Chefe de Bolsonaro só fica com ele até a eleição municipal
"A expectativa é de que, a essa altura, o ex-presidente estará inelegível — ou coisa pior — e a direita vai procurar outros rumos para 2026", diz Helena Chagas
Valdemar Costa Neto, presidente do PL, e Bolsonaro (Foto: Reprodução | REUTERS/Adriano Machado)
O novo “chefe” de Jair Bolsonaro, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, pretende ficar com ele até as eleições municipais do ano que vem. Segundo políticos próximos, Valdemar considera Bolsonaro um bom eleitor, que o ajudará a captar os votos do eleitorado de direita pelo país e multiplicar o número de prefeitos da legenda — que, a reboque do ex-presidente, fez a maior bancada da Câmara. Os planos de Valdemar, porém, param por aí. No PL, a expectativa é de que, a essa altura, o ex-presidente estará inelegível — ou coisa pior — e a direita vai procurar outros rumos para 2026.
No curto prazo, Valdemar continuará fazendo as honras da casa para Bolsonaro, pagando altos salários e outras despesas, aturando seus filhos e fingindo acreditar que Michelle será uma revelação nas urnas. O presidente do PL sabe que depende disso a preservação de sua bancada e, sobretudo, do controle do partido, hoje dividido exatamente ao meio entre a ala bolsonarista e a dos antigos integrantes da legenda — aqueles que sempre fecharam com todos os governos.
A força de Bolsonaro, porém, deve acabar se reduzindo na maratona jurídica que enfrentará a partir de agora no TSE e no STF, em meio a acusações que vão da apropriação indébita das jóias das Arábias ao incitamento dos atos golpistas do 8/1. Basta uma condenação, ou uma inelegibilidade, para que ele se torne carta fora do baralho de 2026 — e essa será a senha para a debandada dos aliados.
Nesse momento, aquilo que hoje ainda se chama de bolsonarismo começará a gravitar em torno de outros nomes do campo da direita. Valdemar, tendo assegurado o controle do PL , já não terá o risco de ser derrubado pela ala bolsonarista e vai negociar o apoio do PL, que está se tornando um partido grande. Fará isso do seu jeito: sem preconceitos, seguindo as próprias simpatias.
O hoje chefe de Bolsonaro, dizem aliados, dificilmente apoiará uma candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, nome mais citado para ocupar a vaga com uma inelegibilidade do ex-capitão. Valdemar detesta Tarcísio desde que o governador, então diretor do DNIT (governo Dilma), demitiu todos os seus apadrinhados. Bem relacionado com o PT, ele não descartaria, segundo amigos, uma aliança com Lula em eventual reeleição, ou o apoio a seu candidato — se este não for Fernando Haddad, outro desafeto.
Outra notícia ruim para Jair Bolsonaro é que, apesar de precisar dele para engordar o PL e manter seu controle, Valdemar não pretende confrontar a Justiça para ficar a seu lado. Conhecido pão-duro, nem pensa também em gastar muito dinheiro para turbinar o ex-presidente em suas andanças pelo país. O presidente do PL comeu o pão que o Xandão amassou para pagar a multa de R$ 22 milhões recebida ao tentar contestar os resultados da eleição — a mando daquele que hoje se diz seu chefiado.
A nota do PL na véspera da volta de Bolsonaro diz muito sobre esse estado de espírito: não promoveu grandes festanças populares vitaminadas com pagamento e transporte gratuito. Realizou evento fechado, de tamanho modesto, sem motociata, discursos apoteóticos ao povo ou maiores homenagens. Para bom entendedor, o desfecho pode até demorar um ou dois anos, mas Valdemar Costa Neto já está, como dizia o velho Brizola, costeando o alambrado.
Helena Chagas
Helena Chagas é jornalista, foi ministra da Secom e integra o Jornalistas pela Democracia
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