Da passarela ao Jeca Tatu

Em tempos de campanha eleitoral, a cidade inaugura mais uma obra sem importância para seu sofrido e alienado povo.

Professor Nazareno*
Publicada em 06 de abril de 2018 às 09:30
Da passarela ao Jeca Tatu

Finalmente as obras do Espaço Alternativo de Porto Velho foram inauguradas após muitos anos de demorada construção, desvios de recursos públicos e da prisão de algumas autoridades responsáveis por aquele inútil elefante branco que é uma daquelas obras eleitoreiras e imprestáveis que não servem para absolutamente nada. O ex-governador do Estado, Confúcio Moura, e agora possivelmente candidato, de novo, a alguma coisa vaticinou que a passarela certamente será a atração da capital da fedentina. Disse que o cenário é adequado para fotografias. “Essa passarela será uma de nossas referências. Porto Velho já é reconhecida pela Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, pelo rio Madeira, e agora pela passarela”, afirmou. Em tempos de campanha eleitoral, a cidade inaugura mais uma obra sem importância para seu sofrido e alienado povo.

Confúcio, no entanto, convenientemente não se lembrou de que a EFMM é hoje um amontoado de ferro velho retorcido apodrecendo vergonhosamente no meio do mato. Muitas locomotivas e peças do acervo histórico desaparecem impiedosamente sob a ferrugem e o olhar complacente e acomodado dos rondonienses mais telúricos e que os galpões da velha ferrovia, a “mãe de Rondônia”, foram invadidos e praticamente destruídos na cheia histórica de 2014 sem que ninguém tivesse sequer a coragem para impedir o avanço lento das águas barrentas do enfurecido rio Madeira. O ex-governador é otimista demais para afirmar que o velho e estuprado Madeira ainda é uma das atrações de Porto Velho. Após as hidrelétricas, as bombas em seu canal e de toda a sorte de agressões e poluição, o rio nem madeiras tem mais em seu assoreado e sujo leito.

A suja e fedorenta capital dos rondonienses não devia ter outro símbolo senão um saco de lixo cheio de tapurus na entrada da cidade devido à total inexistência de rede de esgotos e de água tratada para os seus moradores. Governador nenhum, nem mesmo o Confúcio em seus longos oitos anos de mandado, deu este presente para os porto-velhenses. Até o “açougue” João Paulo Segundo, mote de campanha do ex-prefeito de Ariquemes, não mudou a cara neste período. No início do seu governo, a Globo esteve aqui fazendo matérias sobre o caos na saúde. Mas nada mudou. O único hospital de pronto socorro de Porto Velho em 2011 era uma espécie de campo de concentração onde só se internavam os mais necessitados. Depois, continuou como um campo de extermínio de pobres. Realidade cruel: Quem tem algum dinheiro, quer distância dali.

Em vez dessa absurda “montanha-russa do atraso” que não serve para nada, Confúcio deveria ter melhorado as instalações do João Paulo Segundo, ter construído um verdadeiro Hospital de Pronto Socorro ou mesmo ter investido essa dinheirama toda em escolas de tempo integral. Porém teria um problema: os mais de 500 mil matutos de Porto Velho não veriam a obra e poderiam ficar aborrecidos com o político. Só que sem aquele trambolho ridículo, que não significa coisa alguma, as pessoas continuarão caminhando normalmente. Confúcio sai e ainda nos deixa o velho “açougue” da zona sul de Porto Velho. A sua “Nova Rondônia” foi um fiasco do começo ao fim. E pior que há a terrível possibilidade de se instalar de novo nestas longes terras o “Império da Roça” de Ivo Cassol e sua turma. Enquanto não vem a chuva de merda, tanto um quanto outro deveriam fazer ali no Trevo do Roque uma estátua de cem metros do Jeca Tatu.

*É Professor em Porto Velho.

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