Barroso e Fachin empurraram Bolsonaro e os militares para as cordas
"A sensação é a de que os homens da Justiça recuperaram a confiança. Os golpistas estão atordoados e as forças desarmadas avançam", escreve Moisés Mendes
Jair Bolsonaro, militares, urnas e o ministro do STF Luís Roberto Barroso (Foto: ABr)
Por Moisés Mendes para o Jornalistas pela Democracia
Os ministros Luis Roberto Barroso e Edson Fachin estão facilitando a vida do colega Alexandre de Moraes, que em agosto assume a presidência do TSE.
Barroso e Fachin têm mantido os golpistas ocupados mais com a defesa do que com o ataque, o que inverte uma situação que vinha se repetindo.
Nesta sexta-feira, Barroso deu mais uma cutucada com a sua vara curta. Disse, no Congresso Brasileiro de Magistrados, que perdeu tempo, quando presidiu o TSE, debatendo o voto impresso.
Definiu a proposta da deputada Bia Kicis, derrotada na Câmara no ano passado, como uma bobagem. Não fez voltas para desqualificar a ideia da extrema direita patrocinada por Bolsonaro.
Já Edson Fachin reafirmou, no mesmo evento, que o TSE é quem comanda o processo eleitoral. E deu outro recado aos fardados que tentam se meter em assunto das forças desarmadas:
“Diálogo, sim; joelhos dobrados por submissão, jamais”.
A semana termina com o TSE retomando as rédeas (a expressão é de Fachin) do processo eleitoral.
Barroso e Fachin foram os protagonistas dos últimos dias do embate com o golpismo.
Há detalhes relevantes. Fachin vem falando com a imposição de presidente do TSE para advertir: eleição não é assunto para palpites de militares.
O ministro espichou e fortaleceu a fala de Barroso, que muitos consideraram desastrosa, por causa do alerta de 24 de abril de que Bolsonaro está tentando orientar as Forças Armadas para que trabalhem pelo golpe. Não foi desastre nenhum. Foi a melhor fala de maio e uma das melhores do ano.
As últimas intervenções de Bolsonaro, dizendo que Fachin vê fantasmas e depois classificando o Supremo como um lugar de “marginais em gabinetes”, são precárias. Não estão à altura das perdas que ele e seus generais sofreram.
O sujeito recorre a uma definição bobinha para agredir, mas sem que tal recurso tenha o poder de impor um ponto de vista.
O chefe supremo dos generais não conseguiu devolver aos ministros, como fazia antes, nada que tente apresentar as Forças Armadas como poder com o direito de interferir nos sistemas de votação e apuração.
Seu discurso num evento com empresários teve um tom queixoso, quase um lamento, que não parece ser de Bolsonaro:
“Nós queremos eleições limpas, transparentes, com voto auditável. Convidaram as Forças Armadas a participar do processo eleitoral. Elas fizeram seu papel, não foram lá para servir de moldura para quem quer que seja, e hoje nos atacam como se as Forças Armadas estivessem interferindo no processo eleitoral. Longe disso”.
Vai ficando claro que o sujeito e os militares se abateram com os recados dos ministros.
Fachin e Barroso agiram como autoridades do Judiciário decididas a alertar para os riscos da prepotência militar. E se dirigiram diretamente aos militares. Desistam de agredir a eleição.
Bolsonaro pode ter dado a entender, com a reação infantil, que está sem repertório. Talvez porque os próprios militares tenham decidido recuar.
Para matar saudade das analogias de antigamente e usar a linguagem do boxe, os ministros jogaram Bolsonaro e seu entorno fardado nas cordas. Aguardemos os próximos dias para saber se conseguirão reagir.
A sensação que passa a inspirar os debates do fim de semana é a de que os homens da Justiça recuperaram a confiança. Percebe-se que os golpistas estão atordoados. As forças desarmadas avançam.
Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.
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