Calama está sem médico

De uma hora para outra todos os profissionais de medicina daqui deixaram de atender aos seus pacientes ou simplesmente foram embora da cidade.

Professor Nazareno*
Publicada em 13 de agosto de 2018 às 10:52

Distrito de Calama

Talvez fosse difícil imaginar Porto Velho sem médico. De uma hora para outra todos os profissionais de medicina daqui deixaram de atender aos seus pacientes ou simplesmente foram embora da cidade. Óbvio que isso é apenas no campo da ficção. Mas Calama, a charmosa e encantadora vilazinha no baixo Madeira está sem médico há mais de cinco meses e raríssimas providências foram tomadas até hoje para resolver este
gravíssimo problema, pelo menos muito grave para aquela comunidade. A “Veneza esquecida do Madeira” tem hoje mais de três mil habitantes e é um centro de mais de cinco mil moradores incluindo outras vilas menores como Demarcação no rio Machado, Papagaios, Conceição do Galera, Maici e Ilha de Assunção. Como há trinta ou quarenta anos, não existe ali um só médico. Entendi agora porque Calama é a Veneza esquecida.

Porto Velho tem um prefeito, um vice-prefeito, secretários, várias autoridades e pelo menos 21 vereadores muito bem instalados na Câmara Municipal e duvido que ali não haja muitos médicos e outros bons profissionais para atender a todos. Não lembro qual dos políticos, mas teve um deles que disse outro dia que ia amar, abraçar, acariciar e beijar a cidade. Pensei que isso seria também aplicado aos distritos. Mas no caso da
vilazinha do Madeira a lorota não era pra valer. Calama tem pelo menos uns dois mil eleitores cadastrados e ainda que não tivessem votado em nenhum dos vereadores eleitos, não merecia esta triste situação. E mesmo que lá não tivesse nenhum eleitor, não poderia nem deveria estar passando por esta situação surreal, pois ali existem seres humanos bons, hospitaleiros, trabalhadores, íntegros, corretos e todos são brasileiros.

Dizem que até fevereiro de 2018, o Programa Mais Médicos do Governo Federal mantinha ali um profissional de saúde e que por algum motivo saiu de lá. Mas deixar o bravo e ordeiro povo de Calama sem médico por tanto tempo é de uma crueldade que afronta até a política internacional de direitos humanos. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA deveria saber disto. Não só Calama, mas qualquer outro distrito, vila, aldeia ou comunidade situada nos rincões deste Brasil necessita de médico. Em Calama não há médico, não há dentista, psicólogo ou advogado. Caos: o Posto de Saúde do distrito pode até ter remédios, mas só podem ser distribuídos com prescrição médica. E como não há médico... Pessoas podem simplesmente morrer de causas evitáveis e tudo por culpa de quem? O Poder Público tem que ser responsabilizado, sim!

Estive em Calama recentemente e vi dentre muitos dois casos que me chamaram a atenção. Igor Prestes, um jovem pescador de uns 20 anos, foi picado por uma cobra e se não fosse levado às pressas para Humaitá no Amazonas, teria ido a óbito. Em Calama parece que não existe soro antiofídico e, claro, nem médico para prescrevê-lo. Ali se precisa contar muito com a sorte. Minha comadre Safira também estava doente. O rosto
inchado por causas desconhecidas só melhorou depois de compressas de gelo. O que um professor de Gramática entende de medicina? Pedi providências ao vereador Aleks Palitot. Solícito, ele me disse que vai buscar soluções. Eu pediria à Prefeitura de Porto Velho e às autoridades responsáveis que se não podem mandar médico para lá, criem a “Secretaria do Ramo de Arruda” para pelo menos rezar e benzer o povo. Pior: quando voltei no domingo, o porto estava fechado e tive que subir o barranco liso feito sabão.

*É Professor em Porto Velho.

Comentários

  • 1
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    Henry 13/08/2018

    Foi-se o tempo em que tão valorosa profissão era exercida por pessoas vocacionadas e sensíveis a problemática da saúde de nossa região, sobretudo das localidades mais distantes na BR e também das ribeirinhas.Eu tinha tenra idade quando um brilhante médico, dr. Amilcar Roffamann, veio morar em Porto Velho, quando ainda éramos território.Um profissional humano, que desempenhava sua profissão com amor e dedicação. Se ainda tivesse vivo e morando em Porto Velho não pensaria duas vezes para se deslocar às localidades ribeirinhas às margens do Rio Madeira, aliás, o mesmo já fazia isso anos atrás quando às condições de transporte eram precárias, imagine nos dias de hoje. O que falta no nosso Estado são médicos que sejam humanos, que exerçam a profissão com amor, zelo, dedicação e acima de tudo respeito ao paciente e não de profissionais que só buscam enriquecer às custas do sofrimento alheio.

  • 2
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    Waldemir Cruz 13/08/2018

    Todo concurso público tem vagas e candidatos aprovados para os distritos. Se candidatar as vagas pra facilitar a aprovação. Depois assumem trabalha 90 dias,aí começa às desculpas as licenças médicas os colegas secretário de saúde os vereadores todos dando um jeito para tirar os médicos e todos os outros profissionais que fizeram concurso para os distritos pela faculdade da concorrência e da nisso. Com certeza um busca no portal da transparência, saberá quem tá lotado e onde no concurso. E onde ele está na atual gestão. Simples assim. Aí você vai ao MP,e faca sua queixa crime ou denuncia.

  • 3
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    Telma Rodrigues 13/08/2018

    Faz 35 anos que deixei de andar em Calama. Mas olhando a bela foto aérea existente na matéria, percebo que a maioria das casas do glamouroso distrito possui telhados de mais de quarenta anos... No Bairro São Francisco vejo algumas casas menos antigas. Já no Alto do Bode (que não aparece na foto) está a Escola e mais algumas dúzias de residências. Mas a questão central é a falta de médico. Calama sofre da mesma "enfermidade" de milhares de outros vilarejos, espalhados pela vasta Amazônia brasileira. Locais distantes, sem acesso rodoviário, sem apelo econômico para a fixação de médico. Principalmente pelo baixo valor que nossa prefeitura paga para um médico. Deveria haver salário diferenciado para um médico que fosse morar em local tão isolado. Sugestão: Reduzir o número de vereadores (com seu bando de aspones), que sobraria grana para pagar adequadamente a um médico. Será que um vereador é mais importante que um médico, para o povo de Calama? Nazareno: Faça um plebiscito sobre isso em Calama...

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