Cid recupera a liberdade. Bolsonaro está cada vez mais distante dela

"Tudo indica que Mauro Cid falou mais e entregou novos elementos de provas à Polícia Federal", escreve a colunista Denise Assis

Fonte: Denise Assis - Publicada em 04 de maio de 2024 às 16:16

Cid recupera a liberdade. Bolsonaro está cada vez mais distante dela

Jair Bolsonaro e Mauro Cid (Foto: ABr | Agência Senado )

Para os que acham que há algo no ar além de aviões de carreira, desistam. Não há perspectiva de anistia para Bolsonaro, que andou dizendo ver sua prisão cada vez mais distante. Hoje (03/05), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a soltura do tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), o que poderia soar como indícios de acordão. Mas não é isso o que a sua liberdade quer dizer. Tudo indica que Mauro Cid falou mais e entregou novos elementos de provas à Polícia Federal.

Cid aguarda ser solto no Batalhão da Polícia do Exército, em Brasília, onde se encontra preso desde março deste ano, após prestar depoimento ao Supremo. A delação premiada feita por Cid, continua válida, por decisão de Moraes. "Consideradas as informações prestadas em audiência nesta Suprema Corte, bem como os elementos de prova obtidos a partir da realização de busca e apreensão, não se verifica a existência de qualquer óbice à manutenção do acordo de colaboração premiada nestes autos", decidiu o ministro.

De acordo com uma fonte ligada ao meio militar, a defesa de Mauro Cid vinha fazendo empenho junto a Moraes desde a sua prisão. A decisão do ministro, no entanto, só ocorreu porque, disse a fonte, conversas correntes em Brasília dão conta de que Cid complementou a delação premiada com dados significativos. Por isso ela não só foi mantida, como ampliada, e pode gerar novas diligências. E, ao contrário do que disse Bolsonaro sobre a perspectiva de uma “anistia”, essa fonte descartou por completo, complementando: “fora de cogitação. Não existe a menor possibilidade, depois de todo esse trabalho do ministro Alexandre de Moraes e de tudo que vimos acompanhando”.

O acordo de colaboração premiada de Cid aponta para fatos no âmbito do inquérito que apura fraudes em certificados de vacinação contra covid-19, e cooperou também com o inquérito sobre o desvio de joias – caso em que também tem como investigado o general Mauro Cesar Cid, pai do tenente-coronel -, e uma tentativa de golpe de Estado que teria sido elaborada no alto escalão do governo Bolsonaro. Os termos da delação já haviam sido confirmados pelo militar durante a audiência na qual ele foi preso.

Tudo caminhava bem até que no dia 21 de março deste ano, o tenente-coronel e ex-ajudante-de-ordem, Mauro Cid, chutou o pau da barraca e, num vídeo para lá de suspeito - há quem diga que ele estivesse falando com uma figura honorável do Exército Brasileiro -, botou a boca no mundo sobre a sua condição. “Quem mais se ferrou fui eu. Ninguém perdeu carreira, ninguém perdeu vida financeira como eu perdi. Todo mundo já era quatro estrelas, estava no topo. O presidente teve pix de milhões, ficou milionário”, desabafou o ex-ajudante de ordens.

O áudio foi vazado pela Revista Veja e divulgado naquela mesma noite. Nele, o tenente-coronel Mauro Cid desabafa com um conhecido (de quem não se ouve a voz) a respeito dos últimos anos de sua vida, em que serviu como ajudante-de-ordem e acabou preso por conta de uma série de crimes cometido pelo chefe, o então presidente. Na função que exercia, participou de todos como cúmplice ou auxiliar.

Àquela altura o cerco se fechava contra Bolsonaro, o próprio Cid e vários assessores e comandantes militares. Foi graças à delação premiada que prestou, que a Polícia Federal pôde construir um alentado relatório e empreender uma série de investigações, que culminou na apreensão do passaporte do ex-presidente e uma operação de busca e apreensão em sua casa de praia, de onde levou celulares e computadores dele e do seu filho, Carlos Bolsonaro.

No áudio gravado por Cid, ele reclamava da abordagem dos policiais e dizia que foi induzido a mentir para validar uma narrativa que já estaria posta. Enquanto gravava o desabafo a investigação policial prosseguia, mediante devassa nos seus celulares, em que foram descobrindo, aos poucos, cada detalhe da trama golpista.

Durante os seis depoimentos que prestou após fechar o acordo de delação premiada, Cid foi confrontado com as descobertas prévias. Vendo-se confrontado com as informações colhidas, se desesperou e assumiu o papel que os bolsonaristas desemprenham como ninguém: o de vítima. Tantas fez que acabou preso novamente. De volta ao Batalhão da Polícia do Exército, parece ter tido calma para refletir que o melhor que tem a fazer é entregar o pouco que faltava. Cid recuperou a liberdade. Quanto a Bolsonaro, está cada vez mais distante dela.

Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

704 artigos

Cid recupera a liberdade. Bolsonaro está cada vez mais distante dela

"Tudo indica que Mauro Cid falou mais e entregou novos elementos de provas à Polícia Federal", escreve a colunista Denise Assis

Denise Assis
Publicada em 04 de maio de 2024 às 16:16
Cid recupera a liberdade. Bolsonaro está cada vez mais distante dela

Jair Bolsonaro e Mauro Cid (Foto: ABr | Agência Senado )

Para os que acham que há algo no ar além de aviões de carreira, desistam. Não há perspectiva de anistia para Bolsonaro, que andou dizendo ver sua prisão cada vez mais distante. Hoje (03/05), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a soltura do tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), o que poderia soar como indícios de acordão. Mas não é isso o que a sua liberdade quer dizer. Tudo indica que Mauro Cid falou mais e entregou novos elementos de provas à Polícia Federal.

Cid aguarda ser solto no Batalhão da Polícia do Exército, em Brasília, onde se encontra preso desde março deste ano, após prestar depoimento ao Supremo. A delação premiada feita por Cid, continua válida, por decisão de Moraes. "Consideradas as informações prestadas em audiência nesta Suprema Corte, bem como os elementos de prova obtidos a partir da realização de busca e apreensão, não se verifica a existência de qualquer óbice à manutenção do acordo de colaboração premiada nestes autos", decidiu o ministro.

De acordo com uma fonte ligada ao meio militar, a defesa de Mauro Cid vinha fazendo empenho junto a Moraes desde a sua prisão. A decisão do ministro, no entanto, só ocorreu porque, disse a fonte, conversas correntes em Brasília dão conta de que Cid complementou a delação premiada com dados significativos. Por isso ela não só foi mantida, como ampliada, e pode gerar novas diligências. E, ao contrário do que disse Bolsonaro sobre a perspectiva de uma “anistia”, essa fonte descartou por completo, complementando: “fora de cogitação. Não existe a menor possibilidade, depois de todo esse trabalho do ministro Alexandre de Moraes e de tudo que vimos acompanhando”.

O acordo de colaboração premiada de Cid aponta para fatos no âmbito do inquérito que apura fraudes em certificados de vacinação contra covid-19, e cooperou também com o inquérito sobre o desvio de joias – caso em que também tem como investigado o general Mauro Cesar Cid, pai do tenente-coronel -, e uma tentativa de golpe de Estado que teria sido elaborada no alto escalão do governo Bolsonaro. Os termos da delação já haviam sido confirmados pelo militar durante a audiência na qual ele foi preso.

Tudo caminhava bem até que no dia 21 de março deste ano, o tenente-coronel e ex-ajudante-de-ordem, Mauro Cid, chutou o pau da barraca e, num vídeo para lá de suspeito - há quem diga que ele estivesse falando com uma figura honorável do Exército Brasileiro -, botou a boca no mundo sobre a sua condição. “Quem mais se ferrou fui eu. Ninguém perdeu carreira, ninguém perdeu vida financeira como eu perdi. Todo mundo já era quatro estrelas, estava no topo. O presidente teve pix de milhões, ficou milionário”, desabafou o ex-ajudante de ordens.

O áudio foi vazado pela Revista Veja e divulgado naquela mesma noite. Nele, o tenente-coronel Mauro Cid desabafa com um conhecido (de quem não se ouve a voz) a respeito dos últimos anos de sua vida, em que serviu como ajudante-de-ordem e acabou preso por conta de uma série de crimes cometido pelo chefe, o então presidente. Na função que exercia, participou de todos como cúmplice ou auxiliar.

Àquela altura o cerco se fechava contra Bolsonaro, o próprio Cid e vários assessores e comandantes militares. Foi graças à delação premiada que prestou, que a Polícia Federal pôde construir um alentado relatório e empreender uma série de investigações, que culminou na apreensão do passaporte do ex-presidente e uma operação de busca e apreensão em sua casa de praia, de onde levou celulares e computadores dele e do seu filho, Carlos Bolsonaro.

No áudio gravado por Cid, ele reclamava da abordagem dos policiais e dizia que foi induzido a mentir para validar uma narrativa que já estaria posta. Enquanto gravava o desabafo a investigação policial prosseguia, mediante devassa nos seus celulares, em que foram descobrindo, aos poucos, cada detalhe da trama golpista.

Durante os seis depoimentos que prestou após fechar o acordo de delação premiada, Cid foi confrontado com as descobertas prévias. Vendo-se confrontado com as informações colhidas, se desesperou e assumiu o papel que os bolsonaristas desemprenham como ninguém: o de vítima. Tantas fez que acabou preso novamente. De volta ao Batalhão da Polícia do Exército, parece ter tido calma para refletir que o melhor que tem a fazer é entregar o pouco que faltava. Cid recuperou a liberdade. Quanto a Bolsonaro, está cada vez mais distante dela.

Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Comentários

  • 1
    image
    sebastian 04/05/2024

    Digo e repito; esses/essas jornalecos militantes tem paixão pelo ex-presidente. O filho do cara que chamam de presidente deu um coro na ex-mulher, ninguém viu nenhum desses carrapatos publicar, cobrar, se manifestar em algo, incrível como essa raça fica pensando 24 horas no cara. É muita paixão só pode.

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