CONSTELAÇÃO SOL. CONSTELAÇÃO LUA

E, ainda mais aqui nas Terras de Rondon, normalmente a noite, por mais escura que seja, é sucedida de radiante sol

Reginaldo Trindade
Publicada em 27 de junho de 2023 às 11:52
CONSTELAÇÃO SOL. CONSTELAÇÃO LUA

Depois de sofrer de depressão por longos anos, lançara o MOVIMENTO DOS DEPRESSIVOS CONHECIDOS (MDC) – O AMOR CURANDO A ALMA! e, desde então, não tivera mais qualquer recaída na doença – aqui entendida aquela recaída braba mesmo, quando ficava estirado no sofá, sem vontade de fazer qualquer coisa que não fosse ver filmes bizarros na televisão.

Na época em que esteve mais perto de sucumbir novamente, no começo de março de 2023, quando a terrível doença estava no seu pescoço, beirando o nariz, prestes mesmo a sufocá-lo, submetera-se a uma constelação familiar e, então, o universo operou a mágica na sua vida.

Sentia como se super-homem fosse. A sensação é que havia ressignificado a vida inteira; soterrando traumas e temores até da infância. A melhora veio acompanhada de ligeiro distúrbio no sono, mas logo superado também. Engraçado como bastou que deixasse de procurar, ansiosamente, pelo seu eixo para encontrá-lo.

A história parecia perfeita demais, maravilhosa demais, abençoada demais! Coisa para fazer inveja às melhores películas de Hollywood: após sofrer por longos anos de depressão, quando considerou-se vítima, em algumas ocasiões, de atos inomináveis; passou a se sentir abençoado por seu calvário, uma vez que fora o próprio Altíssimo, ao menos ele acreditava nisso piamente, que o escolhera para aquela missão e somente permitiu que ele sofresse, na medida mínima necessária para entender o sofrimento de uma pessoa com depressão, e, assim, idealizar e liderar um movimento que ajudaria centenas, quiçá milhares de pessoas em todo o mundo.

Quando ele entendeu o PROPÓSITO de Deus naquilo tudo, sentiu-se envaidecido e abençoado. Em meio a tantas pessoas, de certo que muito mais capazes e virtuosas, a Providência o escolhera para um sacerdócio daquela envergadura: comandar uma verdadeira guerra contra o Mal do Século.

O céu parecia ser o limite!

E fora mesmo. Ao menos por algumas semanas.

Passou a arraigar uma convicção que jamais sofreria de depressão de novo. Aliás, acreditou, do fundo do seu coração, que jamais sofreria do que quer que fosse. Traumas e temores da infância? Já era!!!! Crenças limitantes, nunca mais!!!!!

O nascer do movimento e a pronta procura por centenas de pessoas, todas sedentas de paz e serenidade, para si próprias ou para pessoas queridas, fez gerar nele, de fato, uma sensação estranha de que não poderia sucumbir; sensação que a constelação de março reforçou enormemente.

Ele não poderia mesmo sucumbir. Do contrário, como que o romantismo daquela história seria sustentado?

Uma pessoa, ao menos, chegou a advertir expressamente: “você não pode recair porque é você que sustenta o movimento”.

No entanto, ele jamais se colocara na condição de garantidor do que fosse; ainda mais em se tratando de depressão – ele bem sabia o quão insidiosa era a doença! Não atrairia, para os próprios ombros, um peso deste tamanho. Não seria, jamais, fiel da balança do movimento!

Ao contrário, criara o movimento na esperança de que pudesse ajudar, primeiramente, a si mesmo. É dizer, na época em que não estivesse bem, ele declararia o seu estado e, então, o movimento poderia ajudá-lo de alguma forma, nem que fosse como caixa de ressonância, para chorar e repercutir suas mazelas para iguais.

Mesmo assim, vaidoso como sempre fora, a ideia de que fora ungido pelo próprio Deus para, após anos de sofrimento, lançar um movimento, uma verdadeira “cruzada” contra o Mal do Século, e, a partir daí, nunca mais ter qualquer recaída, surgindo como um herói para salvar um mundo de doentes, parecia maravilhosa e romântica demais. Tentadora até.

Um enredo bem sedutor como este acabou seduzindo-o. Ele embarcou nessa viagem. Chegou até a referir-se a ela em sucessivas ocasiões.

A história teria sido perfeita demais se tivesse sido verdadeira…

Algumas semanas depois do Mágico Quatro de Março, data da primeira constelação, bastaram para o desafio da sua vida estar à espreita de novo, louco para colocá-lo de joelhos, prostrado no sofá, inerte, doente, aflito…

E aí ele foi confrontado, uma vez mais, com algo que, no fundo, já sabia: o fato de que não existe passe de mágica na luta contra a depressão! Ele percebeu a aproximação do inimigo. Ela chegara no posto de combustível da esquina do seu prédio. Depois, já estava na portaria do condomínio. Veio se aproximando; chegando, chegando, chegando….

