Condenação de Bolsonaro vai afetar a eleição de 2026 e tem impacto imediato
Ao embaralhar as cartas, a direita tradicional avalia que será possivel não apenas afastar o bolsonarismo como ela mesma chegar ao segundo turno em 2026
Luzi Inácio Lula da Silva (à esq.), Jair Bolsonaro e o TSE (Foto: ABr)
A justificada indignação contra os crimes de Bolsonaro leva uma parte do público a desejar que ele seja punido com a pena mais rigorosa, a de prisão, além de ser declarado inelegível também com a condenação máxima, oito anos, pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Seria um desfecho com sabor de vingança, não apenas pela causa em questão, a de atacar o sistema de votos e o próprio tribunal diante de embaixadores estrangeiros, mas pelo "conjunto da obra".
Há quem conceda ao argumento, atribuído a fontes da mesma corte, de que a sentença de prisão seria inconveniente, pois poderia aumentar a tensão política e mesmo se transformar num tiro pela culatra ao tornar Bolsonaro, da cadeia, um mártir da extrema-direita.
Esta visão encara a Justiça não como um sistema cego, alheio aos réus, guiado por decisões objetivas e absolutas, mas como uma esfera de valores relativos e flexíveis, que variam ao sabor das conjunturas, dos personagens envolvidos e das estratégias políticas.
É evidente que a decisão do TSE levará em conta e interferirá na disputa entre as forças políticas, com profundas repercussões.
Essas considerações dos juízes, mesmo presentes, não têm sido evidenciadas pelas "fontes" da corte em seus vazamentos.
A exclusão de Bolsonaro das próximas eleições presidenciais, se confirmada, insere diversas incógnitas, com implicações que vão bem além do bolsonarismo. A decisão tem o potencial de alterar o quadro da disputa testemunhado nas duas últimas eleições presidenciais, com a disputa afunilada entre a extrema-direita e o pt, e a terceira via de fora.
Alterar esse quadro é certamente a esperança da quase totalidade da mídia conservadora, das elites econômicas e mesmo da cúpula do Judiciário.
A retirada da pessoa de Bolsonaro da disputa em 2026 terá impacto já desde agora. Pode dar a chance almejada para uma opção de terceira via oriunda de um governo estadual ou algum(a) ministro(a) que venha a se desprender do governo Lula.
Bolsonaro seria excluído não só da corrida eleitoral, mas também do noticiário e das pesquisas.
O fascista tentará catapultar um substituto como Tarcísio de Freitas ou a própria Michele, mas são alternativas cuja fidelidade extremista e chances eleitorais são ainda incertas.
Evidentemente, não há como garantir que as decisões do TSE tenham os resultados políticos que seus autores esperam, mas essa é tentativa.
Ao embaralhar as cartas, a direita tradicional avalia que será possivel não apenas afastar o bolsonarismo como ela mesma chegar ao segundo turno em 2026, com a perspectiva de se apresentar como o estuário de um sentimento antipetista e assim também derrotá-lo no mesmo embalo.
O êxito dessa espécie de feitiçaria vai depender, claro, da avaliação positiva que o governo Lula gerar junto à sociedade.
Dificilmente Lula, PT e aliados conseguirão resistir à tentação de escolher o adversário mais fácil de vencer.
Todos fazem isso.
Seja como for, o gostinho pela condenação não ocultará esse ingrediente de cálculo no julgamento. Sua repercussão terá efeitos imediatos sobre o ambiente e o tratamento dado ao governo Lula, mesmo que a sentença afaste candidato de disputa ainda tão distante.
Mario Vitor Santos é jornalista. É colunista do 247 e apresentador da TV 247. Foi ombudsman da Folha e do portal iG, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasilia da Folha.
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