Confissões de um bandido

Miguel das Beiradas sempre foi um bandido de carteirinha. Filho de uma família de classe média e muito ambicioso nunca escondeu seu desejo de ficar rico nem que fosse à custa dos outros.

​​​​​​​Professor Nazareno*
Publicada em 30 de outubro de 2017 às 10:08

Miguel das Beiradas sempre foi um bandido de carteirinha. Filho de uma família de classe média e muito ambicioso nunca escondeu seu desejo de ficar rico nem que fosse à custa dos outros. Hoje, administra um cabaré da periferia que tem muitas putas e a fama de sempre atender mal aos seus clientes. O dito puteiro sempre foi a salvação moral das famílias da redondeza e por isso conta com a permissão de todos para funcionar. Miguel não deveria ser o administrador daquele inferninho, mas através de suas artimanhas conseguiu chegar facilmente à liderança daquela Casa da Mãe Joana. É odiado por quase todos que vivem ali. Tem menos de três por cento de popularidade, mas insiste em ficar no comando daquele antro de perversão. Miguel e seus comparsas sempre acreditaram ser os salvadores do bordel, por isso não vão sair tão fácil dali.

Outro dia, muito irritado com algumas críticas, o bandido desabafou: “as senhoras da alta sociedade, alguns políticos, a mídia, os empresários, os reacionários em geral, a Igreja e muitas pessoas de bem bateram panelas para que eu assumisse o comando dessa zona e agora muitos começam a me fazer críticas”. E continuou: “a verdade é que este prostíbulo nunca teve organização, nunca teve justiça social, nunca teve preocupação com os mais necessitados e toda a riqueza que produziu sempre foi parar nas contas dos mais ricos, dos mais ladrões e dos corruptos, por que querem que eu faça o milagre de consertar as coisas em tão pouco tempo”? Questionou com certa razão. Ele ficará à frente do lupanar de quinta categoria mesmo que funcionários e clientes não aceitem. Não há, por enquanto, ninguém hábil para comandar aquele lugar.

Esse meretrício não terá jeito nunca. As quengas daqui são passivas demais, muitas vezes elas trabalham de graça e ainda têm que pagar pelos preservativos”, falou o escroque político com certo conhecimento. Realmente: no harém nada funciona. Ninguém contesta nada. Todo mundo é roubado, vilipendiado, humilhado e todos ficam à espera de um salvador da pátria que nunca chega. O mundo inteiro olha para o rendez-vous com ar de pouca credibilidade. “Eu vou mudar as leis deste putanato para colocar as coisas em ordem”, costuma bradar na mídia o impopular mandatário. “Darei incentivo ao trabalho escravo, cortarei empregos, venderei a preço de banana as riquezas que temos, diminuirei o salário de todos e criarei privilégios somente para os meus amigos”, costuma se orgulhar, certo de que nada vai lhe acontecer na Justiça.

E continuou: “todo mundo sabe que neste covil nunca houve justiça social ou qualquer outra coisa que beneficiasse os mais pobres e carentes, por que só agora me cobram essas sandices?”, questionou enfaticamente. Por se tratar de um inexpressivo conventilho de mundanas tudo ali funciona “a meia boca”. Os três poderes estão totalmente desmoralizados, os políticos desacreditados, em algumas partes o crime organizado manda no Poder Público, a baderna e o caos ameaçam tomar conta de tudo, o descrédito é geral, mas ainda assim não há a menor possibilidade de convulsão social. Nesta casa das tias, de acordo com a lei, só três coisas não se podem fazer: dirigir embriagado, se envolver sexualmente com menores de 18 anos e atrasar pensão judicial. O resto, em tese, é tudo permitido: roubar o Erário, desviar verbas da Educação, mentir para ser eleito e enriquecer ilicitamente. Em que outro bacanal ou motel se vê isso?

*É Professor em Porto Velho

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