Mesmo percebendo, nitidamente, a aproximação da depressão, por vaidade ou falta de coragem, ele deixou de falar, para quem quer que fosse, que a doença estava rondando, de novo, o seu coração. Não se abria nem mesmo para pessoas mais próximas. Nas pouquíssimas vezes que tentara fazer não recebera o acolhimento ansiado e, então, fechara-se ainda mais.

Dizer, então, nos vários encontros do movimento, que a depressão estava ameaçando voltar, nem pensar!

Sofria sozinho, calado.

O fiel da balança não estava sendo fiel ao juramento que fizera no dia 24 de janeiro, dia do nascimento do MDC: o de que nunca mais haveria de esconder a sua condição de quem quer que fosse…

Nunca se sentira tão solitário, tão abandonado...

Não raro, nós mesmos nos colocamos nessa condição de solidão e abandono.

É tão difícil pedir ajuda. É difícil até aceitar ajuda!

E talvez seja tão difícil pedir e/ou aceitar ajuda porque ela nem sempre é dada/oferecida da maneira correta.

As pessoas não sabem como lidar com alguém com depressão! Apresentam-se ávidas para apontar caminhos e soluções; isso quando não lascam os terríveis e cruéis lugares-comuns, do tipo “você não tem motivo para estar triste”, como se verdadeiramente precisássemos de razão para adoecer. A gente adoece. Ponto final.

Não se vai nem dizer alguma coisa sobre a maldade que as pessoas praticam quando afirmam que depressão é frescura, preguiça ou falta de Deus no coração porque aí já é demais. É doença, gente, que dói uma barbaridade, tanto quanto o mais purulento câncer.

Definitivamente, as pessoas não sabem mesmo como lidar com os depressivos. Não sabem e, às vezes, nem querem saber! Não se prestam a abrir um livro que ensine! Nem mesmo a ver um vídeo de poucos minutos na Internet elas se animam!

Pois, você, Caríssima Leitora, que me honra com a audiência, saiba que a abordagem de um depressivo, que, atreveria a dizer, serve, também, para qualquer transtorno emocional, envolve algo bem elementar: SABER OUVIR!

As coisas mais simples são as mais difíceis de entender.

Normalmente só precisamos de um ouvido amoroso e compassivo. Um ouvido que apenas ouça em vez de julgar; que não esteja ansioso por apontar caminhos, por mais “maravilhosos” que possam se apresentar; mesmo porque cada processo curativo é único, como única é cada dor e sofrimento. O que deu certo para um, pode não dar certo para outro.

Até porque, invariavelmente, o depressivo, ainda mais quando está em crise, só precisa de acolhimento. Basta a força de um abraço sincero, um sorriso, um tapa carinhoso nas costas, um colo não julgador, nem opressivo….

Já que a temporada de ensinamentos foi aberta, sem querer ser mais professoral do que, normalmente, já se é, tenham, por favor, mais uma coisa em mente.

O paciente de depressão é um doente como qualquer outro. O mesmo tratamento compassivo, paciente, amoroso que você dispensa (ou deveria dispensar) a um acidentado no hospital, a alguém com câncer ou mesmo às mulheres em TPM (isso mesmo, homens! As mulheres ficam num estado bem alterado nesta ocasião – sejam pacientes!), deve ser dado, mutatis mutandis, aos depressivos!

Como qualquer outro doente, o depressivo, sobretudo quando em crise e a depender da força e profundidade da recaída, fica extremamente sensível; querendo e precisando de ombro e colo amigos. Às vezes, poucos remédios e terapias podem substituir esse amoroso acolhimento num momento de desespero…

Para finalizar mesmo, ao menos a aula, não tentem entender aquilo que, não raro, até para o depressivo é inexplicável. Ou, quando visitam amigos e parentes acidentados ou cancerosos, vocês ficam investigando a razão das feridas e das dores? Não entendam, acolham! Preferencialmente, com AMOR e PACIÊNCIA.

Em sua solidão e abandono autoimpostos, ele prosseguiu. E a doença veio se aproximando. Cada vez mais.

Se ela ainda não estava em seu pescoço ou nariz, de certo que, quando menos, à porta de seu lar, só esperando um vacilo que fosse, um gatilho qualquer, para entrar e fazer a maldade que fosse possível; angustiando aquele coração que já havia sofrido tanto.

Era o começo de junho/23, exatos três meses após a constelação de março.

