Cláudio Castro culpa governo Lula por falhas na segurança

Ao contrário do que o governador do Rio disse, Lula não é contra a Garantia da Lei e da Ordem e já a decretou duas vezes neste mandato

Fonte: Joaquim de Carvalho - Publicada em 29 de outubro de 2025 às 15:33

Cláudio Castro culpa governo Lula por falhas na segurança

Ao contrário do que afirmou o governador Cláudio Castro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já convocou duas operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) em seu atual mandato. A primeira, em 2023, teve como objetivo combater o crime organizado nos portos e aeroportos, com foco no tráfico de drogas e armas. A segunda ocorreu durante o encontro do G20, realizado no Rio de Janeiro, quando o governo federal determinou o reforço das Forças Armadas para garantir a segurança de autoridades estrangeiras e a tranquilidade do evento.

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Esses fatos desmentem a narrativa de que Lula seria “contra” a utilização da GLO. O presidente sempre deixou claro que não se opõe ao instrumento em si, mas questiona sua eficácia no enfrentamento da violência urbana no Rio de Janeiro, tomando como exemplo a intervenção federal de 2018. Naquele ano, o país assistiu à presença ostensiva das Forças Armadas nas ruas cariocas, com um custo superior a R$ 1 bilhão. O resultado, porém, foi decepcionante: os índices de criminalidade permaneceram praticamente inalterados, e as comunidades afetadas não viram melhorias duradouras em segurança ou qualidade de vida.

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É justamente esse aprendizado que orienta a postura atual do governo federal. Lula não descarta o uso da força, mas defende ações coordenadas, estruturais e permanentes, em vez de operações pontuais e midiáticas que, ao final, apenas reforçam o ciclo de violência. Foi por isso que o Ministério da Justiça apresentou a PEC da Segurança Pública, que foi criticada pelo governador do Rio de Janeiro.

Ao sugerir que o governo federal lavou as mãos diante da crise de segurança no Rio, Cláudio Castro tenta transferir responsabilidades que são, em grande medida, suas. A megaoperação estadual que resultou em pelo menos 64 mortos – sendo quatro policiais civis –  foi conduzida sem interlocução adequada com Brasília, um erro grave em um tema que exige cooperação entre todas as esferas de poder.

Além disso, o governo federal mantém no estado a Força Nacional de Segurança Pública, cuja atuação poderá ser prorrogada depois dezembro de 2025, segundo nota divulgada nesta terça-feira pelo Ministério da Justiça. Essa presença demonstra que o apoio da União nunca foi retirado — e pode, inclusive, ser estendido, caso o governo do estado solicite.

Há pouco, em entrevista coletiva, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afirmou que a GLO, prevista na Constituição, poderá ser decretada no Rio de Janeiro, mas, para isso, o governador do Rio teria que reconhecer a “falência” da segurança pública no Estado.

A comparação com a operação de 2010, conduzida em parceria entre o governo federal e o governo do estado, é inevitável. Naquele episódio, a retomada do Complexo do Alemão foi considerada um marco de eficiência e planejamento, resultado de coordenação interinstitucional, investimento social e inteligência policial. Diferentemente de agora, quando a ausência de diálogo e a ênfase em ações letais transformaram uma tentativa de restabelecer a ordem em um desastre humanitário e político.

No fundo, a polêmica em torno da GLO revela mais do que divergências estratégicas: expõe os erros do governo de Cláudio Castro e a falta de uma política de segurança integrada e eficaz no Rio de Janeiro. Ao preferir o confronto à cooperação, o governador repete os erros do passado e tenta dividir com o governo federal o peso de uma tragédia que é, em grande parte, produto de sua própria condução.

Joaquim de Carvalho

Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: [email protected]

Cláudio Castro culpa governo Lula por falhas na segurança

Ao contrário do que o governador do Rio disse, Lula não é contra a Garantia da Lei e da Ordem e já a decretou duas vezes neste mandato

Joaquim de Carvalho
Publicada em 29 de outubro de 2025 às 15:33
Cláudio Castro culpa governo Lula por falhas na segurança

Ao contrário do que afirmou o governador Cláudio Castro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já convocou duas operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) em seu atual mandato. A primeira, em 2023, teve como objetivo combater o crime organizado nos portos e aeroportos, com foco no tráfico de drogas e armas. A segunda ocorreu durante o encontro do G20, realizado no Rio de Janeiro, quando o governo federal determinou o reforço das Forças Armadas para garantir a segurança de autoridades estrangeiras e a tranquilidade do evento.

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Esses fatos desmentem a narrativa de que Lula seria “contra” a utilização da GLO. O presidente sempre deixou claro que não se opõe ao instrumento em si, mas questiona sua eficácia no enfrentamento da violência urbana no Rio de Janeiro, tomando como exemplo a intervenção federal de 2018. Naquele ano, o país assistiu à presença ostensiva das Forças Armadas nas ruas cariocas, com um custo superior a R$ 1 bilhão. O resultado, porém, foi decepcionante: os índices de criminalidade permaneceram praticamente inalterados, e as comunidades afetadas não viram melhorias duradouras em segurança ou qualidade de vida.

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É justamente esse aprendizado que orienta a postura atual do governo federal. Lula não descarta o uso da força, mas defende ações coordenadas, estruturais e permanentes, em vez de operações pontuais e midiáticas que, ao final, apenas reforçam o ciclo de violência. Foi por isso que o Ministério da Justiça apresentou a PEC da Segurança Pública, que foi criticada pelo governador do Rio de Janeiro.

Ao sugerir que o governo federal lavou as mãos diante da crise de segurança no Rio, Cláudio Castro tenta transferir responsabilidades que são, em grande medida, suas. A megaoperação estadual que resultou em pelo menos 64 mortos – sendo quatro policiais civis –  foi conduzida sem interlocução adequada com Brasília, um erro grave em um tema que exige cooperação entre todas as esferas de poder.

Além disso, o governo federal mantém no estado a Força Nacional de Segurança Pública, cuja atuação poderá ser prorrogada depois dezembro de 2025, segundo nota divulgada nesta terça-feira pelo Ministério da Justiça. Essa presença demonstra que o apoio da União nunca foi retirado — e pode, inclusive, ser estendido, caso o governo do estado solicite.

Há pouco, em entrevista coletiva, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afirmou que a GLO, prevista na Constituição, poderá ser decretada no Rio de Janeiro, mas, para isso, o governador do Rio teria que reconhecer a “falência” da segurança pública no Estado.

A comparação com a operação de 2010, conduzida em parceria entre o governo federal e o governo do estado, é inevitável. Naquele episódio, a retomada do Complexo do Alemão foi considerada um marco de eficiência e planejamento, resultado de coordenação interinstitucional, investimento social e inteligência policial. Diferentemente de agora, quando a ausência de diálogo e a ênfase em ações letais transformaram uma tentativa de restabelecer a ordem em um desastre humanitário e político.

No fundo, a polêmica em torno da GLO revela mais do que divergências estratégicas: expõe os erros do governo de Cláudio Castro e a falta de uma política de segurança integrada e eficaz no Rio de Janeiro. Ao preferir o confronto à cooperação, o governador repete os erros do passado e tenta dividir com o governo federal o peso de uma tragédia que é, em grande parte, produto de sua própria condução.

Joaquim de Carvalho

Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: [email protected]

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