Cristianismo armado

"O ataque a granadas e tiros de fuzil de Roberto Jefferson aos policiais ilustra o 'cristianismo' praticado pelos bolsonaristas", diz Paulo Henrique Arantes

Paulo Henrique Arantes
Publicada em 26 de outubro de 2022 às 11:20
Cristianismo armado

Roberto Jefferson (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

O ataque a granadas e tiros de fuzil de Roberto Jefferson aos policiais federais ilustra o “cristianismo” praticado pelos bolsonaristas. Já se lembrou que o revide a balas foi anunciado por Jair em hipotético - e hoje provável - cerco policial que venha a sofrer. Um e outro apregoam pieguices falsamente cristãs diuturnamente. De arma na mão.

A tarefa cristã, por sacerdotes ou fieis sem posto eclesiástico, de levar o Evangelho a todos cantos tem respondido ao longo dos séculos pelo conforto espiritual de muita gente, pessoas cujo desespero e a descrença lhes poderiam ser fatais, roubando-lhes o discernimento e lançando-os no vazio do ceticismo. 

Paralelamente, o engajamento cristão em ações concretas de cunho social, de combate às gritantes injustiças que persistem em nossa História, como praticado pelo Padre Júlio Lancellotti, constitui a mais efetiva das missões religiosas: olhar de modo indignado e denunciar a crueldade de políticas econômicas exclusivas, a insensibilidade dos detentores do poder - e do dinheiro - perante aqueles que comem lixo e dormem sob viadutos.

Esse é um papel político louvável dos religiosos, cujo múnus pastoral requer a coragem de participar da contenda eleitoral exigindo dos candidatos que assumam compromisso com a reversão do quadro de miséria que parece cada vez mais predominante no Brasil. A CNBB fez isso.

No Brasil convivem religiões diversas, num ecumenismo que sugere fraternidade e respeito. Tal característica brasileira está sendo vilipendiada por uma distorção aberrante levada a cabo por pastores evangélicos e por figuras esdrúxulas como o tal Padre Kelmon. A questão nesta semana saiu um pouco do foco, obnubilada pelo caso Jefferson, mas certamente no domingo saberemos quanto o falso deus bolsonarista influenciará o resultado das urnas. 

Deus como peça de fake news grosseiras e criminosas - assim Jair e equipe praticam seu cristianismo.  Ataca-se o outro com vileza por sua crença ou pela falta dela, imputam-se ao adversário palavras nunca ditas, descontextualizam-se posicionamentos passados, pintam-se o contendor e seus seguidores com as cores do demônio.  A era das mentiras forjadas para destruir reputações não vê limites e, nesta quadra tenebrosa, consolida-se mediante o duo Bíblia e bala.  

O caldeirão de falsa religiosidade em que a campanha eleitoral foi jogada aceita tudo, desde promessa de salvação a quem votar em determinado candidato até inculcação de temor por eventual vitória do demônio, encarnado em certo postulante.

Paulo Henrique Arantes

Jornalista, com mais de 30 anos de experiência nas áreas de política, justiça e saúde.

Comentários

    Seja o primeiro a comentar

Envie seu Comentário

 
NetBet

Envie Comentários utilizando sua conta do Facebook