Em meados daquele (deste!) mês, curiosamente, aconteceria outro final de semana de constelação; terapia que seria dada pelo mesmo constelador que tanto o ajudara em março e pelo qual ele cativara uma consideração e respeito enormes.

Ele não pretendia participar da nova constelação, até porque estava muito mal mesmo. Até que, num rompante, originado de uma causa jamais admitida, resolveu movimentar-se. Quando a gente consegue movimentar-se é um excelente começo. Sinal que a depressão, ao menos aquela crise, está querendo partir.

Era domingo pela manhã, último dia da constelação.

O plano era terminar um artigo que há muito queria escrever. Começar e terminar, na verdade, já que, tirante algumas poucas ideias, nada mais havia…. O texto terminaria, dramaticamente, naquela tarde, nos últimos momentos da constelação.

Embora não fosse constelar de novo (não se recomenda constelar sucessivamente em tão pouco tempo – ao menos o constelador, que era muito profissional, não recomendou, isso ainda em março), queria que a sua fala se assemelhasse ao movimento ocorrido no Abençoado Quatro de Março em termos de apresentação e, sobretudo, de revigorar das energias.

Mas, não conseguiu terminar o artigo. Aliás, não conseguira nem mesmo organizar o discurso pretendido para a constelação. Não estava bem mesmo. Começara a sair da depressão, mas ainda estava longe de conseguir desvencilhar-se, de vez, da crise.

Mesmo assim, na hora programada, encheu-se de coragem e foi. Não era de deixar passar as oportunidades da vida. Agarrava o momento quando ele chegava. E o momento era aquela constelação.

Mas, imaginado ficou longe do ocorrido, como o céu da terra.

Se fosse para comparar, então, com o sucedido na primeira, seria como se fosse, a de março, uma constelação-sol, que tantas luzes trouxera, e a nova, a de junho, a constelação-lua, que, ao menos nas primeiras horas subsequentes, ameaçou trazer apenas trevas.

Se bem que a lua, de per si, não traz, necessariamente, trevas. Pelo contrário, a lua traz luz também. Quantos amores de uma vida inteira não foram forjados sob a luz do luar? Na verdade, para ficar bem claro, ele foi encoberto por uma escuridão dolorosa e terrível: a escuridão da doença em sua alma, espírito, coração.

Pois bem, sua fala na terapia, ao menos para os altíssimos padrões invariavelmente impostos por ele mesmo, foi horrível. Vacilante, amedrontada, confusa até. Foi, talvez, a sua pior fala dentre as dezenas que já produzira sobre o mesmo assunto em igrejas, escolas, entrevistas (mesmo aquelas concedidas ao vivo).

Não estava bem mesmo. Sentia-se pequeno, minúsculo, nanico.

A performance ruim e embaraçosa, no entanto, provocou uma reação inesperada dos presentes.

Gaguejante, ele havia deixado escapar sequer ter certeza do que exatamente pretendia ao participar, daquela forma, da constelação. Um suspiro talvez? Uma nova esperança, agora mais calcada na realidade da vida e do processo e menos romântica que a do começo de março, com certeza!

Então, um primeiro homem levantou-se e disse que sabiam do que ele estava precisando. Rapidamente outras pessoas se juntaram a ele. Todos abraçaram o depressivo. Todos o acolheram, à exceção do acolhimento mais ansiado…

Ele não recebera o acolhimento da pessoa mais importante, da pessoa que ele mais precisava, da única que poderia fazer a verdadeira diferença naquele processo todo – o que só aconteceria dias depois…

Sucedeu-se uma semana extraordinariamente incrível em que, para não ir muito longe na lista de bênçãos, fizera o primeiro jejum da sua vida (um jejum absolutamente singular, como era bem típico dele); começaram as visitas do MDC às pessoas cuja angústia e sofrimento eram tamanhos que ameaçavam desistir da própria vida; celebrara quase meio século de existência e, dentre tudo que aconteceu a propósito, ganhara um presente que o levara às lágrimas…

E, então, para quem, por longuíssimos anos, acostumara-se a chorar um choro tão sentido; ora sozinho, no recesso do seu lar solitário e coração angustiado; ora, na presença de terceiros, quando tinha que mascarar as lágrimas (ria por fora; chorava, para não dizer sangrava, por dentro); chorar de emoção pelo recebimento de um presente tão especial era algo assim…. simplesmente…. abençoado, de Deus!

É bom saber que somos amados. É bom saber que as pessoas se importam conosco. É bom saber que as pessoas, de vez em quando, surpreendem-nos e nos fazem emocionar. É bom saber que as pessoas amigas, para nos agradar, são capazes de fazer tanto...

