerado um partido nanico. Conjugou, ideologicamente, o liberalismo na dimensão econômica e o conservadorismo nos costumes. Bivar, em 2006, disputou a presidência da república e terminou a eleição em penúltimo lugar.

O grande salto do partido deu-se, efetivamente, com a filiação de Jair Bolsonaro e a disputa de 2018. No último pleito, o nanico PSL, no bojo da onda bolsonarista elegeu a segunda maior bancada na Câmara dos Deputados. Isso, obviamente, significou que o partido se agigantou, ao menos no que tange aos recursos públicos destinados à agremiação. No entanto, o presidente Jair Bolsonaro saiu do partido e, hoje, governa sem filiação partidária. A saída de Bolsonaro deu-se, como se comenta de público e nos bastidores, por conta de querer dominar integralmente o partido, especialmente, seus recursos.

A tão comentada fusão do DEM com o PSL seria, por assim dizer, uma conjugação de um partido com bons quadros com o outro com muito dinheiro. Bivar, segundo consta, seria o presidente do novo partido e ACM Neto o secretário. O novo partido, portanto, contaria com bons quadros, recursos e tempo de televisão e, com isso, poderia, por exemplo, alavancar o nome de Luiz Henrique Mandetta, como opção de uma terceira via para a eleição de 2022. Mexida vigorosa no tabuleiro político e eleitoral. Veremos.

Deysi Cioccari é Jornalista e Doutora em Ciências Sociais pela PUC/SP.

Rodrigo Augusto Prando é Professor e Pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Graduado em Ciências Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp.

Sobre a Universidade Presbiteriana Mackenzie

A Universidade Presbiteriana Mackenzie está na 103º posição entre as melhores instituições de ensino da América Latina, segundo a pesquisa QS Quacquarelli Symonds University Rankings, uma organização internacional de pesquisa educacional, que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior e pós-graduação. Possui três campi no estado de São Paulo, em Higienópolis, Alphaville e Campinas. Os cursos oferecidos pelo Mackenzie contemplam Graduação, Pós-Graduação Mestrado e Doutorado, Pós-Graduação Especialização, Extensão, EaD, Cursos In Company e Centro de Línguas Estrangeiras.

Em 2021, serão comemorados os 150 anos da instituição no Brasil. Ao longo deste período, a instituição manteve-se fiel aos valores confessionais vinculados à sua origem na Igreja Presbiteriana do Brasil.

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