Cores contagiantes das pinturas de J. Messias estão expostas em 28 telas na Casa de Cultura Ivan Marrocos
Chama-se “As cores a serviço da arte” a exposição do artista plástico J. Messias. Até o próximo dia 14 o público poderá ver, na Casa de Cultura Ivan Marrocos, cores com muita luminosidade, reflexos, fundos diferenciados e contrastes.
A curadora Ângela Schilling e o artista plástico J. Messias
O artista plástico pernambucano J. Messias é um homem de fé. Enquanto as pessoas ouviam música, bebiam ou dormiam em redes, durante uma viagem de barco entre Porto Velho e Manaus ele orava o tempo todo. “Fiz isso, porque sou grato a Deus pelo cenário que muito me inspirou na pintura de quadros com motivos amazônicos”, destaca.
Sua mostra denominada “As cores a serviço da arte” irá até o próximo dia 13 de julho na galeria Afonso Ligório, na Casa de Cultura Ivan Marrocos, no centro de Porto Velho.
José Messias, pai de duas filhas, tem 64 anos e aprendeu sozinho a profissão, observando ruas e igrejas de Olinda e do Recife. Algumas telas mostram homens e palhaços gigantes que ele conheceu ainda menino, transportando-os da memória já em Porto Velho.
“Nasci em Porto de Galinhas e decidi adotar a temática do preenchimento de todos os espaços de um quadro, mostrando cores diversas; procurei não imitar ninguém, não seguir nenhum estilo de época, nem escola de arte”, detalha.
Assim, 55 anos atrás, começou a desenvolver sua própria técnica para produzir, por exemplo, o quadro “As cores fortificam a paz”.
Em misturas aplicadas ao acrílico e óleo sobre tela, J. Messias tem produção admirável. Os 28 quadros de sua atual mostra foram todos produzidos em 2019. Pássaros e peixes soltos por todo o quadro mostram o índio com o pilão, no qual soca e mói grãos alimentícios. “A emoção”, outro quadro, expõe a cabocla morena de longos cabelos, com a pomba branca em seu ombro esquerdo.
Sentado na mesinha à entrada do salão, onde as pessoas assinam o livro de visitas, ele explica cada uma de suas motivações. Pergunta: “Tem peixes mais bonitos que estes?”. E caminha para apresentar sua exposição na qual também se vê a cara do Brasil: uma vendedora vestida de chita, olhos esverdeados, outra com moringa na cabeça, e a negra de olhos castanhos.
A predominância dos olhos femininos é o verde, mas no quadro “Vidas entre o colorido” ele pintou uma mulher com olhos azulados.
“A curadora recebeu ligações de uma senhora da Alemanha, que se interessou pelo floral multicolorido e pediu fotos”, diz.
“Além de usar com maestria as cores, J. Messias é um artista com um coração brasileiro, mostrando sempre temas regionais, do nosso folclore, com detalhes preciosos, brilhantemente colocados, encantando nossos corações”, opina a artista plástica, professora e curadora Ângela Schilling. “Seja como for, ele nos inspira para o melhor em cada um de nós”, ressalta.
Lembrando o artista e cientista Bruno Tausz, a curadora explica que as cores influenciam umas às outras. “É a interinfluência”.
Margot Paiva, diretora da Casa de Cultura
Segundo Ângela, nas pinturas de Messias percebem-se cores vibrantes nas quais ele usa muito bem todos os aspectos dessa interinfluência: fundos diferenciados, luminosidade, reflexos, contrastes, entre outros.
Considerando-se, definitivamente, dono do próprio estilo, J. Messias lembra a transição: “Depois que surgiu a máquina fotográfica, as artes plásticas precisaram seguir seu próprio caminho, e o movimento modernista* veio, então, com a tentativa de pôr fim à arte acadêmica”.
Na visão do artista, atualmente esse estilo não entra mais no salão, onde se expõe arte contemporânea. E foi por ela que recebeu três prêmios na competição estadual: 1º lugar em cultura (1997), e menções honrosas (1998 e 2017).
No início dos anos 1990, exposições em Porto Velho vendiam acima de 20 quadros. “Eu fui campeão de vendas, sempre agradava”, conta.
Os preços dos quadros de J. Messias variam de R$ 400 a R$ 1,5 mil.
Sereno em suas considerações, ele se entrega ao que faz, colocando acima do dinheiro, a semente do conhecimento de crianças e adultos frequentadores da Casa de Cultura. “Que tal o apoio do governo à maior participação do artista do interior em eventos na capital?”, sugere.
Preocupa-lhe a situação de escolas públicas que ainda não estimulam alunos a frequentar esse ambiente. Acredita que isso se deve à falta de um meio de transporte. “Penso que a Secretaria de Educação poderia requisitá-lo. Um ônibus ajudaria consideravelmente”, propõe.
Para levar seus quadros até a casa, ele investiu R$ 100 na viagem de ida e outros R$ 100 investirá na volta.
Esta semana, o artista recebeu com alegria uma turma de estudantes de História da Universidade Federal de Rondônia (Unir).
* Modernismo: chama-se genericamente modernismo o conjunto de movimentos culturais, escolas e estilos que permearam as artes e o design da primeira metade do século XX. Apesar de ser possível encontrar pontos de convergência entre os vários movimentos, eles em geral se diferenciam e até mesmo se antagonizam.
As cores a serviço da arte
Local: Casa da Cultura Ivan Marrocos
Avenida Carlos Gomes nº 563 Bairro Caiari
Horários: 8h às 17h30 (segunda a sexta-feira); aos sábados, das 9h às 14h.
Entrada: gratuita
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