Arraigara a convicção de que só não sucumbira na depressão, cuja época mais braba provavelmente aconteceu de janeiro/2019 a janeiro/2023, por dois fatores objetivos: sua paixão pela vida e a rede de pessoas amigas…

Era sexta, sábado ou domingo posterior à abençoada Constelação-Lua. Estava debelada a última crise de depressão (ou ameaça de depressão, se se preferir) que tivera.

Se o novo suspiro duraria os três meses da Constelação-Sol, três semanas ou três dias ele não fazia a mais mínima ideia – nem queria saber. A cada dia basta o seu sofrimento, não é mesmo? Isso é até bíblico!

Aprendera num lindo filme, assistido ao lado de uma pessoa muito amada, ao menos na ocasião, que “é complicado fazer previsões, principalmente quando elas dizem respeito ao futuro...”

Aos tantos que ainda sofrem, no recesso de seus corações, do Mal do Século, em especial às centenas de pessoas que já procuraram o MDC, MEUS QUERIDOS AMIGOS-IRMÃOS, como carinhosamente tenho me dirigido a eles, não façam o que eu fiz! Não deixem que a crise emocional chegue ao pescoço ou mesmo nariz de vocês para se movimentarem!

Ao menor sinal de recaída, busquem ajuda, esteja ela onde estiver. Vejam onde estão falhando; por que estavam bem e agora começaram a declinar. Reavaliem suas estratégias, reforcem terapias, voltem ao médico, tomem remédios, orem mais!

Façam o que for, mas tentem conter a crise antes mesmo de ela instalar, efetivamente, em seus corações. Sejam mais humildes, respeitem o poder e a insídia do Mal do Século. Não facilitem o trabalho maligno do inimigo.

Tenham bem em mente que não se cura depressão com passe de mágica; envolvendo, o processo terapêutico, uma sucessão de atos, todos eles tendentes a mantê-los afastados de sua dor, a ressignificá-la.

Constelação ajuda? Sim, com certeza. Ajuda uma barbaridade. Mas, ela, assim como qualquer outra terapia, atividade, movimento que você fizer, faz parte de um todo.

Tudo isso é esforço seu, num processo maior: complexo, cheio de altos e baixos, onde as recaídas fazem parte e toda e qualquer vitória, por mínima que seja, deve ser celebrada.

Tenham suas âncoras de sustentação, os pilares sobre os quais vocês tenham certeza absoluta que farão a diferença num momento de crise. As minhas principais são a fé em Deus, a paixão pela vida e a rede de amizades. Isso não me deixou sucumbir até agora e, de certo, vai continuar me protegendo.

Identifiquem as suas e busquem valorizá-las tanto quanto puderem.

Temos que ter fé na caminhada, mas não alimentar ilusões; e, acima de tudo, jamais desistir. Enquanto estivermos prosseguindo, estamos vencendo.

Para finalizar mesmo, tenham muito presente que toda noite, por mais longa e difícil que seja, uma hora termina.

E, ainda mais aqui nas Terras de Rondon, normalmente a noite, por mais escura que seja, é sucedida de radiante sol…

Que o Altíssimo continue nos ajudando a todos na caminhada...

REGINALDO TRINDADE

Procurador da República. Pós-Graduado em Direito Constitucional. Membro da Academia Rondoniense de Letras. Idealizador da Caravana da Esperança, do Bazar da Solidariedade, do Farol de Esperança – Resgatando VIDAS! e do MOVIMENTO DOS DEPRESSIVOS CONHECIDOS (MDC) – O AMOR CURANDO A ALMA! Doador do Médico sem Fronteiras, do Greenpeace e do Unicef – Fundo das Nações Unidas para a Infância. Colaborador da Associação Pestalozzi, da Casa Família Rosetta, da Associação Acolhedora Vencendo Gigantes (outrora Confrontando Gigantes), Associação Luz do Alvorecer e Casa de Peixotinho. Ser humano abençoado e em construção. Servo de Deus

Pós escrito. De minha parte, agora sim renovado para mais um período de distanciamento da depressão, que se sonha seja definitivo, seguirei meu caminho, cumprindo o PROPÓSITO.

Sinceramente, persisto com a mesma dúvida que me assaltava o coração no mágico dia 31 de Janeiro, dia da instalação do MDC, dúvida expressada na carta de nascimento do abençoado esforço: não faço a mais mínima ideia sobre a razão pela qual o Pai alçou à liderança desse movimento alguém tão falível: arrogante, soberbo, vaidoso, indeciso, fraco, medroso. E por aí vai…

No entanto, de certo que Ele, mais que qualquer de nós, não duvida da capacidade de um coração justo, repleto de sonhos. Ai de quem duvidar da força de um coração justo, repleto de sonhos…

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