Bolsonaro tripudia sobre cadáveres da ditadura e do massacre no Pará
Foi uma atrás da outra, como se a morte para ele não passasse de uma coisa banal
Apesar do 'apoio divino', parece inevitável a queda de Jair Messias, o ungido (Foto: Marcos Corrêa/PR)
Ricardo Kotscho é jornalista e integra o Jornalistas pela Democracia. Recebeu quatro vezes o Prêmio Esso de Jornalismo e é autor de vários livros.
"Jair Bolsonaro, o aprendiz de ditador, em sua escalada de insanidade, agora chuta cadáveres. A primeira vítima foi o pai de Felipe Santa Cruz, presidente da OAB, um estudante perseguido, morto e desaparecido na ditadura militar, quando tinha 23 anos", diz Ricardo Kotscho sobre as atrocidades verbais recentes de Bolsonaro
No filme “O Grande Ditador”, tem aquela cena genial do Charles Chaplin chutando o globo terrestre como se fosse uma bola de futebol.
Pois Jair Bolsonaro, o aprendiz de ditador, em sua escalada de insanidade, agora chuta cadáveres.
A primeira vítima foi o pai de Felipe Santa Cruz, presidente da OAB, um estudante perseguido, morto e desaparecido na ditadura militar, quando tinha 23 anos.
Preso pelo governo militar em 1974, nunca mais foi visto. Documentos oficiais provam que ele desapareceu quando Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira estava sob a tutela do Estado.
Ontem, o ex-capitão voltou à ofensiva, atacando e debochando de todos os mortos e desaparecidos da ditadura, ao colocar em dúvida as conclusões da Comissão Nacional da Verdade.
“Você acredita em Comissão da Verdade? Não existem documentos dizendo se matou ou não matou. Isso é balela”, disparou o presidente na primeira entrevista do dia, em frente ao Alvorada.
E emendou: “Você quer documento para isso, meu Deus do céu. Documento é quando você casa, você se divorcia. Eles têm documentos dizendo o contrário?”
Sem querer, do jeito que falou, acabou confessando que os documentos da época da ditadura foram todos destruídos, o que os militares sempre negaram.
Ao ser perguntado sobre o massacre de Altamira, no Pará, onde morreram 57 presos, 16 deles decapitados, o presidente reagiu irritado:
“Pergunta para as vítimas dos que morreram”.
Foi uma atrás da outra, como se a morte para ele não passasse de uma coisa banal. Empatia zero, como bem disse o presidente da OAB sobre o caráter de Bolsonaro.
Na véspera, enquanto cortava o cabelo, comentou de passagem o caso do morador de rua, um deficiente mental, que fez várias vitimas no Rio portando uma faca.
“E não tinha ninguém lá para dar um tiro nele?”
Felipe Santa Cruz irá interpelar Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal para que o presidente apresente informações que eventualmente tenha sobre a morte de seu pai, depois de ter afirmado que Fernando Augusto foi assassinado por membros da esquerda.
“Aí há uma lista de possíveis crimes que ele pode estar incorrendo, sim. A começar pela falsidade, a dar declaração falsa, provavelmente num arroubo verbal”, disse Felipe Santa Cruz em entrevista à BBC News Brasil.
Mas o presidente da OAB acredita que Bolsonaro não tem qualquer informação verdadeira sobre o caso. “Foi só mais um gesto de irresponsabilidade do presidente”.
Com o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e as Forças Armadas mantendo obsequioso silêncio sobre o presidente da República que não respeita nem os mortos, a obra prima de Charles Chaplin pode ser superada pela realidade brasileira em pleno século 21.
Vida que segue.
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