Bolsonaro terminará como Trump
"Assim como Trump, Bolsonaro terminará sendo derrotado, política e juridicamente, pela rejeição de massas a ele e a seu governo – o que as manifestações do dia 29 reafirmaram", escreve o sociólogo Emir Sader
Bolsonaro se inspirou em Donald Trump, em seus discursos e sua forma de fazer política. Negacionista, questionador da política tradicional, centralizador, agressivo com a mídia, com os que divergem dele, com o Judiciário.
Começou se dando bem, passou de livre atirador a presidente do país, como Trump. As coisas começaram a desandar quando, eleitos, deixaram de ser livre atiradores, para terem que responder por seus governos. A pandemia aumentou ainda o desgaste que os dois tiveram.
Mas, pior para Bolsonaro, quando Trump não conseguiu se reeleger, ao concentrar sobre ele todos os grandes problemas que viviam os Estados Unidos, elevando sua rejeição e fazendo das eleições norte-americanas um referendo sobre ele. Perdeu e colocou problemas para o Bolsonaro, que achava que o caminho seria mais fácil. Perdeu uma rota e perdeu um grande aliado.
Este ano as coisas desandaram de vez para Bolsonaro. O desgaste que ele ainda não tinha tido no ano passado a partir da pandemia, passou a ter este ano, com a consciência difundida clara que o governo não comprou as vacinas que poderia ter comprado no ano passado e que levaram à responsabilidade na morte de milhares de pessoas.
A prolongação da recessão econômica, com o índice recorde de desemprego e os milhões de pessoas em situação de precariedade, também recaíram sobre ele. Não bastasse isso, Lula recuperou seus direitos, passou a representar a alternativa e, para uma grande parte da população, o futuro do Brasil.
Bolsonaro olha para Trump e tenta resgatar dali uma forma de ação, mesmo se perdedora nos EUA. Em primeiro lugar, questionar, desde já, os resultados eleitorais, sabendo que lhe serão desfavoráveis, denunciando supostas fraudes – nunca comprovadas – das urnas eletrônicas e propondo o retorno aos votos impressos. Não por acaso, no último comício e carreata de motos que fez, no Rio, a única faixa, exibida por um aviãozinho, dizia exatamente: “voto impresso”.
Mas não bastam as denúncias, se não há força para colocá-las em prática. Trump tinha força da mídia e de uma votação que, ainda insuficiente para ganhar, foi impressionante. Bolsonaro tem outros apelos: as FFAA e as polícias.
Trump teve que, finalmente, ceder, depois de ameaçar não entregar o cargo. Esticou a corda ao máximo, mas tinha toda a institucionalidade contra ele e foi perdendo apoio no seu próprio eleitorado, quando dizia que não reconheceria os resultados eleitorais, alegando que havia fraudes, sem nunca ter provado nenhuma.
Bolsonaro aprende daquela experiência. Da mesma forma que desconheceu a derrota eleitoral do Trump até no limite máximo e teve que reconhecer a vitória de Joe Biden, sabe que tem um limite seu eventual desconhecimento dos resultados eleitorais. Principalmente tendo contra ele o Judiciário, a mídia e, eventualmente, o próprio Congresso, além da opinião pública internacional.
Por isso sua reserva é o apelo a algum tipo de golpe, valendo-se dos militares e das polícias. Sabe que tem grande quantidade de militares comprometidos com seu governo, que serão derrotados junto com ele. Mas sabe, ele e os próprios militares, que não terão condições de resistir a uma vitória eleitoral arrasadora do Lula, eventualmente no primeiro turno, que é a garantia da derrota do governo do Bolsonaro.
Bolsonaro já sabe, pelos próprios pronunciamentos do Judiciário, que não haverá voto impresso. Mas mantém a reivindicação, porque é o argumento para alegar eventuais fraudes, no caso, muito provavelmente, da sua derrota eleitoral.
Como no caso do Trump, o limite é a derrota política. No nosso caso, a vitória arrasadora do Lula, transformado em candidato do resgate da democracia, da recuperação do diálogo político, da recuperação da economia e da geração de empregos, do retorno a um tempo em que o Brasil era muito respeitado no mundo.
Assim como Trump, Bolsonaro terminará sendo derrotado, política e juridicamente, pela rejeição de massas a ele e a seu governo – o que as manifestações do dia 29 reafirmaram. Da mesma forma que Trump, Bolsonaro será derrotado e terá de deixar o governo. Condição do retorno à democracia e à convivência pacífica e civilizada entre todos os brasileiros.
Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros
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